sexta-feira, 27 de julho de 2012

Aqui é o Meu Lugar


“Aqui é o Meu Lugar”- “This Must Be the Place” Itália/ França/ Irlanda, 2011
Direção: Paulo Sorrentino

Cabelo negro armado, batom vermelho e os olhos azuis maquiados. Um tique como Marilyn: sopra a mecha de cabelo que cai em seu rosto. Sempre com o mesmo figurino, calça e blusão de couro, gola de pele, tudo preto.
É Cheyenne. Ex-ídolo de rock dos anos 80, que segue decadente mas fiel a essa imagem, como uma pedra imutável, porque é difícil encarar o que traz dentro de si.
Milionário, refugia-se da realidade vivendo numa linda casa na Irlanda, casado há anos com uma bombeira com quem mantém um relacionamento carinhoso.
Jogam pelota basca na piscina vazia. Ele olha da janela ela fazendo tai-chi-chuan no jardim com o professor chinês. E assim passam-se os dias.
Ela (Francis McDormand) parece ser a mãe daquela patética criança andrógina (Sean Penn, numa interpretação magistral).
E, na cabeça dele, ressoa sempre uma pergunta que não quer calar e que ele murmura para si mesmo:
“- Tem algo errado aqui, não sei o que é, mas tem.”
Ela diz que ele confunde depressão com tédio.
Mas quando chegam notícias preocupantes sobre a saúde do pai dele, com quem não fala há 30 anos, Cheyenne empreende uma viagem iniciática que vai fazer com que olhe de frente aquilo que sempre fora negado.
Lá se vai ele para a América, arrastando seu “carry-on”, de encontro ao pai que não o reconhecia.
Nessa viagem, Cheyenne vai encarar o passado que o pai sempre escondera de si mesmo e, fazendo isso, mesmo sem querer, tornara o filho refém de uma culpa fantasiada.
Cheyenne intuia que havia um carrasco na vida do pai. Confundia-se com ele.
“Há muitas maneiras de morrer, a pior é continuar vivendo”, era o lema do pai de Cheyenne, que, silenciando sobre sua tragédia pessoal, condenava o filho a interrogar-se sobre o que não sabia.
A saída dele, infantilizada, fora refugiar-se em um exílio culposo, vestindo um disfarce.
David Byrne, que compôs a música original para o filme, aparece como ele mesmo, contracenando com Cheyenne. Momento de um começo de confrontação consigo mesmo.
Mas é no encontro com a verdade do pai que reside a possibilidade de liberação para ser ele mesmo. Compreendendo o que acontecera, ele estará livre para decidir e passar a existir fora de seu casulo.
“Aqui é o Meu Lugar”, tradução do titulo em português, elimina a dúvida, marca de Cheyenne. Pena. Porque o filme tem um clima estranho proposital, mexendo com o espectador que vive também o dilema do personagem, que só vai ser esclarecido pouco a pouco.
O roteiro que também foi escrito pelo diretor, com a ajuda de Umberto Contarello, coloca Sean Penn no papel de um herói temeroso à procura de sua verdade. Com delicadeza, Paolo Sorrentino encaminha o ex-roqueiro para o que ele precisa saber e decidir, para viver sua própria identidade.
A direção de Paolo Sorrentino é impecável. O roteiro é engenhoso. A fotografia nota 10, com belas imagens líricas.
Mas, não tenham dúvidas quanto a isso, o filme é de Sean Penn, de fio a pavio. Um ator como poucos.



terça-feira, 24 de julho de 2012

Bem Amadas





“Bem Amadas”- “Les Bien-Aimés” França/ Inglaterra/ República Tcheca, 2011
Direção: Christophe Honoré

Paris, 1964. Pessoas bem vestidas passeiam pelas ruas, admirando as vitrines. Ouve-se, em francês, a música “These boots are made for walking”, enquanto acompanhamos uma vendedora da loja de sapatos Roger Vivier, esconder em sua saia rodada, um par vermelho de salto alto.
A loja está fechando e a dona dispensa a garota loira que, quando se vê longe, descalça as sapatilhas e experimenta os sapatos roubados em frente a uma vitrine que lhe serve de espelho.
Nesse momento, um rapaz a confunde com uma “profissional” de rua e oferece dinheiro pelos seus serviços. E ela aceita, no impulso.
Ouvimos uma voz feminina que comenta em “off ”:
“- Se Roger Vivier nunca tivesse feito sapatos, mamãe e papai nunca teriam se encontrado.”
A mãe Madeleine, quando jovem, é Ludivine Sagnier e Catherine Deneuve, quando mais velha. E a filha Véra é Chiara Mastroianni, na vida real filha de Deneuve e Marcelo Mastroianni. Ela puxou a beleza dos pais mas, como atriz, deve ser difícil ser comparada a dois dos mais talentosos “monstros” do cinema.
No filme, o pai de Véra é um tcheco alto e bonito, o sérvio Rasha Bukvic, um cliente que se enamora de Madeleine e a leva para Praga.
E começam assim, as histórias de amor e dor que todos os personagens do filme vão viver seja em Praga, Londres, Paris, Montreal ou Nova Iorque, durante um período de 40 anos.
O amor e seus percalços é o tema de “Bem Amadas”, uma tradução que não tem nada a ver com o espírito do filme, nem com o titulo em francês, já que nele, tanto homens como mulheres vão viver seus momentos de bem amados.
É o segundo musical do diretor francês de 42 anos Christophe Honoré, que já tinha feito “Canções de Amor” em 2008. Ele segue uma tradição antiga francesa, que todo mundo que gosta de musicais adorou, quando viu Catherine Deneuve, mocinha, em “Guarda-Chuvas do Amor”- “Les Parapluies de Cherbourg” de 1964, de Jacques Démy, que ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro, Palma de Ouro em Cannes e Globo de Ouro.
Como manda essa tradição, as músicas do filme, escritas por Alex Beaupain, são cantadas sem grandes orquestrações, nem coreografias. As palavras são entoadas de maneira natural, sem exageros.
O diretor tcheco Milos Forman, Louis Garrel, Michel Delpech e Paul Schneider vão contracenar com as mulheres do filme e também terão que se ver às voltas com tudo que o amor sempre traz para quem se apaixona.
Como diz o refrão da última canção: “Posso viver sem você, mas não posso viver sem te amar.”
Uma reflexão que se impõe é a comparação do que era o amor livre nos anos 60 e o que é amar agora, com tudo de pesado que a sexualidade pode trazer hoje em dia para as pessoas. A descontração versus a paranoia e o perigo real dos tempos de AIDS.
Há quem irá reclamar de “Bem Amadas” e dizer que o filme é longo e meloso e que as músicas não são nada demais. Estes, já estão avisados. Evitem.
Porque “Bem Amadas” é para pessoas que gostam de experimentar um cinema diferente do habitual, que são muito românticas e admiram Catherine Deneuve, um ícone das telas.
E, pode apostar, que não são tão poucos assim não.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Além da Liberdade









“Além da Liberdade”- “The Lady” França / Inglaterra, 2010
Direção: Luc Besson


A primeira imagem do filme já é comovente. Uma menina pequena, sentada no colo do pai, pede que ele lhe conte uma história.
“- Posso contar uma de quando a Birmânia era chamada de País do Ouro.”
Ela se aconchega. Eles estão num jardim, à sombra de palmeiras, à beira de um lago.
“- Era uma vez um lindo país onde havia florestas de ébano e teca por toda a parte. Naquele tempo, tigres vagavam nas selvas e manadas de elefantes caminhavam nas planícies. Havia muita riqueza nesse país. Safiras azuis e rubis vermelhos... Mas essa é uma história triste porque vieram soldados de um país distante e tiraram tudo de nós. Ficamos muito pobres...”, finaliza, levantando a filha e pousando-a na grama do jardim.
Colhe uma flor e com ela enfeita o cabelo da menina, que o olha encantada.
Vestido em seu uniforme do exército, vira-se e dá um adeus, antes de entrar no carro.
Foi a última vez que ela viu o pai, em Ragum, na Birmânia, onde moravam. Ela tinha dois anos de idade.
Assim começa a história verdadeira de Aung San Suu Kyi,que muito cedo perdeu o pai, herói nacional na luta pela independência do país, colonizado pelos ingleses.
No golpe militar de 1962, instalou-se na Birmânia (hoje Mianmar), um governo de generais, conhecido como um dos mais cruéis e repressivos do mundo.
Michelle Yeoh faz, com elegância e sobriedade, o papel dessa mulher que vai viver fora de seu país, casa-se na Inglaterra, tem dois filhos e que, por causa da doença de sua mãe, volta e se vê compelida a abraçar a causa de seu povo, vítima da tirania.
Ela lidera, então, uma luta de resistência pacifica contra o governo brutal de seu país, discursando em comícios, com sinceridade e firmeza, para uma população que a venera e levanta retratos de seu pai.
Carismática, ela defendeu eleições democráticas, enfrentando ameaças terríveis, prisão domiciliar por mais de 15 anos, afastamento do marido (o ótimo David Thewlis) e dos filhos, que ela viu poucas vezes em todos esses anos, impedidos pela não concessão de vistos pelos generais, que queriam forçá-la a deixar o país.
Magrinha, voz suave e firme, rosto bonito, franja, cabelos sempre presos num coque baixo, enfeitados com as orquídeas do jardim, usando a saia longa e blusa do traje local, ninguém adivinharia a força e a tenacidade que a distinguiam, não importa o que acontecesse.
A revista Time colocou-a na capa, chamando-a de “Orquídea de Aço” quando em 1991, seus filhos e marido receberam por ela o prêmio Nobel da Paz.
O filme de Luc Besson é quase austero de tão simples. O roteiro de Rebecca Frayn conta a história sem malabarismos.
Alguns críticos reclamaram que o filme dá muita ênfase ao casamento e vida doméstica de Suu Kyi. Pode-se responder dizendo que, assim fazendo, a roteirista mostrou o tamanho da renúncia afetiva da líder birmanesa em prol da causa de seu país.
De qualquer modo, o diretor Besson oferece a tela a Aung San Suu Kyi e à sua mensagem em defesa da democracia ao mundo.
Recentemente, aos 67 anos, ela foi empossada como membro do Parlamento e fez sua primeira viagem internacional desde 1988, sendo recebida com honras por chefes de estado.
Só por nos mostrar a existência dessa mulher valente, o filme de Luc Besson vale a pena ser visto.
“A Dama de Yanoun”, como Suu Yi é também chamada, emociona e ensina a todos o quanto vale lutar por um sonho em que se acredita.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Na Estrada










“Na Estrada”–“On the Road”, França / Inglaterra/ Estados Unidos / Brasil, 2012
Direção: Walter Salles
Mesmo que a relação da maioria do público com o assunto seja distante, quase todo mundo já ouviu falar do escritor americano Jack Kerouac, que viveu de 1922 a 1969 e que escreveu o livro “On the Road” em 1957. Ele foi o poeta ícone da geração “beat” que lia Proust, Rimbaud e James Joyce.
É importante saber que essa geração “beat” influenciou muita gente, inclusive os “hippies”, que se consideravam seus herdeiros.
Kerouac defendia uma escrita livre e espontânea, um jeito de escrever que marcou a literatura que apareceu depois dele.
Politicamente, os escritores dessa geração “beat” identificavam-se com ideias anarquistas e de esquerda, mas seu principal foco era o auto-conhecimento, que eles achavam que viria através da adoção de um comportamento transgressivo que ia contra os valores moralistas da época. Vale lembrar que nesse momento do pós Segunda Guerra, os Estados Unidos viviam a era do macartismo, como ficou conhecida a campanha liderada pelo senador McCarthy, de perseguição política aos considerados comunistas e desrespeito aos direitos civis. Foi o tempo da “caça às bruxas”.
O novo filme de Walter Salles, “Na Estrada”, retrata a vida desses escritores, numa adaptação que parecia impossível de ser feita, do livro “On the Road”.
Depois de muita pesquisa e com a ajuda de José Rivera no roteiro, lá estão Jack Kerouac (chamado Sal Paradise no filme, interpretado por Sam Riley, que é o escritor do livro e o narrador da história), seu maior amigo Neal Cassidy (que ganhou o nome de Dean Moriarty, na pele vibrante do ator Garrett Nedlund), Alan Ginsberg (que é Carlo no filme) e William S. Burroughs (o Old Bull impactante de Viggo Mortensen).
A eles fazem companhia uma surpreendente Kristin Stewart, fazendo Marylou, a doidivanas primeira mulher de Dean Moriarty e Kirsten Dunst, a segunda, Camille. Alice Braga aparece numa ponta sendo Terry e aproveitando bem sua curta presença no filme.
Feita essa introdução, talvez necessária para que todos possam apreciar o filme, vamos mergulhar na época, que foi o que Walter Salles fez, para retratar o espírito do livro “On the Road”.
Sua câmara acompanha a agitação dos personagens e só fica estática e comportada ao fotografar os horizontes descortinados na estrada, no percurso feito por Jack Kerouac com Neal Cassidy (Sal e Dean no filme), através dos Estados Unidos, de Nova York até o México.
Mas dentro do carro Hudson ou nas caronas que pegavam, nem eles nem a câmara admiravam paisagens. Em closes invasivos, vemos os personagens presos em si mesmos, se interrogando a respeito de como viver a vida, com a bebida, drogas, sexo e jazz como saídas de fuga da angústia que sentiam.
Em seu livro, anotado num bloquinho com um toco de lápis, Sal/Kerouac diz: “Só me interessam os loucos (...) loucos por viver, que queimam como fogos de artifício na noite.”
Extremos atraiam esses escritores que provavam de tudo, não tinham limites e procuravam “algo” que lhes escapava...
Walter Salles mostra grande empatia pelo sofrimento existencial desses seres “fora da lei”, marginais e pensantes. Em “Na Estrada”, filme duro e brilhante, ele não deixa que ninguém passe ao largo de uma geração que marcou época.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Até a Eternidade





“Até a Eternidade”- “Les Petits Mouchoirs”, França, 2010
Direção: Guillaume Canet

Um “nightclub” em Paris. Música e risos. Homens conversam no banheiro. Um deles senta-se numa mesa mas logo sai, depois de beijar na boca uma garota que ele, visivelmente, não conhece.
Parece bêbado ou drogado porque sai meio que cambaleando do lugar. Põe o capacete e o vemos na sua moto, em uma Paris que amanhece, deserta.
A moto cruza a ponte sobre o Sena e um caminhão enorme aparece do nada. Ouve-se um estrondo. Gritamos juntos no cinema. Aconteceu uma tragédia.
A tela fica escura.
Quando voltam as imagens, estamos no elevador de um hospital e os amigos do motoqueiro (impossível não ter morrido, pensamos nós), revezam-se para vê-lo num leito de UTI, olhos fechados, rosto todo cortado, dentes quebrados, um colar ortopédico no pescoço e tubos por todo o lado.
Consternação geral e aquele clima...
Marion Cotillard, que faz Marie, parece ser a mais próxima de Ludo (Jean Dujardin), o acidentado. Seus olhos azuis transmitem preocupação.
“- Você está linda de máscara...Vou sair daqui amanhã”, sussurra Ludo no ouvido dela.
Na sala de espera, choro e palavras de consolo.
Já fora do hospital, os amigos de Ludo conversam:
“- É maldade deixá-lo”, diz um.
“- Esperem. Ludo é como um irmão. Mas não podemos fazer grande coisa. Ele está na UTI”, diz outro.
“- Vamos por duas semanas e voltamos. São as nossas férias. Que tal?”, arremata alguém.
“- É a melhor solução”, concordam todos.
“Até a Eternidade”, filme escrito e dirigido por Guillaume Canet, seu terceiro longa, tem como tema a amizade. Há quem considere esse sentimento como mais importante que o amor.
O grupo de amigos, todos entre 30 e 40 anos, sai sempre juntos para as férias na casa de Max (François Cluzet). Não abrem mão do mar azul, areias brancas e do barco que o amigo Max conduz, se exibindo e mandando em todo mundo.
Deixam Ludo na UTI porque não há nada a fazer. A não ser, talvez, esperar que ele melhore ou piore, em companhia. Mas como ninguém é santo, o egoísmo prevalece.
O filme de Guillaume Canet fala também sobre o que acontece quando amigos ficam juntos numa casa. Claro que vai haver conflito, confidências que esperam aprovação, segredos compartilhados, maus humores que transparecem mais do que nunca mas, haverá também, o afeto que une aquelas pessoas que estão lidando com a ideia da morte estar rondando.
Há ali um provável luto a ser trabalhado. E, por isso, os amigos se distraem com a sexualidade uns dos outros, os homens rivalizam entre si para ver quem é o melhor em tudo e as mulheres fazem o grupinho à parte para criticar.
Tudo muito humano, simpático e envolvente.
Há porém, a figura do pescador, que é o mensageiro da verdade que incomoda...
Talvez Canet tenha exagerado no tempo porque o filme tem 158 minutos. Mas, talvez não. Como aprofundar o olhar sobre os personagens e torná-los tão parecidos com a gente? Ele precisava de mais cenas.
O saldo é positivo para o marido de Marion Cotillard, aquele que acabou de deslumbrar as mulheres que o viram em “Apenas Uma Noite”, como o amante francês de Keira Knightley.
Bom diretor, roteirista e ator, o belo Guillaume Canet não aparece em “Até a Eternidade” mas merece a atenção do público que gosta de comédias dramáticas.
Ele tem também bom gosto. Escolheu Nina Simone para cantar “My Way” nas cenas finais. Levem seus lencinhos.

sábado, 7 de julho de 2012

O Espetacular Homem Aranha




“O Espetacular Homem Aranha”- “The Amazing Spider Man”, Estados Unidos, 2012

Direção: Mark Webb


“Quem sou eu?”

Essa é a pergunta que Peter Parker se faz desde aquela noite triste e inesquecível. O escritório do pai cientista vandalizado, ele recolhendo papéis de um lugar secreto, apagando seus últimos cálculos da lousa e, com o filho e sua mãe assustada, deixando a casa às pressas.

Na casa do tio Ben e da tia Amy, aquelas palavras difíceis de ouvir:

“Você vai ficar aqui. Comporte-se meu filho.”

E ele nunca mais viu seu pai e sua mãe. Tinha pouco mais de 6 anos.

Cresceu tímido mas uma qualidade o distinguia dos outros meninos do colégio. Ele sempre protegia os mais fracos.

E foi assim que se aproximou de Gwen. Depois daquela briga com Flash, o garoto atrevido que liderava a turma da baderna, zoneando um garoto menor que eles.

Sempre com seu skate a tiracolo e a máquina fotográfica , Peter Parker (Andrew Garfield, convincente e comovente) se encanta com aquela mocinha bela, simpática e segura de si (Emma Stone), que o olha com seus olhos azuis sorridentes.

Como vocês podem ver, a história do Homem Aranha é contada agora de um modo diferente da versão de 2002.

O que vai ser o foco da trama é a procura de si mesmo. “O quem sou eu” é a pergunta que Peter Parker vive se fazendo, antes mesmo de ser mordido pela famosa aranha e desenvolver características de força e equilíbrio aracnídeos.

Ele é um garoto bom, tem princípios e não se conforma com a perseguição da policia e a ideia de ser um criminoso. Ele se vê como sempre foi: um vigilante do bem.

Obedecer ao pai desaparecido, exercer a responsabilidade de que ele tanto falava, mantinha o pai vivo em sua mente, fiel à promessa que fizera a ele.

Apesar do carinho do tio Ben (Martin Sheen, ótimo) e da tia Amy (Sally Fields), ele não se cansa de procurar investigar porque o pai desapareceu.

Quem o escuta e aconselha é Gwen, que ele visita entrando pela janela do seu quarto.

O passeio noturno através das luzes de Nova Iorque no balanço das teias que o Aranha vai tecendo, embala os dois num doce romance, criado pelo diretor Mark Webb, em seu segundo longa. Quem já viu “500 Dias com Ela”- “(500) Days of Summer” de 2009, sabe que para Webb a adolescência é o lugar privilegiado do romance e da busca de identidade.

E são essas características que fazem o personagem dos quadrinhos se tornar simpático para as plateias e por isso estar batendo recordes de bilheteria por onde passa. Afinal ele é o único super-heroi que é humano, jovem e romântico. A aranha só dá mais charme e força ao garoto.

As lutas do final do filme agradam a quem gosta de ação e o 3D é usado para dar um frio na barriga da gente cada vez que ele dá um pulo no escuro.

Não percam a cena surpresa final, depois dos créditos, onde se pode adivinhar que, na sequência, grandes desafios esperam o Homem Aranha que tem verdadeira adoração pelo pai desaparecido.

O filme é um espetáculo mesmo para quem não tem especial predileção por filmes de super-herois.

O Homem Aranha comove. E isso é uma novidade bem-vinda nesse gênero de filme.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Era do Gelo 4





Era do Gelo 4”- “Ice Age – Continental Drift”, Estados Unidos, 2012
Direção: Steve Martino e Michael Thurmeier


Se você tiver crianças por perto, não hesite. Leve todas para assistir à “Era do Gelo 4”. Se não, vá sozinho mesmo ou com outro adulto, seguro de si, sabendo que a criança em você vai se divertir.
Porque o que há de mais atrativo nessa série, além do humor, é o jeito de aproveitar histórias antigas e situações humanas universais envolvendo família, amizade, amor e sobrevivência, que são o motivo de tudo que se conversa e se escreve, desde sempre.
Então, há milhões de anos atrás, na era do gelo...
Dessa vez, o esquilo Scrat, sempre desesperado atrás de sua noz, objeto maior do seu desejo, abre o filme com uma sequência de tirar o fôlego.
Por causa da querida noz, Scrat cai no centro da Terra e provoca o maior terremoto de todos os tempos. As placas tectônicas mexem-se e se separam, formando os continentes como os conhecemos hoje em dia.
Mas isso vai ter consequências desastrosas. As famílias dos animais vão ser separadas e terão que se reencontrar depois de mil peripécias.
Mas voltemos ao pobre Scrat que, sempre fazendo aquelas caras de dor e desespero, ressurge num bloco de gelo à deriva no mar. Sua famosa noz está com ele mas por pouco tempo. O gelo racha e lá se vai aquela que é a razão de viver de Scrat.
O esquilo desesperado é a imagem concreta de algo que as crianças começam a se dar conta e que os adultos já sabem: o apego causa dor.
Mas dá para viver sem apego e sem amor?
É o que a “Era do Gelo 4 “ vai contar.
O pai mamute Manny e a filha Amora vão encenar a eterna história de adolescentes que querem independência versus pais super protetores. Já o tigre de bengala Diego vai ser apresentado ao amor da bela Shira, novo personagem que vem para encantar com seus olhos azuis e dois brincos na orelha direita. Sid, o otimista e sua avó meio gagá, fazem os diferentes, abandonados pela família, que vão surpreender a todos.
Preciosa, a baleia, é um personagem que lembra um tema bíblico e também um filme do Oscar de alguns anos atrás (“Preciosa”) que contava a história de uma garota negra gorda.
O Capitão Entranha, um babuíno de maus bofes, é o vilão que tem momentos hilários e enfrenta o trio de heróis Manny, Diego e Sid.
É dessa forma singela, com graça e inteligência, que os criadores desses personagens da “Era do Gelo 4” falam dos grandes temas da humanidade.
Carlos Saldanha, o brasileiro que dirigiu os três filmes anteriores, é o grande responsável pelo sucesso e pela condução engenhosa das histórias. Dessa vez, ele foi como que um supervisor artístico que ajudou os diretores Steve Martino e Michael Thurmeier:
“- A série precisava de sangue novo” disse ele, em entrevista a Luiz Carlos Merten no Estadão, acrescentando que adorou o novo filme.
Atores como Jennifer Lopez (Shira), John Leguizanno (Sid) e Queen Latifah (Ellie) fazem as vozes originais, enquanto que na cópia dublada em português temos Diogo Vilela como Manny, Mario Garcia como o tigre Diego e Tadeu Mello como o bicho preguiça Sid.
“Era do Gelo 4” é uma delicia. Pode crer.