segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tudo pelo Poder






“Tudo pelo Poder”- “The Ides of March”, Estados Unidos 2011

Direção: George Clooney



O rosto bonito de Ryan Gosling, o ator do momento em Hollywood, recita em “close”e, estranhamente sem convicção, palavras que soam ocas, em um microfone:

“Não sou cristão, não sou ateu. Não sou judeu nem muçulmano. Minha religião é a Constituição dos Estados Unidos da América.”

Acendem-se as luzes. É um estúdio de televisão. Lemos em um cartaz que vai haver o debate das Primárias em Ohio, na campanha para a presidência do país.

“- Para onde vai Ohio, vai a nação”, diz o locutor de TV que apresenta o noticiário.

Mas Ryan Gosling não é o candidato. Ele estava fazendo o teste de som para o discurso de Mike Morris (George Clooney), o governador em exercício, que quer ser presidente dos Estados Unidos.

E, o mais irônico, é que foi Stephen Myers (Ryan Gosling), que escreveu aquele discurso que o candidato recita depois, de modo dramático, frente às câmaras. Steve, como todos o chamam, é apenas um assessor da campanha. Mas é o centro da trama de “Tudo pelo Poder”.

Ao longo de “Tudo pelo Poder” vamos ver os bastidores de uma campanha política. E, nesse sentido, o filme trata menos de política e mais de politicagem.

O elenco, composto por atores extraordinários, vai brilhar no embate de egos, traições, interesses escusos, troca de favores, maquiavelismos e “limpeza de sujeira”, pratos principais da campanha eleitoral do candidato democrata.

Baseado numa peça de teatro de Beau Willimon, o roteiro, que teve a contribuição de George Clooney que também dirige e atua, tem diálogos interessantes e inteligentes entre os homens do comitê do candidato. Phillip Seymour Hoffman e Paul Giamatti dão um “show”de atuação à parte.

Já Marisa Tomei, que faz Ida, uma jornalista investigativa e Evan Rachel Wood, a estagiária bela e bobinha, não tem maior destaque porque seus personagens são pouco trabalhados no roteiro. Conseguem uma ou duas cenas e só.

O foco principal está sempre em Steve Myers. Idealista e convicto de que o governador é o melhor candidato, vamos ver Ryan Gosling interpretar um homem que sofre uma transformação radical ao longo da história. Não é à toa que o filme começa e termina com a câmara fazendo “close”em seu rosto.

“Tudo pelo Poder”, a tradução brasileira entrega o filme. Mais sutil e pretencioso é o título em ingles, “The Ides of March”, que faz alusão a Shakespeare e sua peça “Julio Cesar”.

George Clooney, como ator, dessa vez aparece pouco e sem brilho. Parece que concentrou todas as suas forças na direção e roteiro.

“Tudo pelo Poder” consegue interessar o espectador, apesar de alguma ingenuidade e superficialidade, principalmente quando envereda para o melodrama do “grande segredo”do candidato a presidente.

Já foi indicado para o Globo de Ouro e é um filme que certamente vai ser candidato a vários Oscars. Pode ser que dessa vez Ryan Gosling ganhe o seu.








domingo, 11 de dezembro de 2011

Operação Presente





“Operação Presente” – “Arthur Christmas”, Estados Unidos, Inglaterra, 2011

Direção: Sarah Smith



Dentro de todos nós, existe uma criança que gosta do Natal. Se formos bons meninos e meninas, reza a tradição, nosso pedido em carta a Papai Noel, será atendido. No dia seguinte à ceia, para nossa grande alegria, um presente esperado estará embaixo da árvore cintilante.

Em meio a toda essa mesmice, seria difícil aparecer alguém com idéias novas. Pois aconteceu. O desenho animado “Operação Presente”, dirigido e roteirizado por Sarah Smith, faz crianças e adultos rirem, deslumbrados, com uma história nova que brinca com a existência de uma família Noel, que a cada 70 natais, substitue o Papai Noel por seu herdeiro.

Essa animação original, feita com computação gráfica, veio do estúdio inglês Aardman, que já nos fez rir e pensar com “A Fuga das Galinhas”.

Uma pergunta cabível é levantada: como é que o Papai Noel consegue entregar os presentes de todas as crianças do mundo todo em uma só noite?

Difícil, né? Com aquele velho trenó, as renas, o mundo todo com milhões e milhões de crianças esperando o seu presente...

Mas Papai Noel não é mais aquele. Agora, tem uma nave espacial que tem mais de 2 km de largura e 3 de comprimento, com capacidade para levar mais de um milhão de elfos que fazem o trabalho braçal de entregar os presentes para seus respectivos donos.

A tecnologia natalina tem sua base no Polo Norte e é orquestrada pelo filho mais velho de Noel, o Comandante Steve que, de roupa camuflada, dirige a “Operação Presente”. E aspira ao posto de Papai Noel.

Tudo estaria muito bem se... E acontece o inimaginável. Com toda essa coisa nova de computadores e nave espacial, uma criança foi esquecida. E não receberá o seu presente, deixando assim de acreditar no Papai Noel.

Ninguém está muito preocupado no Polo Norte. Afinal, uma criança em bilhões... Mas Arthur, o encarregado da sessão de cartas, o atrapalhado mas sensível filho caçula de Noel, está arrasado. Porque ninguém pode deixar de acreditar no pai dele, um homem tão bom, que não era o responsável pelo esquecimento fatal.

Ele e Vovô Noel, um impagável velhinho que não se conforma em ser deixado de lado pelas modernidades do filho, vão ressuscitar o velho trenó e as renas e, movidos a pó mágico de aurora boreal, voam para tentar resolver o problema da criança esquecida.

Além das brincadeiras e risadas, a telona mostra cenas belíssimas, muito bem boladas, tanto da nave espacial vermelha quanto do velho trenó passando pelos icebergs, pela lua cheia, gravitando em torno da Terra azul ou no mar com baleias e golfinhos nadando junto às renas com seus guizos dourados.

Por tudo isso, recomendo “Operação Presente” para aqueles que acreditam que a magia do Natal é eterna mas que deve ser sempre renovada.


O Último Dançarino de Mao



“O Último Dançarino de Mao”- “Mao’s Last Dancer”, Austrália, 2009

Direção: Bruce Beresford


Há histórias reais que, quando contadas no cinema, dão a impressão de terem sido inventadas.

Como é que um menino chinês pobre, nascido em 1961 na longínqua província de Shandong, na costa nordeste da China, vira um bailarino clássico de primeira grandeza nos palcos ocidentais?

Li Cunxin contou sua vida extraordinária no livro “Adeus China – O Último Dançarino de Mao”, que virou filme em 2009, dirigido pelo australiano Bruce Beresford, ganhador do Oscar em 1990 por “Conduzindo Miss Daisy”.

O filme começa em 1981 quando Li chega aos Estados Unidos contratado por 3 mêses para dançar em Houston, Texas. Tinha sido escolhido entre muitos na China e representava o seu país. Não era um turista.

Mas, o filme volta no tempo e vemos onde morava Li na China. Um vilarejo paupérrimo, cercado de altas montanhas. Sua família de lavradores mora em uma casinha acanhada, onde se apertam mãe, pai e seis filhos.

Nesse dia, a escola em que Li estudava aos 11 anos, é visitada por homens de Pequim que vem escolher meninas e meninos para um teste. Os escolhidos, em todo o país, por sua flexibilidade e força, seriam treinados para dançar na Companhia de Madame Mao.

Estamos em plena Revolução Cultural na China, presidida pela temida mulher do presidente Mao, cujo retrato onipresente também está na parede da escolinha de Li.

Quem já fez algumas aulas de ballet clássico sabe como é. Infindáveis exercícios na barra. Suor e lágrimas.

Agora, para alguém se tornar um primeiro bailarino, é preciso mais que determinação e repetições exaustivas de coreografias. Para alguém se tornar um solista, o ballet tem que ser a sua vida.

Li Cunxin conseguiu. E quando ele voa com graça, faz piruetas no ar e empresta emoção e talento aos personagens que ele dança com alma, sentimos que valeu a pena tantos sacrifícios.

Esse é o ponto alto do filme. O ator e dançarino Chi Cao, que interpreta Li Cunxin, foi escolhido pelo próprio. Aprendi com Luiz Zanin, do Estadão, que “os pais de Cao foram antigos professores de Cunxin na Academia de Dança de Pequim”.

Além de excelente bailarino, Cao tem carisma no palco e sai-se bem como ator.

Os trechos escolhidos para os momentos de dança são dos mais lindos da história do ballet clássico: O Lago dos Cisnes, Gisele, o “pas-de-deux” de Don Quixote, A Sagração da Primavera.

E, de quebra, assistimos a um vídeo com Mikhail Baryshnikov no auge de sua carreira, que encanta Li Cunxin e a todos nós.

Vale apontar também, como pontos fortes do filme, a reconstituição de época e a direção de arte esmerada.

O ponto fraco do filme são concessões à política americana da época da Guerra Fria, que soam megalomaníacas na realidade dos nossos dias. Pode até ser que isso esteja no livro de Li Cunxin. Paciência. Ele pode. Conquistou o direito de ser feliz na América.


sábado, 10 de dezembro de 2011

As Canções



“As Canções” – Brasil, 2011

Direção: Eduardo Coutinho



Ele é um especialista em provocar o ser humano. Mas faz isso com respeito.

Apoiado em sua enorme inteligência emocional, Eduardo Coutinho, nosso maior documentarista, consegue trazer à tona o lado teatral e genuíno das pessoas que desfilam para a sua câmara.

Já tinha sido assim em 2007 com “Jogo de Cena”, no qual atrizes como Fernanda Torres, Andreia Beltrão, Marilia Pera e outras menos conhecidas, se misturavam com mulheres anônimas, em “close”, contando suas vidas. A uma certa altura do filme, já não sabíamos mais quem era que tinha vivido o que contava e quem era a atriz que atuava no texto. Impactante.

Agora, em “As Canções”, o mago do documentário quer que as pessoas cantem para ele a música que marcou as suas vidas.

Idéia genial porque todo mundo tem uma música especial que lembra um romance platônico, uma dor de cotovelo, uma paixão não correspondida, traições, mas também dias felizes e amores para toda a vida.

O cenário é limpo. Cortinas pretas de veludo e uma cadeira.

Para esse lugar de destaque virão ao nosso encontro pessoas simples que, interrogadas com poucas perguntas pelo diretor, vão despir a própria alma à nossa frente. E, quando isso acontece, é com honestidade, coração na mão e grande emoção que eles se apresentam.

Desde Sonia, a que abre o filme, até Silvia, a última, passando por Maria de Fátima, Gilmar, Queimado, e outros, é um desfile de corações que amam, sofrem e a gente com eles, porque não há como escapar da teia que Eduardo Coutinho tece.

Ele convocou o pessoal no Rio, espalhando cartazes que diziam: “Alguma música já marcou a sua vida? Cante e conte sua história”. Das 237 pessoas que se apresentaram, 42 foram filmadas e 18 estão no documentário, com idades que variam de 22 a 82 anos.

É impressionante como brasileiro sabe cantar.

“A capella”, sem nenhum acompanhamento, ouvimos músicas de Vinicius, Roberto Carlos, Jorge Benjor, Chico Buarque, Noel Rosa e muitos outros, mais antigos, que a gente mais nova nem conhece. Não importa. É o modo como cantam a música e contam sua história que é emocionante e que nos faz engolir em seco, sentir um nó na garganta e acompanhar no choro...

É o Brasil cantando e se emocionando.

Eduardo Coutinho ganhou o prêmio de melhor documentário do júri oficial e também do público no Festival do Rio de 2011.

Claro. Ele é um mestre na arte de compreender a comédia humana.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Os Nomes do Amor




“Os Nomes do Amor”-



“Les Noms des Gens”, França 2011





Direção: Michel Leclerc



Ela é Bahia Benmahmoud (Sara Forestier, atriz excelente e bela), jovem, cabelos longos cacheados, olhos verdes e corpo perfeito, filha de francesa e imigrante argelino.

Ele é Arthur Martin (Jacques Gamblier), quarenta anos, sisudo veterinário especialista em epidemias globais. Filho de judia que sobreviveu ao campo de concentração (e que nunca tocou nessa história) e de um francês mais velho, ambos conservadores.

Bahia e Jacques parecem em nada feitos um para o outro. No entanto, a vida os coloca frente a frente. Intuitivamente se procuram. Na verdade, ambos guardam, secretamente, histórias de infâncias difíceis.

Extrovertida até demais, Bahia, que tem que responder a todo mundo que seu nome não é brasileiro, resolveu seguir, ao pé da letra, o lema do tempo de sua mãe “ex-hippie”: “Faça o amor, não faça a guerra.”

Tudo acaba na cama. Tenta converter os “fascistas” (todos aqueles que não são de esquerda como ela), seduzindo-os para suas idéias políticas, através das delícias de seu corpo de ninfa pagã.

Jacques Martin não tem saída. Curva-se aos encantos de Bahia, apesar de seu superego rígido, herdado de sua mãe judia.

Original e sensual é a cena em que, antes de transar com Bahia, veste-a da cabeça aos pés, com carinho. Faz isso com ela, que a toda hora tem que esconder o seio que escapa do decote farto e desfila nuazinha e natural pelas ruas de Paris. Vestindo-a para depois despi-la, mostra a ela o seu amor.

“Os Nomes do Amor” é uma comédia inteligente, adulta, para quem tem um mínimo de instrução política. No Brasil pode passar batida a participação de Leonel Jospin, ex-primeiro ministro e candidato a presidente na época em que foi filmada a cena.

O roteiro, premiado com o César 2011, o Oscar francês, e escrito pelo diretor Michel Leclerc e sua mulher, Bahia Kasmi, fala da ocupação da Argélia pelos francêses, da deportação dos judeus da França em 1942, da atual situação política, do racismo e da eleição que colocou Sarkozy na presidência. De forma engraçada e sem perder a ironia.

No fundo está em questão o tema da identidade, do sobrenome das pessoas, como diz o título em francês, mal traduzido, talvez para fazer crer que se trata de uma historinha romântica.

Na França de hoje, bem como em toda a Europa, misturam-se as nacionalidades e a imigração maciça é um fato.

Pois bem. Falar desse assunto sério sem perder o poder da crítica e manter o humor inteligente, é o ponto forte de “Os Nomes do Amor”.

Recomendo o filme especialmente para quem não tem falsos pudores, entende um pouco de política e gosta de gente natural e afetuosa, como a personagem Bahia, que deu o César de melhor atriz de 2011 para Sara Forestier, uma comediante como poucas. Linda e talentosa. Vale a pena vê-la, rir das situações cômicas e se deixar seduzir pelo filme, que faz a gente sair leve do cinema.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Amanhecer - Parte Um



“Amanhecer – Parte Um“ – “Breaking Down – Part I“, EUA, 2011

Direção: Bill Condom



Não é de hoje que as mocinhas gostam de vampiros. Lembram-se dos filmes antigos? Por que será que elas deixavam as janelas abertas quando sabiam que ele rondava? Por que não usavam cruzes e alho em volta do pescoço mas, prazeirosamente, desprezavam essas armas e esperavam ávidas pela primeira mordida?

Bella (Kristen Stewart) se encantou por Edward (Robert Pattison) como faziam as mocinhas do cinema de antigamente. Vampiros são “sexy”.

Mas ela pode até querer ser “a noiva do vampiro”. Ele hesita. Não a quer vampira. Porque isso significaria que Bella tem que morrer ou porque ficaria igual a ele? Poderosa?

Os livros de Stephanie Meyer fizeram tanto sucesso quanto os filmes inspirados na saga que ela escreveu. Venderam mais de 120 milhões de cópias no mundo inteiro.

Como se explica esse fenômeno?

Claro que é porque esses livros e filmes tratam de um assunto que os adolescentes, tanto meninas quanto meninos, querem ler.

Contam a história de um amor complicado, com impecilhos, dúvidas, tanto da heroína que ora se inclina por Edward ora por Jacob, quanto do herói que foge dela e volta, com medo da atração fatal por Bella.

Isso sempre fez sucesso com todas as gerações de adolescentes que viveram na nossa cultura porque é nessa época de nossa vida que tememos e queremos amar e ser amados. Todo mundo gosta de ler e ver encenados seus temores prediletos.

Todo adolescente tem que enfrentar não só o mundo, nada romântico em nossos dias, aliás, mas também a si mesmo. Tornar-se adulto e lidar com as complicações da vida, dá medo... É difícil despedir-se da infância.

Então, Edward, que será um adolescente para sempre só na aparência, porque vampiro não envelhece, terá que lidar com sexo, quer queira quer não. Como todo adolescente macho, terá que enfrentar o seu medo de falhar, de pegar doenças e encarar o maior de todos os medos: a fêmea poderosa e rival.

Porque se, para um vampiro, a melhor penetração é na jugular da vítima, Bella é humana e quer tornar-se mulher. A voz da natureza clama dentro dela e sua sexualidade impõe uma decisão. Edward vai ter que casar-se com ela.

Se ficasse só nisso, virgens os dois...

Mas quando surge um bebê, os dois terão que encarar os medos que envolvem a gravidez e o parto, tão antigos quanto a história da humanidade, porque a morte ronda. E pode levar a mãe, o bebê ou os dois... E o pai pode não querer ou não poder ajudar a mãe... Muita coisa pode acontecer.

A história de Bella e Edward traz à tona todo esse elenco de medos conscientes somados às terríveis fantasias inconscientes que espreitam no escuro da mente dos seres humanos. E, de um jeito ou de outro, fazem os jovens olhar-se no espelho.

Não podemos esquecer que outro fenômeno de livros e filmes é a saga do bruxinho Harry Potter. Uma história leva à outra, o bruxinho prepara para os vampiros.

Há uma imediata identificação com os heróis que vencem os obstáculos e incentivam seus seguidores a fazer o mesmo.

Não é, então, só por pura diversão que esses livros e filmes fazem tanto sucesso.

Harry Potter ajuda a aguentar as mudanças que ocorrem entre a infância e a adolescência e Bella e Edward vivem na tela os nós que os adolescentes precisam também desfazer para caminhar em direção à maturidade.

Por isso “Amanhecer – Parte Um” enche tantos cinemas.

Se você é ou tem jeito de adolescente vá ver. Pode aprender alguma coisa.

Um Dia



“Um Dia”- “One Day”, Estados Unidos, Reino Unido, 2011

Direção: Lone Scherfig



Escolher um dia significativo na vida de um casal. E, através de mais de duas décadas, contar o que acontece nesse dia do ano com os dois personagens.

Essa foi a forma original escolhida pelo escritor inglês, David Nichols de 44 anos, para escrever o seu livro “Um Dia”, sucesso de venda no mundo inteiro e que ele adaptou para o cinema.

A história é a narrativa de um amor que floresce na juventude de Emma (Anne Hattaway, com sotaque britânico e adorável como sempre) e Dexter (Jim Sturgess), é contrariado e vai se modificando ao longo de vinte anos da vida deles.

A passagem do tempo é o tema que se presta a mostrar como mudam os personagens, pouco a pouco e como enfrentam as surpresas boas e más que a vida lhes traz.

Como acontece o amor?

No caso de Emma e Dexter, é ela que percebe desde o primeiro encontro dos dois, no dia 15 de julho de 1988, que muita coisa poderia acontecer entre eles. Mas os dois tem medo. São muito jovens, acabaram de se formar... Melhor ficar só amigos. Emma está decepcionada mas aceita sem luta aquilo que parece ser o mais sensato a fazer.

Para piorar as coisas, ela é tímida e insegura, ele é mimado e acha que o mundo lhe pertence. Vai cada um para o seu lado, viver a própria vida.

Ele vai para a India, para as drogas, mulheres e um programa na televisão. Ela segue para Londres e empenha-se em realizar-se como escritora.

Há reencontros e desencontros mas um está sempre na cabeça do outro. E, a cada dia 15 de julho, vamos seguindo os dois por mais de vinte anos, pelos caminhos que escolheram para viver.

“Um Dia” não é um filme leve, faz questão de esclarecer a diretora dinamarquesa Lone Scherfig, indicada no Oscar passado para três prêmios por seu filme “Educação”. Mas é um filme romântico, mesmo que a diretora não concorde com isso.

E é envolvente pelo modo como a história é contada. Principalmente para aqueles que viveram essas duas décadas mais ou menos com a mesma idade dos personagens, pela cuidadosa reconstituição de época, que alimenta nosso saudosismo.

Além disso, “Um Dia” é filmado em locações belíssimas em Edimburgo, Dinard e Paris na França e Londres. Menção especial para a casa dos pais de Dexter no campo inglês e as belas glicínias azuis que emolduram uma conversa entre ele e a mãe.

Lone Scherfig, que já fez filme pelo rígido movimento Dogma (nada de música, câmara na mão, em “Italiano para Principiantes”2000), aqui se rende ao que o cinema pode criar de emoção no espectador através de imagens, música e uma história de amor contrariado.

Para quem gosta dessa receita, vale assistir a “Um Dia” que, sem ser excepcional, destaca-se nesse fim de ano pobre de filmes maiores.