domingo, 16 de dezembro de 2012

Liv e Ingmar - Uma História de Amor

“Liv e Ingmar- Uma História de Amor”- “Liv & Ingmar” Noruega, 2012 
Direção:Dheeraj Akolkar

Quando o filme começa, vemos um jovem Ingmar Bergman (1918-2007) dirigindo uma cena de um de seus filmes:
“- Silêncio, por favor, rodando.”
Aparece na tela:
“Esta é a história de cinco décadas, sobre dois amigos. Uma atriz lendária e um mestre da cinematografia.”
E o nosso envolvimento começa a crescer, a ponto de querer que algumas imagens congelem na tela para poder desfrutar da beleza e da intensidade que passam.
Porque “Liv e Ingmar” não é um simples documentário. É a história afetiva de uma relação que cria arte quando imita a vida.
No litoral da Suécia, a casa na ilha de Faro, moradia do casal durante os cinco anos de seu casamento, se oferece à câmara que vem do exterior e entra por uma janela. Lá dentro, quietude, simplicidade e conforto nas madeiras e couros do mobiliário. A memória se espalha pelas fotos do casal nas paredes.
Acontece o primeiro close do rosto de Liv Ullmann, 74 anos, envelhecido e belo, onde brilham olhos de um azul raro. Ela conta:
“- Eu tenho tantas lembranças da ilha... Lá eu atuei, dirigi filmes, meus melhores amigos estão enterrados lá. Por um tempo, foi a minha casa. E lá encontrei Ingmar. Ele mudou a minha vida.”
Com amor e humor, Liv Ullmann revê sua vida diante da câmara de Dheeraj Akolkar, diretor indiano radicado em Londres, durante dois dias. Ele acrescentou à essa entrevista excepcional, trechos dos filmes de Bergman que fazem uma ponte com o que Liv conta e partes do livro dela, “Changings”.
Ficamos íntimos do casal, graças à generosidade com que Liv fala de sentimentos, descobertas e mudanças internas que experimentou na casa da ilha de Faro.
Ela, com 26 anos, apaixonou-se por ele, com 46 anos, durante a filmagem de “Persona” de1966. E, no desenrolar cronológico do documentário, Liv visita tópicos do seu relacionamento com Bergman. Amor é o primeiro:
“- Era como se eu estivesse vivendo entre paredes macias. Nenhum verão jamais foi igual a aquele...”
As cartas de Ingmar para ela são lidas por uma voz emocionada (Samuel Froler):
“-Por favor, fique comigo. Me abrace e me prenda em sua feminilidade e carinho.”
E Liv diz:
“- Eu precisava de carinho e ele de uma mãe que o amasse sem complicação. Sua fome de convivência era enorme.”
E ela conta do sonho que ele teve com ela, onde estavam “conectados dolorosamente”. E nesse lugar da ilha, onde ele contou o sonho para ela, foi construída a casa.
E outros sentimentos aparecem descrevendo essa história de amor: solidão, raiva, ciúmes, dor.
Tiveram uma filha mas se separaram:
“- O que eu levei embora comigo não foi a beleza da ilha. Parti com a solidão na minha mala e com o sentimento de que algo em mim mudara para sempre”.
Mas a palavra “longing”, traduzida por saudade, aparece na tela negra. E amizade é o tópico seguinte:
“- Durante um tempo estivemos conectados dolorosamente. Mas só quando terminou é que nos tornamos amigos de verdade”.
E quando a câmara mostra as cartas dele, com corações vermelhos, testemunhamos o lado macio da personalidade dele.
O “diário” dos dois, corações pintados na porta branca e que ele refazia até a sua morte em 2007, é o pano de fundo para Liv contar o que Ingmar lhe disse a respeito do sucesso dos filmes dele:
“- Tem a ver com você também. Você é o meu Stradivarius.”
E com os olhos brilhando confessa que foi o maior elogio que ouviu em sua vida.
E os olhos de Liv brilham porque uma história como a deles é para sempre.
Na plateia, estamos mudos e comovidos. Porque quanto mais íntimo, mais universal é o sentimento.

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