domingo, 29 de setembro de 2019

Ad Astra - Rumo às Estrelas




“Ad Astra – Rumo às Estrelas”- “Ad Astra”, Estados Unidos, 2019
Direção: James Gray

Tudo se passa num futuro mais ou menos próximo. Na tela luzes vermelhas, amarelas e verdes e um perfil etéreo e sombrio.
Brad Pitt é Roy McBride, major, engenheiro espacial, que fala em “off”, para si mesmo, que sempre quis ser astronauta. Passa por uma investigação de sua estabilidade mental. Está calmo, pulso normal. Diz para si mesmo que não vai pensar em coisas importantes. Precisa focar somente no que é o mais importante.
Está na Estação Espacial e aparece escalando uma torre enorme, quando percebe os efeitos de uma sobrecarga no sistema, que causa explosões.
Atingido, ele rola no espaço. Abre o paraquedas. Mas cai muito rápido. Pessoas correm para ajudá-lo.
Roy está num quarto escuro e se lembra de algo:
“- Tenho um lado destrutivo, é o que ela dizia...”  Quem é essa mulher?
Ele é convocado para uma reunião, aparentemente por causa do acidente:
“- Vai ser um choque para você. Mas seu pai pode estar vivo em Netuno. Já faz muito tempo que ele desapareceu. Mas agora, essa sobrecarga pode indicar que pode ser ele que a causa com a antimatéria que era o combustível da nave dele na Operação Lima. ”
E. para investigar essa hipótese ele é mandado para a Lua, num voo comercial, para não despertar curiosidade. Sua missão é ir para Marte e depois Netuno, para procurar o pai, que acreditara poder descobrir vida inteligente fora da Terra.
Num “tablet” ele revê o pai apostando nisso, em Netuno:
“ - Fico pasmo ao sentir a presença de Deus tão próximo... Adeus filho! ” São palavras estranhas.
Parece que a mente de Roy está sendo sondada como tinha sido o universo por seu pai. Aos militares ele informa que está inteiramente envolvido no seu ofício. Diz que renunciou à família para poder estar preparado para a solidão no espaço.
Mas esses ataques de “sobrecarga” que o pai enviaria para a destruição da Terra não combina com o que estamos presenciando. Afinal o pai de Roy não era um herói?
Mas as imagens na tela são maravilhosas e originais. E os “closes” no rosto de Brad Pitt são intensos e longos.
Será que essa história toda deve ser lida ao pé da letra? Ou estamos às voltas com um conflito interno e sondando as profundezas da mente de Roy? O certo é que há mesmo um problema dele com esse pai. Herói ou inimigo? O universo e seus mistérios se fundem no filme com os conflitos e sua profundidade na mente infantil de Roy que acha que o pai o abandonou.
Mas não importa qual seja a interpretação de cada um para a motivação de tantas aventuras. O que importa é ver o filme em sua grandiosidade, imagens criativas de solidão, cenários onde se movem inimigos sem rosto e confrontos de um homem com sua parte animal.
James Gray, numa direção impecável e Hoyte Van Hoytema, talentoso diretor de fotografia, fizeram um trabalho primoroso, produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira.
Brad Pitt cria um personagem atraente em seus diálogos consigo mesmo e encontros com o desconhecido que o habita. Principalmente nos “closes” lemos em seu rosto expressivo os conflitos de um ser humano que sofre. Ele vai ter que afundar para poder submergir.
Liv Tyler faz o papel da mulher dele, sempre distante mas esperando por ele. Tommy Lee Jones, um ótimo ator, é o pai de Roy, um fantasma atormentado.
“Ad Astra” mostra uma viagem que pode ser para fora da Terra ou para dentro de si mesmo. Entretanto, de qualquer maneira que se compreenda o filme, vale a pena ir junto com Roy/ Brad Pitt nessa viagem surpreendente.




segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Branca como a Neve



“Branca como a Neve” – “Blanche comme Neige”, França, 2019
Direção: Anne Fontaine


Se os irmãos Grimm vissem o que fizeram com a Branca de Neve... Pois foram eles que recolheram da tradição oral alemã esse conto de fadas e o publicaram junto a outros, no início do século XIX.
Quanto ao filme de Anne Fontaine, alguns vão ter uma reação crítica, enquanto outros poderão até se entreter com essa interpretação da diretora e roteirista que também nos deu “Coco Avant Chanel”, “La Fille de Monaco”e “Gemma Bovery”, entre outros filmes.
E não é a primeira Branca de Neve no cinema. Houve o  desenho da Disney de1937, Kristen Stewart padeceu sob Charlize Theron e agora é a bela e pálida Lou de Laâge que faz Claire, branca como a neve, pura e inocente até que a madrasta Maud, nada menos que Isabelle Huppert, faz a famosa pergunta a si mesma, não ao espelho. E quem é a mais bela?
Aliás é através do vidro da janela que a também bela e perversa viúva do pai de Claire, vê seu amante, o diretor geral do hotel que pertencera ao marido morto, de conversinha com a garota.
Vestindo um terninho vermelho cor de sangue, ela ia dispensar o amante. Mas o ciúme e a inveja envenenaram seu coração. E a sentença de morte é dada.
Claire é sequestrada e se salva de um acidente de carro que mata a outra malvada, íntima de Maud.
Ela está numa floresta escura e é salva por um local, Pierre (Damien Bonnard) que a abriga na casa dele e de seu irmão gêmeo, François (o mesmo Bonnard). Lá habita também um violoncelista problemático, Vincent (Vincent Macaigne).
Pois bem. Essa Branca de Neve não precisa que ninguém a beije e case com ela. Ela mesma descobre rapidinho o que é o desejo. E aproveita a vida com seus amigos da aldeia vizinha e com os gêmeos. Com o violoncelista ela toca violino. Amor platônico.
Ao invés de anões, homens seduzidos pela beleza e sensualidade de Claire.
Mas, por mais que Claire se divirta e exagere nos gemidos de prazer, quem rouba a cena sempre que aparece, é a madrasta. Isabelle Huppert, inacreditáveis 66 anos, sempre com um batom cor de sangue e roupas com belas estampas onde também predomina essa cor, faz com uma ponta de ironia, a bruxa da história.
Eu diria que o filme tem até passagens divertidas mas vale mesmo pela presença da Huppert. Aliás tudo que ela faz no cinema ou no teatro é bom e merece ser visto. Mesmo que seja a bruxa da Branca de Neve.


sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Adeus à Noite




“Adeus à Noite”- “L’Adieu à la Nuit”, França, Alemanha, 2019
Diretor: André Téchiné

Brancas flores de cerejeiras enfeitam o cenário do sul da França onde vemos Muriel (Catherine Deneuve tão bela quanto ótima atriz) e seu braço direito Youssef
(Mohamad Djouri), que passeiam no pomar da fazenda dela, onde se criam cavalos num haras, com um centro equestre.
Com pesar encontram uma das árvores destruída.
“- Foi um javali... Temos que tomar providências...” diz Muriel.
Mas logo, outro susto. Um eclipse total do Sol faz o dia virar noite. Os dois incidentes são como que um sinal de mau augúrio nessa história.
Estamos no primeiro dia de primavera e o neto de Muriel, Alex (Kacey Mottet Klein), veio visitar a avó antes de partir para uma longa estadia no Canadá. E conhecemos sua namorada, Lila (Oulaya Amamra), jovem e bela de ascendência árabe.
Deduzimos que seja muçulmana porque veste uma roupa para nadar no rio.
E começa um estranho diálogo entre eles:
“- Você faz o quê se eu morrer?” pergunta ele.
“- Ficarei orgulhosa”, responde ela.
Entendemos melhor essas frases quando a avó abraça Alex que chega na fazenda com um jeito amoroso, para logo depois flagrá-lo orando em árabe num pequeno tapete:
“- Me faço perguntas... não sabia que era religioso...”
“- Agora sabe. Faz um mês que me converti ao Islã. Lila me ensinou que existe vida depois da morte. É a que conta.”
Percebemos a avó preocupada com o neto. Faz perguntas a Lila e fica sabendo que ela é convicta de suas ideias e críticas contra a cultura ocidental que ela considera materialista e corrupta. 
Alex parece nervoso e irritado quando o vemos ir ao cemitério para jogar no mar todas as flores e enfeites do túmulo de sua mãe. Ele discute com Muriel culpando o pai pela morte da mãe, apesar da avó dizer que foi um acidente.
Não sabemos o porquê. Mas por isso ou por aquilo, jovens europeus estão enganando a família e viajando para Istambul de onde seguem para lutar com armas na Síria.
É difícil lidar com o fanatismo e a cegueira que levam os jovens a pegar em armas e a morrer pela causa islâmica.
À noite, espingarda na mão, Muriel se vê diante do javali.
Os dois se olham mas ela não atira. Está paralisada pelo perigo que sente que seu neto vai enfrentar.
Quando ela lê a carta de despedida que ele deixou no quarto, fica realmente assustada:
“Vou a caminho da luz pois estou pronto para dizer adeus à noite.”
André Téchiné,76 anos, famoso cineasta e roteirista  francês, inspirou-se num livro de David Thomson que reúne várias entrevistas sobre esse caso dos jovens cujo destino é a Síria, “Les Français Jihadistes” de 2014. Téchiné também tenta compreender um pouco mais sobre o sucesso dos recrutadores da internet.
Na história de Alex, a morte prematura da mãe, o pai visto como sendo o assassino dela na visão equivocada do filho, a influência de Lila, amiga de infância e agora sua mulher, explicam em parte porque ele se tornou um guerreiro islâmico fundamentalista. Uma coisa que o também muçulmano Youssef, braço direito de Muriel, diz que suja o nome da religião muçulmana.
Alex recusa o mundo real em que vive e vai partir para um destino terrível.
Téchiné não tem respostas prontas para esse suicídio da juventude. Ninguém tem.
“Adeus à Noite” é uma denúncia.


domingo, 15 de setembro de 2019

Vision



“Vision”- Idem, Japão, França, 2018
Direção: Naomi Kawase


Uma floresta de cedros, muito verde no verão, vermelha no outono, com altas copas de árvores, esconde um rio e uma aldeia minúscula e encobre um mistério, que envolve a natureza e a humanidade. Parece que lá existem plantas medicinais colhidas pelos locais dentro de uma antiga tradição.
Chegam de trem na floresta de Nara, a francesa Jeanne (a bela e expressiva Juliette Binoche) e uma acompanhante. Ela escreve ensaios sobre viagens e olha a paisagem com olhos de encanto e procura.
Jeanne espera encontrar ali, onde pouca gente vive, uma planta lendária chamada “vision”, que traria conforto à fraqueza, angústia e dor dos homens.
O ritmo do filme é lento e pode aborrecer quem não admirar as belas fotografias da natureza, imagens capturadas pelo estreante e inspirado Arata Dodo. Porque a maior atração do filme, além da Binoche, é transportar a plateia para um lugar encantado, cuja paz só é interrompida por lenhadores e caçadores raros. Ou seja, a presença humana.
Naomi Kawase, uma das mais prestigiadas cineastas do Japão, conseguiu convencer uma das mais famosas estrelas do cinema a trazer seu belo e expressivo rosto para construir uma personagem complexa, que não é só a jornalista que ela diz ser. Assim, ouve-se um velho habitante da região, referir-se a uma cientista estrangeira que visitara a floresta há 20 anos atrás. O certo é que Jeanne procura pela planta. Quer consolo sobre algo em seu passado? É o que intuímos por imagens passadas rapidamente na tela.
Jeanne vai viver ou reviver um amor que aconteceu em sua juventude. Tudo volta à sua mente e ao seu coração quando encontra Tomo ( Masatochi Nagase), um homem solitário e seu cão. O aparecimento de um jovem perdido e ferido, Rin, aprofunda laços entre eles, formando uma trindade benfazeja.
Há uma leitura possível do filme que nos leva a pensar em como o destino destrutivo da humanidade, com suas guerras e agressividades, caminha sempre para um renascimento. A planta que marcaria esse reinício do ciclo seria uma metáfora para o instinto de vida que não é inimigo do instinto de morte, mas seu complementar.
A velha Aki (Mari Natsuki) que diz ter 1.000 anos, é cega e parece ser um espírito da floresta. Ela reconhece Jeanne e a esperava para que tudo acontecesse como tem que acontecer. A vivência do ciclo natural sem dor nem angústia. A morte como uma passagem para a vida.
A floresta vai ensinar esse conhecimento. O fogo traz a água e tudo volta a viver.
Mas quem se encanta com o jeito de Naomi Kawase contar histórias, como fez nos  seus filmes de maior sucesso “Sabor da Vida” 2015 e ”Esplendor” 2017, não vai entender direito esse roteiro dela com cigarras, números primos, aceleração da vida que tem que ser destruída por si mesma a cada 997 anos e a planta regeneradora.
Quem quer tudo explicadinho não vai gostar. Quem admira o Japão, a Binoche e curte a natureza vai sair pensativo do cinema. Como eu.


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Quem Você Pensa que Sou?



“Quem você pensa que sou?”- “Celle que vous croyez”, França, Bélgica, 2018
Direção: Safy Nebbou


Existe uma idade terrível na vida de uma mulher. Por mais carismática e ainda bela que ela seja, passa a ser invisível para os homens. Essa ferida narcísica é vivida com muita frustração e pode ser superada, dependendo de como ela se posicionar frente ao fato.
A história de Claire vai encenar vários aspectos desse momento tais como sentimento de rejeição, ciúmes, vontade de ser admirada, cuidada, auto destrutividade e sabotagem interna.
Ela (Juliette Binoche, sempre diva) é professora universitária e suas aulas sobre literatura são sedutoras.
Tem uns 50 anos, recém divorciada de um casamento de 20 anos e dois filhos.
Quando a vemos pela primeira vez, em close, seu belo e expressivo rosto afunda na água, causando apreensão porque mostra um conflito interno difícil de ser vivido.
Ela estava em terapia com um psicoterapeuta que adoeceu e a encaminhou para a dra Bormans (Nicole Garcia, perfeita).
De cara, Claire pede para mudar seus horários. Manipulação? Dificuldade em falar de algo em sua vida? Reclama que é tedioso ter que contar tudo de novo. Ela quer sentir em que terreno pisa?
“- Pensava que você fosse mais jovem...” diz para a terapeuta que deve ter a mesma idade que ela. A preocupação com o tema já aparece.
Com os cabelos molhados, depois do amor, ela se deita na cama com Ludo (Guillaume Gouix), fotógrafo bem mais jovem do que ela. Parece que ele não leva a sério essa relação, mas ela se agarra a ele como se fosse sua tábua de salvação.
Quando Ludo some, ela liga para ele e quem atende é Alex (François Civil), assistente e amigo dele, que o protege do assédio de Claire.
Nesse momento ela conta para a terapeuta que criou uma personagem fictícia, um avatar na rede e que tentou pedir amizade a Ludo. Rejeitada, procura entre seus amigos e descobre Alex. Dá um like em suas fotos e, assim, começa algo que mais tarde irá explicar o que se passa com Claire.
Muito perturbada, Claire vai se tornando a garota de 24 anos que criou para atrair Alex. São longos papos no celular e promessas de felicidade. Mas quem é Clara? Só Claire é quem sabe.
“- Nunca me senti tão bem. Eu tenho 24 anos” diz Claire, os olhos brilhando de novo, atrás dos óculos de armação negra.
Safy Nabbou, diretor francês de 51 anos, adaptou o romance de Camille Laurens com Julie Peyr e conta uma história de amor idealizado, de ambos os lados do celular e dos textos na internet, que envolve os dois participantes com emoção vibrante.
O ritmo do filme segue as confissões de Claire/Clara e mantém o espectador atento e curioso.
A plateia se envolve dessa maneira porque Juliette Binoche está melhor do que nunca nesse esconde-esconde mostrado em closes nesse rosto belo e perturbado.
“Quem você pensa que sou?” é um filme atraente, que não fica só na superfície dos personagens. Além disso tem suspense e surpresas que envolvem a plateia e despertam até identificações.
Muito bom.


sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A Tabacaria



“A Tabacaria”- “The Tobacconist”, Áustria, Alemanha, 2018
Direção: Nikolaus Leytner


O fundo de um lago de águas verdes é a primeira imagem que vemos. O jovem Franz (Simon Morze), está entre os galhos submersos e encontra um caco de vidro verde que leva consigo quando sai correndo da água, assustado com a tempestade de raios e trovoadas.
Sua mãe (Regina Fritsch) e o homem dela fazem amor encostados ao tronco de uma grande árvore. O sexo e a morte estão presentes na cena, quando o homem forte e viril, que tantas vezes nadara naquele lago em Attersee, afunda fulminado por um raio.
Não há outra saída. A mãe não pode mais sustentar o filho. E pede a ele que vá para Viena onde um outro homem de sua vida, dono de uma tabacaria (Johannes Krisch), o acolheria.
Vamos acompanhar Franz, que tem 17 anos, em suas descobertas sobre a vida e si mesmo, no fim dos anos 30, quando tristes acontecimentos se sucedem na Alemanha e logo atingem toda a Europa.
Quando sai do trem na estação em Viena, uma senhora o aborda:
“-  O que faz em Viena? São tempos difíceis... Por que não volta para a casa?”
Era um mau sinal. Mas Franz ainda não sabe de nada. A tabacaria vai ser uma escola de vida para ele.
O açougueiro vizinho é o primeiro a atacar a tabacaria, mostrando que os simpatizantes de Hitler e do nazismo estavam presentes e ativos em Viena. E não perdoavam quem acolhesse judeus e comunistas, clientes da tabacaria.
O mais famoso dos apreciadores de charutos na cidade era um judeu, o Professor Sigmund Freud. Franz se aproxima dele querendo que o velho senhor lhe ensinasse sobre ele mesmo. O saudoso Bruno Ganz (1941-2019) interpreta o fundador da Psicanálise, dando a ele calor humano e uma sabedoria vivida.
Franz e Freud se encontram várias vezes e o Professor se interessa por sua vida afetiva, seu amor por Anezka
(Emma Dragunova), uma moça que dançava num cabaré. Aconselha a ele escrever seus sonhos assim que despertasse. E vários sonhos de Franz são encenados com belas imagens e sugestões de medo da morte e desamparo.
Mas para nossa frustração, Freud não conversa com Franz sobre esses sonhos, que como o caco de vidro verde que ele trouxera do fundo do lago, permanecem um mistério.
O filme dirigido com talento por Nikolaus Leytner é baseado no romance de 2017 do escritor austríaco Robert Seethaher, bestseller na Alemanha.
O filme é interessante principalmente porque mostra os efeitos da política no dia a dia de uma cidade, que vai ser envolvida numa guerra, ao mesmo tempo que acompanha Franz em suas descobertas sobre o que é a vida e suas difíceis escolhas.


terça-feira, 3 de setembro de 2019

Peixe Grande E Suas Histórias Maravilhosas



“Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”- “Big Fish”, Estados Unidos, 2003
Direção: Tim Burton


A tão importante relação pai e filho nem sempre corre às mil maravilhas. Mas a história que esse filme conta é peculiar.
Quando criança, Edward adorava as histórias que seu pai contava antes dele dormir. Muitas e muitas vezes ele pedia a seu pai, Edward Bloom (Albert Finney), que repetisse suas preferidas.
E ele ouvia encantado a história da bruxa (Helena Bonham Carter) que tinha um olho de vidro e quem olhasse dentro dele saberia como iria ser sua morte. Outra ainda sobre a cidade de Spectro e seus habitantes que viviam descalços, dançando e cantando. E a do dono do circo (Danny DeVito) que contou tudo sobre a mocinha de vestido azul por quem ele se apaixonara à primeira vista. E outras mais como a do gigante, a das irmãs siamesas coreanas e a do campo de narcisos amarelos. Sem esquecer a da mulher nua no rio. Além, é claro, do peixe grande, que não se deixava pescar porque era muito especial.
Entretanto, quando o menino cresce (Billy Crudup) e torna-se jornalista, ele reclama com a mãe que tudo que seu pai contava eram mentiras:
“- É impossível separar o homem do mito quando se trata de meu pai.”
No dia do seu casamento em Paris com Joséphine (Marion Cotillard), pai e filho brigaram feio por causa de uma bobagem que o pai dissera em seu discurso. E não se falaram mais até aquele telefonema de sua mãe contando que o pai estava muito doente.
Edward decide então voltar para a cidadezinha onde nascera e crescera, na tentativa de descobrir o que havia de verdade nas histórias que o pai contava para ele sobre a sua vida. E Joséphine, grávida do primeiro filho do casal, vai com ele.
Era como se ele, sabendo que perdia o pai, quisesse finalmente, saber a verdade sobre ele. Temia essa verdade. Edward Bloom era vendedor itinerante e raramente estava em casa. O filho imaginava que ele teria outra família e sentia-se traído. Nunca superara esses ciúmes infantís.
Tim Burton, que dirigiu o filme, adaptado do livro de Daniel Wallace, “Big Fish: A Novel of Mythic Proportions”, criou um mundo de fantasia como ele gosta. Ninguém melhor do que ele para encenar as histórias fantásticas de Edward Bloom. Havia até um motivo afetivo para fazer esse filme porque o diretor perdera seus pais há pouco tempo.
Então a maior descoberta do filho de Edward Bloom, quando se reconciliaram, foi descobrir que o pai e ele eram muito parecidos. O pai contava histórias, ele as escrevia. Por isso não iria perde-lo jamais. Porque suas histórias estariam vivas para sempre em sua memória. Eram sua maior herança.