terça-feira, 14 de julho de 2020

Pecados Íntimos



“Pecados Íntimos”- “Little Children”, Estados Unidos, 2006
Direção: Todd Field

Ela destoava das outras mães de crianças pequenas que, conversando sobre banalidades, inclusive sexo com os maridos, olhavam os filhos brincando.
Recém chegada no bairro, morando na casa imponente herdada da sogra, parecia que Sarah (Kate Winslet, maravilhosa atriz) não queria estar ali. Meio mal vestida, cabelos um pouco desgrenhados, ela dava a impressão de que não estava no parquinho por vontade de socializar com as outras mães. Vinha por Lucy mas que também não fizera amigos.
Na hora do lanche dos pequenos, ela já esquecera de trazer o de Lucy duas vezes, lembra uma das mães, com olhar desaprovador. E manda o filho dar a ela um biscoito.
De repente, todas olham para um homem bonito (Patrick Wilson) que chega com o filho nos ombros. Elas se agitam:
“- Quem é ele? ”, pergunta Sarah.
“- O rei do baile, que já não aparecia há algumas semanas”, explica uma delas. “Se bem que era melhor que ele não viesse. Porque a gente não precisava se arrumar, por um pouco de maquiagem...”
“- Como é o nome dele? ”
“- Ninguém conversou com ele”, responde a outra, olhando de um modo meio escandalizado para Sarah.
Mais tarde vemos o alvo das mães em casa e ele é casado com uma linda mulher (Jennifer Connelly) que trabalha com documentários para a televisão. Ela é a provedora da casa, estrita quanto aos gastos do marido e espera que ele cuide do filho de dia e estude à noite na biblioteca. Ele precisa fazer o Exame da Ordem para poder advogar. Mas não se esforça. Ao invés de ir para a biblioteca, ele ficava admirando os garotos do skate, lembrando de quando era livre como eles. Como Sarah, ele parecia entediado com a vida. E sentia a mesma irritação.
No dia seguinte, as mães do parquinho estavam mais agitadas do que o normal. A grande novidade era que o pedófilo que fora preso por exibir-se a uma criança, saíra da cadeia e voltara a morar com a mãe, ameaçando a paz do bairro.
O bonitão estava no parquinho e quando ele se preparava para sair, Sarah num ímpeto diz que vai perguntar o nome dele. Uma das mães tira uma nota de 5 dólares e, ironicamente, aposta que ela não iria ter coragem de pedir o número do telefone dele.
E Sarah vai. Ele comenta que ela é a primeira pessoa a falar com ele:
“- Você põe elas nervosas! Sabe o que seria divertido? Me abraça na despedida.”
E, boquiabertas, as mães veem os dois conversarem, o abraço e para escândalo maior, Sarah dar um beijo inesperado na boca dele. Debandada geral.
O filme tem um narrador mas sua função não se refere a fatos. Ele descreve o que acontece no íntimo dos personagens.
Por isso sabemos que Sarah está no seu limite. Formada em Literatura Inglesa sente-se desperdiçada naquela vidinha sem graça. O marido nem a nota e, para cúmulo, ela pega ele se masturbando na frente do computador.
Assim, Sarah e Brad, tinham algo em comum: sonhos de uma felicidade improvável. Inseguros, imaturos, carentes, sob a capa de proteção que encontraram nas suas vidas, fervilhavam as insatisfações.
“Pecados Íntimos – Little Children” baseado no romance de Tom Perrotta que escreveu o roteiro com o diretor Todd Fields, mostra que ninguém ali cresceu. O título em inglês parece mais apropriado para aqueles adultos imaturos, sem coragem de mudar algo em suas vidas insatisfatórias.


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