quinta-feira, 30 de julho de 2020

Sexo Sem Compromisso



“Sexo Sem Compromisso”- “No Strings Attached “, Estados Unidos, 2011
Direção: Ivan Reitman

Emma (Nicole Portman) e Adam (Ashton Kutcher), se conheceram há 15 anos atrás numa colônia de férias para adolescentes.
Adam está tristonho:
“- Vim para cá porque meus pais se separaram “, diz ele.
“ - Olha, eu não sou uma pessoa carinhosa por natureza mas não acredito que as pessoas tenham que ficar juntas pelo resto da vida “, responde ela.
E, pelo jeito que ela deu a resposta seca à tristeza dele, já vemos que Emma é complicada. Nada sentimental. Empatia zero.
Cinco anos depois, numa festa de pijama, onde as meninas vestem sempre algo sexy, Emma aparece de pijama mesmo. Não entendeu a proposta.
Adam reconhece Emma e se aproxima dela.
“- Gosto de você “, diz ele com naturalidade.
“- Você nem me conhece ... “
Uma pausa e ela pergunta:
“-Quer vir comigo num lance de família super chato?”
Ele vai e é o funeral do pai dela. O único gesto de carinho que Adam observa é o momento em que ela leva um xale para a mãe que estava só.
Um ano depois esses dois se encontram novamente por acaso. Ela conta que está fazendo residência no hospital da cidade. Adam está com a namorada Vanessa (Ophelia Lovibond), uma loura sexy e ciumenta. A pedido de Adam, Emma coloca o número dela no celular dele.
Mais um ano e Adam está gravando um programa de televisão. Ele faz parte do time técnico mas não é reconhecido, ganha mal e está escrevendo um roteiro que não tem coragem de mostrar. Brigou com a namorada loura e está sozinho.
Na casa do pai, que chamara ele para conversar, sentam-se na piscina. O pai (Kevin Kline) é rico e famoso. Tem um programa na televisão há anos.
De repente Adam leva um susto. Vanessa, de biquíni e cãozinho no colo, aparece onde eles estão.
“- Você está pegando minha ex namorada?”
Sai furioso e vai a um bar. Toma todas e de manhã está  numa cama que ele não conhece, com uma moça de quem ele nem sabe o nome. O embaraço dele é enorme.
E fica maior ainda quando vê na sala outra garota (Greta Gerwig) com o namorado, um outro com a meia dele e Emma.
“- Transei com alguém aqui ontem? “ pergunta desesperado.
Todos ali trabalham no hospital e acalmam Adam. Já viram homens nus aos milhares.
Ele segue Emma que vai se trocar no quarto e ela conta que ele chegou muito bêbado, dançou, contou do pai, chorou e caiu duro.
E o clima entre os dois começa a esquentar enquanto ela se troca. Transa quente e rápida.
Apaixonados? Não. Essa não é uma comédia romântica como as outras. Emma não quer se envolver com ninguém. Trabalha muito. Homem? Só para transar. Será?
Ivan Reitman, o diretor eslovaco radicado no Canadá, 73 anos, foi o responsável por várias comédias, inclusive os “Caça Fantasmas”1 e 2. Mas aqui faltou inspiração. Não que o filme seja ruim mas o melhor de tudo é a presença de Nicole Portman, sempre uma graça.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Elizabeth



“Elizabeth”- Idem, Reino Unido, Estados Unidos, 1998
Direção: Shekar Kapur

Ela foi um das rainhas mais famosas da História, a última da dinastia Tudor. Seu reinado durou 44 anos, de 1558 até sua morte em 1603 e ficou conhecido como a Era do Ouro. Mas Elizabeth teve que vencer vários e severos obstáculos para conseguir governar o seu país.
O filme começa em 1554 quando a futura rainha era ainda bem jovem e se divertia dançando e cavalgando nos prados ingleses com Lorde Robert Dudley, seu amigo de infância. Ela era filha de Henrique VIII e de sua segunda esposa, Ana Bolena, condenada à morte por crime de adultério, na verdade não comprovado.
Elizabeth, muito jovem foi surpreendida com uma acusação de traição à rainha Mary, também filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão e portanto sua meia irmã. Foi presa na Torre de Londres e lá ficou por dois anos.
Elizabeth não entendia a briga entre católicos e protestantes:
“- Por que nos dividirmos por essa questão de religião? Todos acreditamos no mesmo Deus...”
“- Não Madame. Só há uma religião verdadeira,. O catolicismo. O resto é heresia,” diziam os bispos ligados ao Papa Pio V. A futura rainha vai descobrir que não era a religião mas o poder o que estava em jogo. E esse poder se fazia por alianças.
Catarina de Aragão era espanhola e católica fervorosa. Quando subiu ao trono, baniu a religião do pai para impor o catolicismo espanhol. Mas como não tinha filhos, Elizabeth era sua sucessora e fora criada na religião do pai, que voltou a ser a da corte e do país.
A cena da coroação, no filme, retrata um quadro famoso nos mínimos detalhes, mostrando toda a pompa da corte inglesa. Elizabeth, vestida em dourado com uma capa de arminho, recebe a coroa que a tornava soberana da Irlanda, Escócia e Inglaterra.
Cate Blanchett consagrou-se como atriz de primeira grandeza nesse papel. Olhos azuis, pele muito branca, longos cabelos ruivos, ela interpreta a rainha em sua evolução de jovem risonha, atraente e sedutora para uma mulher que abandona a ideia de casamento para tornar-se a Rainha Virgem. Uma deusa, bem acima dos pobres mortais. Não é certo que ela se fechasse às relações com homens mas é o que narrativa oficial relata.
Lorde Robert Dudley (Joseph Fiennes) aparece no filme como seu grande amor que a traiu, já que era casado quando jurava amor à Elizabeth. Não sabemos também se isso é verdade.
O fato é que Elizabeth tinha muitos inimigos que almejavam casar-se com ela para conquistar mais poder para si mesmos. Os espanhóis a queriam casada com seu rei, a França por sua vez queria impor o duque d’Anjou (Vincent Cassel), apoiado por Maria de Guise (Fanny Ardant), sua tia e mãe de Maria Stuart.
E havia ainda o duque de Norfolk (Chritopher Eccleston) que queria o trono para si mesmo e os bispos católicos que a preferiam morta.
O fato é que seu grande conselheiro, do qual não prescindiu até o fim do seu reinado, foi Sir Francis Walsingham (Geoffrey Rush) que lhe foi sempre leal.
O filme foi indicado para muitos prêmios e Cate Blanchett ganhou o Globo de Ouro.
“Elizabeth” é de um luxo e sofisticação próprios da era elisabetana. Transporta o espectador a um mundo de beleza mesmo que também ensine facetas negras da natureza humana.



terça-feira, 21 de julho de 2020

Maudie, Sua Vida e Sua Arte



“Maudie, Sua Vida e Sua Arte”- “Maudie”, Irlanda, Canadá,2016
Direção: Aisling Walsh

Ela sofria de artrite reumatoide o que causava dificuldade para andar. Quem a via pensava numa mulher aleijada, retardada e imediatamente voltava o olhar para outro lado. Porque incomodava testemunhar como se encolhia, a cabeça meio de lado, os cabelos escondendo o rosto e quase que arrastando uma perna porque os pés não se alinhavam.
Maudie Dowley (1903-1970) vivia na Nova Escócia, no Canadá, em uma cidadezinha à beira mar, a bucólica Marshalltown. Como era considerada incapaz de se cuidar sozinha desde criança, morava com a tia Ida, já que o irmão Walter não queria saber dela. Vendera a casa da mãe deles e ficara com tudo, com a desculpa que pagava à tia Ida para cuidar de Maudie.
Mas quem observasse mais de perto, veria que ela se vestia com simplicidade mas bom gosto, cores sóbrias bem escolhidas e tinha uma voz delicada. Era tímida mas observadora e havia nela um requinte que passava desapercebido para quem não tivesse um bom olho. Sua alma era sofisticada.
Maudie tinha quase 30 anos quando resolveu viver  longe dos parentes que a olhavam como se fosse um fardo.
De mala na mão, na loja de mantimentos, ficou sabendo que o vendedor de peixe, Everett Lewis (Ethan Hawke) precisava de uma empregada.
Contra todas as expectativas, ela vai conseguir convencer o homem rude e que a olhava com irritação, que ela seria útil para ele.
Maudie tinha uma força interior que usava em suas pinturas e passou a usar também em sua vida com aquele homem que não sabia o que tinha em suas mãos. A seu favor podemos dizer que ele era grosseiro e ignorante porque não tinha tido uma vida fácil.
Maudie foi conquistando espaço com suas pinturas que passaram a povoar as paredes da casinha minúscula. E sem muito alarde conquistou seu lugar como esposa.
E cada vez mais, todo um mundo de imaginação e celebração da natureza cercava aquele casal, abraçado pela delicadeza amorosa que surgia dos pincéis de Maudie.
Até que um dia, por acaso, Sandra, uma bela marchand de Nova York, se encantou com o mundo de Maudie que ela levou para o outro lado do oceano.
Maudie Lewis tornou-se uma artista conhecida e seus quadros passaram a ser disputados, representantes da arte “naif”, que era a visão de mundo de Maudie que dizia:
“- Adoro janelas. Tem tudo, já na moldura. ”
O filme é comovente, belo, com uma fotografia deslumbrante, atuação impecável e convincente de Sally Hawkins que entendeu quem foi Maudie Lewis. Uma fada num corpo difícil de levar vida afora, do qual reclamava pouco e sempre com bom humor. E uma alma leve e inspirada.
Um filme que é uma joia.


domingo, 19 de julho de 2020

Como Estrelas na Terra



“Como Estrelas na Terra”- “Taare Zameen Par”, Índia, 2007
Direção: Aamir Khan

Pequeno e franzino, notas baixas na escola, comportamento agitado, ele é invariavelmente  mandado para fora da sala pela professora. Nunca faz a lição direito, mesmo quando a mãe se senta ao lado dele.
O que acontece com Ishaan (Darsheel Safary) que tem 8 anos e não conseguiu ainda aprender a ler e escrever? Ele não acompanha a classe. Sua atenção está dirigida para fora. Olha pela janela como se sonhasse com a liberdade.
Os créditos do filme encantam pelas cores e pelos personagens como o relógio que nada, peixes que sorriem, dois sapos disputam uma minhoca, passam estrelas e planetas, golfinhos pulam nuvens e pipas de todas as cores cobrem o céu. Este é o mundo da imaginação de Ishaam que adora pintar e desenhar. A lousa da escola e os livros não podem competir com esse lugar atraente onde ele se refugia.
No dia da entrega do boletim, a mãe orgulhosa recebe as notas do filho mais velho. E o boletim de Ishaan? Está em tiras porque ele brincou com os cachorros, que o destruíram. De qualquer forma, suas notas eram um desastre.
Num outro dia, jogando bola com as outras crianças errou o alvo e ela foi parar não se sabe onde. Um menino e ele rolam pelo chão, aos socos e pontapés. Sujo, bravo e machucado, ele sobe a escada descarregando nos vasos de plantas dos vizinhos toda a raiva que sente.
Na hora do jantar, o pai mostra seu desagrado com o caçula:
“- Estou cansado de tantas reclamações, você vai para o colégio interno. ”
Como todo filme de Bollywood, as canções e a dança acompanham os personagens ilustrando seus sentimentos. Isso ajuda a animar bem como a mostrar tristezas e decepções. Aqui esse recurso é bem usado e ajuda a compreender como o garoto estava perdido.
E não teve remédio. Contrariado, nervoso e deprimido o menino segue para o colégio interno. Mas tudo continua como antes. Ele não entende nada do que se passa na sala de aula. Na tela olhamos a confusão de linhas que é como Ishaan enxerga essa página e todas as outras do livro.
Muitas crianças no mundo inteiro passam pelos mesmos problemas mas o nosso menino indiano não foi levado a um especialista para um diagnóstico. Os professores o tratam como retardado e insolente.
A sorte de Ishaan é que um professor de arte, jovem e criativo (o próprio diretor do filme), identifica a dificuldade do menino e trabalha com ele a sós, com muita paciência e técnicas acertadas. Através de brincadeiras e jogos, o professor estimula o aluno a prestar atenção ao que acontece entre os dois, que não é mais uma mera lição mas uma convivência calorosa e bem humorada. Ishaan vai surpreender a todos quando florescer sua inteligência, criatividade e talento.
Cores belíssimas e uma câmera que mostra tanto cenas de rua como da escola e closes do rosto de Ishaan, que é um excelente ator infantil, nos conquistam ao longo do filme.
“Como Estrelas na Terra” comove e envolve o espectador, seduzido pelas imagens que explicam visualmente mais do que mil palavras.
“Toda criança é especial” é o bom lema de um professor excepcional. E vale a pena conhecer um pouco da Índia através dos olhos dessa criança com uma visão especial do mundo.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Pecados Íntimos



“Pecados Íntimos”- “Little Children”, Estados Unidos, 2006
Direção: Todd Field

Ela destoava das outras mães de crianças pequenas que, conversando sobre banalidades, inclusive sexo com os maridos, olhavam os filhos brincando.
Recém chegada no bairro, morando na casa imponente herdada da sogra, parecia que Sarah (Kate Winslet, maravilhosa atriz) não queria estar ali. Meio mal vestida, cabelos um pouco desgrenhados, ela dava a impressão de que não estava no parquinho por vontade de socializar com as outras mães. Vinha por Lucy mas que também não fizera amigos.
Na hora do lanche dos pequenos, ela já esquecera de trazer o de Lucy duas vezes, lembra uma das mães, com olhar desaprovador. E manda o filho dar a ela um biscoito.
De repente, todas olham para um homem bonito (Patrick Wilson) que chega com o filho nos ombros. Elas se agitam:
“- Quem é ele? ”, pergunta Sarah.
“- O rei do baile, que já não aparecia há algumas semanas”, explica uma delas. “Se bem que era melhor que ele não viesse. Porque a gente não precisava se arrumar, por um pouco de maquiagem...”
“- Como é o nome dele? ”
“- Ninguém conversou com ele”, responde a outra, olhando de um modo meio escandalizado para Sarah.
Mais tarde vemos o alvo das mães em casa e ele é casado com uma linda mulher (Jennifer Connelly) que trabalha com documentários para a televisão. Ela é a provedora da casa, estrita quanto aos gastos do marido e espera que ele cuide do filho de dia e estude à noite na biblioteca. Ele precisa fazer o Exame da Ordem para poder advogar. Mas não se esforça. Ao invés de ir para a biblioteca, ele ficava admirando os garotos do skate, lembrando de quando era livre como eles. Como Sarah, ele parecia entediado com a vida. E sentia a mesma irritação.
No dia seguinte, as mães do parquinho estavam mais agitadas do que o normal. A grande novidade era que o pedófilo que fora preso por exibir-se a uma criança, saíra da cadeia e voltara a morar com a mãe, ameaçando a paz do bairro.
O bonitão estava no parquinho e quando ele se preparava para sair, Sarah num ímpeto diz que vai perguntar o nome dele. Uma das mães tira uma nota de 5 dólares e, ironicamente, aposta que ela não iria ter coragem de pedir o número do telefone dele.
E Sarah vai. Ele comenta que ela é a primeira pessoa a falar com ele:
“- Você põe elas nervosas! Sabe o que seria divertido? Me abraça na despedida.”
E, boquiabertas, as mães veem os dois conversarem, o abraço e para escândalo maior, Sarah dar um beijo inesperado na boca dele. Debandada geral.
O filme tem um narrador mas sua função não se refere a fatos. Ele descreve o que acontece no íntimo dos personagens.
Por isso sabemos que Sarah está no seu limite. Formada em Literatura Inglesa sente-se desperdiçada naquela vidinha sem graça. O marido nem a nota e, para cúmulo, ela pega ele se masturbando na frente do computador.
Assim, Sarah e Brad, tinham algo em comum: sonhos de uma felicidade improvável. Inseguros, imaturos, carentes, sob a capa de proteção que encontraram nas suas vidas, fervilhavam as insatisfações.
“Pecados Íntimos – Little Children” baseado no romance de Tom Perrotta que escreveu o roteiro com o diretor Todd Fields, mostra que ninguém ali cresceu. O título em inglês parece mais apropriado para aqueles adultos imaturos, sem coragem de mudar algo em suas vidas insatisfatórias.


quinta-feira, 9 de julho de 2020

Lendas da Paixão



“Lendas da Paixão”- “Legends of the Fall”, Estados Unidos, 1994
Direção: Edward Zwick

Cenário idílico, campos cercados por altas montanhas, um lago cristalino e o céu imenso, ali o coronel Ludlow (Anthony Hopkins), vive com seus três filhos, Samuel (Henry Thomas), Alfred (Aidan Quinn) e Tristan (Brad Pitt).
O coronel se opõe à maneira cruel como são tratados os índios e se afasta da Cavalaria Americana, vivendo em sua fazenda em Montana. Sua esposa lhe deu três filhos mas não se adaptara à falta de conforto a que estava acostumada e abandonou-os no cenário selvagem. Era um lar masculino, onde os sentimentos não se expressavam facilmente. A falta do carinho de uma mãe era sentida.
O narrador da história é o índio Facada (Gordon Toutoosis) que mora ao lado do rancho, com sua mulher e uma filha mestiça adolescente.
Tudo vai mudar com a chegada da noiva de Samuel, Susannah (Julia Ormond), uma bela jovem morena. Ela vai ser a desculpa para o desentendimento entre os irmãos, fadados a amar a mesma mulher. Talvez o trauma do abandono da mãe os empurrasse para esse destino.
O certo é que a presença feminina muda o clima naquela fazenda. Susannah se entrosa e se diverte com os três. Toca piano, tira fotos, aprende a cavalgar e parece adorar ser o foco das atenções
Mas, quando estoura a Primeira Guerra, apesar da proibição paterna, Alfred diz que vai se alistar, Samuel também e Tristan promete que vai para cuidar dos irmãos.
O filme é um drama bem contado. É também uma história de um amor impossível, unindo os irmãos na discórdia e na sombra da ausência materna. Aqueles seres não parecem ter nascido para a alegria de um amor compartilhado. Algo trágico os impede de viver em paz. A desunião entre o pai e a mãe é um fantasma que os empurra para a infelicidade.
Tristan, o mais selvagem dos irmãos é caçador de ursos e tem o prazer de arrancar do peito os corações ainda quentes. Mas é capaz também de ser carinhoso e amoroso com os animais e com a indiazinha mestiça. Dele o índio Facada diz:
“- Algumas pessoas ficam loucas. Ou se tornam lendas.”
Samuel, o mais inseguro, confessa ao irmão Tristan que é virgem e teme não estar à altura da noiva. Tavez por isso é o primeiro a ir para a guerra.
Alfred, o mais ambicioso, vai ter uma vida aparentemente mais completa, sem se dar conta de um lado sombrio que existe numa pessoa próxima.
“Lendas da Paixão”, baseado num conto de 1979 de Jim Harrison tem intensidade dramática e não poupa as coincidências trágicas e os obstáculos perversos. É um filme de faroeste diferente dos outros, no qual o amor é o grande perigo. Não adiantou fugir dele. O amor veio cobrar suas dores de todos os personagens. Ninguém escapa às circunstâncias em que vive...

sábado, 4 de julho de 2020

Encontros e Desencontros



“Encontros e Desencontros”- “Lost in Translation”, Estados Unidos, 2003
Direção: Sofia Coppola

Tóquio é uma cidade que tem várias atrações. Nos hotéis a sofisticação, nas ruas de comércio de produtos caros pessoas “cool” desfilam vestes excêntricas, nos jardins a perfeição da natureza, o povo no metrô tão limpo e os restaurantes para todos os bolsos. As garotas coloridas e risonhas vestidas em quimonos são turistas também. Se você der sorte pode ver uma gueixa de verdade se for no bairro delas.
É nessa cidade bela e fria que chegam dois americanos que lá vão se encontrar. Talvez isso só fosse possível  em Tóquio que deixa o estrangeiro perdido e solitário.
Bob Harris (Bill Murray), um ator americano de uns 50 anos, veio fazer um comercial para o whiskey Suntory. Sonado, ele é recebido no Park Hyatt Hotel por um séquito de japoneses que se curvam e dão as boas vindas. Ele só quer dormir. Mas o pior é que o fuso horário é tão louco que ele não consegue.
E vai para o bar famoso do hotel. Mas está inquieto e quando dois sujeitos se aproximam para puxar conversa e dizem que são fãs dele, é a gota d’água. Volta para o quarto. São 4:20 da manhã. Chega um fax de Lydia, sua mulher.
Charlotte (Scarlet Johansson), muito jovem, loura e linda, também não consegue dormir. O marido, tão jovem quanto ela, ronca alto.
A hora de acordar chega e os dois desconhecidos estão no mesmo elevador. Ele nota a loura. Mas ela ainda não acordou direito.
O filme do whiskey é muito atrapalhado. O fotógrafo, jovem e estrelíssimo, grita em japonês e a tradutora não passa tudo que ele diz para Bob. Mas finalmente a coisa sai.
Charlotte não está bem. No templo budista que ela vai visitar, sozinha, porque o marido foi trabalhar, ela acompanha de longe uma noiva e um noivo num ritual no templo. Seu rosto expressa comoção com a cena. E tristeza.
No quarto olha a cidade pela janela, telefona chorosa para alguém que não tem tempo para consolá-la, espalha flores artificiais pelo quarto. Está perdida.
Os dois desconhecidos procuram um ao outro mas ainda não sabem. Até que, à noite, seus olhares se cruzam e ela sorri. É só o começo de algo que não é fácil de encontrar. Um homem mais velho e uma mulher bem jovem vão se aproximar para um encontro que vai preencher um lugar único na vida deles, apesar de tão pouco tempo juntos. Há uma compreensão e empatia instantâneas.
Sofia Coppola, 59 anos, era bem mais jovem quando escreveu, dirigiu e produziu esse filme, que lhe deu um Oscar de melhor roteiro original e um Globo de Ouro de melhor filme. Tinha 42 anos e “As Virgens Suicidas” de 1999, seu primeiro longa, tinha sido muito bem recebido. Depois vieram “Marie Antoinnete” 2006, “Um Lugar Qualquer” 2010 que ganhou o Leão de Ouro de Veneza, “Bling Ring” 2013, “O Estranho que Nós Amamos” 2017 e o novo filme “On the Rocks” 2020 que também tem Bill Murray.
Filha do cineasta Francis Ford Coppola (“Godfather”), ela tem uma família de diretores de cinema. A mãe Eleanor que fez sucesso com “Paris Pode Esperar” 2016 e Roman, o irmão de “Moonrise Kingdon” 2012.
“Encontros e Desencontros” no título em português e “Lost in Translation” no original, sugerem aquela comunicação entre seres humanos que é rara e sem grandes arroubos, nem sexualidade explícita. É bem mais do que isso e não pode ser posto em palavras. Está além. E é só deles dois. O que explica o sussurro final, só para ela ouvir.
Adoro.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

The English Game



“The English Game”- Reino Unido, 2020
Direção: Brigitte Staermose e Tim Fywell

Em fins do século XIX aconteceu algo impensável até então. Um tradicional jogo inglês, o futebol amador, ganhou o mundo, tornando-se o popular esporte que todos conhecemos. Julian Fellowes, o criador de “Downton Abbey”, escreveu para esta série a história desse jogo, que era visto anteriormente apenas como um bom exercício para meninos.
Foi uma dura luta fazer o futebol do povo ter acesso a competições oficiais, com os times de trabalhadores, já que só eram considerados para a Copa da Inglaterra, os times da elite, que jogavam só por esporte.
Essa série da Netflix, que tem 6 capítulos, torna-se interessante porque o futebol é contextualizado. Vamos ver a diferença dos costumes do século XIX frente aos nossos e perceber valores ligados à classe social privilegiada que se traduziam em preconceitos inabaláveis.
Os ricos aristocratas gostavam do futebol e jogavam muito bem entre eles. Claro que não ganhavam nada com isso. Nem precisavam. Era um jogo de cavalheiros, não de gente do povo. Até isso mudar.
E já vou avisando. Se você não é fã de futebol não se deixe levar pelo pensamento que a série é chata. O autor escreve um roteiro que se interessa pela vida dos personagens fora do campo. Tanto os ricos quanto os pobres.
Assim, enquanto a elite morava em mansões rodeadas de belos jardins, frequentavam jantares sofisticados, com cristal, cerâmicas finas e talheres de prata, os operários chegavam em casa exaustos, depois de um dia de trabalho duro e mal tinham convivência com a mulher e os filhos. E era só nos fins de semana que tinham tempo para o futebol e as conversas depois no “pub” local. Havia um abismo entre o modo de viver dos da elite e o povo de trabalhadores.
Claro que as preocupações também eram totalmente diferentes e eram quase mundos à parte.
Tudo começou a mudar com a chegada em Windsor, perto de Londres e onde ficava a Universidade de Eton, dos personagens principais, Fergus “Fergie” Sutter e Jimmy Love, que realmente existiram. Fergie é considerado o primeiro jogador profissional de futebol da história, ou seja, ganhava para jogar e incrementar o time. Os dois começaram suas carreiras na Escócia, comprados depois para jogar nos times ingleses, Darwen e Blackburn, ambos de jogadores que eram operários.
Todas as histórias da série vieram da imaginação do criador porque, apesar das pessoas serem reais, sabe-se pouco sobre eles. O que se sabe é que, no começo, foi um escândalo saber que os dois ganhavam dinheiro para jogar.
Quem entendeu a necessidade dos jogadores operários serem pagos para jogar futebol nos times de trabalhadores foi um aristocrata da Universidade de Eton, Arthur Kinnaird (Edward Hulcroft, belo homem e bom ator). Ele se aproximou mais dos operários e viu como viviam. Isso não passava pela cabeça de sua família de banqueiros.
Kinnaird viu com seus próprios olhos que quem trabalhava duro durante a semana não tinha fôlego nem tempo para se exercitar e realmente jogar dentro do campo. Ele entendeu que para ser um jogo com resultados justos, todos deveriam ter a mesma oportunidade.
Quando a Associação de Futebol da Inglaterra, com Kinnaird como presidente, admitiu e aceitou a profissionalização, os jogadores passaram a ser disputados pelos times. Para isso as regras tiveram de ser mudadas em 1885 e nenhum time de amadores ganhou a Copa da Inglaterra depois disso.
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