domingo, 24 de fevereiro de 2013

Oscar 2013

 Oscars 2013- Noite das Premiações

Claro que eu vi o tapete vermelho.
Para mim a mais bonita era Jessica Chastain que parecia uma visão num vestido “nude”, Armani Privé, todo bordado com inspiração art-deco, cabelos vermelhos voando quando ela andava, mostrando os brincos de brilhantes magníficos.
A mulher de Ben Affleck portava um colar de brilhantes deslumbrante e um Gucci com “volants” nas costas. Um casal bonito e feliz.
Charlize Teron era uma deusa grega num Dior branco alta costura, também com cauda.
Aliás, todas tinham vestidos com cauda e quase todas escolheram um decote tomara-que-caia.
Jane Fonda arrasou com um vestido amarelo que mostrava sua silhueta perfeita aos 74 anos.
Bem, a cerimônia começou um pouco chata com piadas de mau gosto e Seth McFarlane se esforçando para agradar. Melhorou quando Charlize Teron dançou “The Way You Look Tonight” e piorou quando o apresentador bancou o engraçadinho com Sally Fields. Melhorou com uns fantoches imitando Denzel Washington em “O Vôo”.
E só começou mesmo quando Octavia Spencer anunciou o melhor ator coadjuvante: Christoph Waltz, de “Django Livre”, o ator preferido de Tarantino.
Vieram prêmios menores para curta de animação para “Paperman”, longa de animação para “Valente”.
A atriz mais jovem da história do Oscar é mostrada na tela. Quvenzhané dá tchauzinho. Muito fofa com a bolsinha de cachorro.
Outro momento “mico” acontece quando o apresentador joga uma garrafinha de whiskey para George Clooney.
Os atores de “Vingadores” apresentam o prêmio de melhor fotografia que vai para “As Aventuras de Pi”. Outro ainda, efeitos especiais também para “Pi”.
“Anna Karenina” ganha melhor figurino e “Os Miseráveis” maquiagem e cabelo.
Homenagem a 007. Halley Berry, que já foi Bondgirl, apresenta Shirley Bassey cantando “Goldfinger”.
A dupla romântica de “Django” anuncia o melhor curta de ficção, “Curfew”.
Ben Affleck entrega o prêmio de melhor documentário para o favorito “Searching for Sugarman”. E Michael Haneke recebe o Oscar de melhor filme estrangeiro para “Amour”. Na plateia, fazendo 86 anos hoje, Emanuelle Riva.
Catherine Zeta-Jones canta e dança “All That Jazz” do musical e filme “Chicago”, bela e talentosa.
Mas o melhor momento musical foi o elenco de “Os Miseráveis” cantando músicas do filme. Hugh Jackman e Anne Hattaway deram show.Aplaudidíssimos.
Mark Walberg entra com o urso de “Ted” e dá-lhe mais piadas sem graça.
“Os Miseráveis” ganha melhor mixagem de som, merecidíssimo. E “A Hora Mais Escura” e “Skyfall” empatam na melhor edição de som.
Anne Hattaway ganhou seu Oscar das mãos de Christopher Plummer, com o Prada rosa e um colar lindo emoldurando seu rosto expressivo. Ela levou todos os prêmios de melhor atriz coadjuvante por sua Fantine.
Sandra Bullock entrega Oscar de melhor montagem para “Argo” e Adele canta a canção que ela compôs para “Skyfall”.
Os cenários eram sempre de muitas luzes e cristais Swarovski.
Direção de arte foi o Oscar de “Lincoln”.
Selma Hayeck de veludo negro apresenta Oscars honorários e George Clooney anuncia o “in memoriam”.
A surpresa foi Barbara Streisand cantando “The Way We Were”, homenageando o compositor morto.
O elenco de “Chicago” dá para “Pi” o prêmio de melhor trilha sonora de Michael Danna.
E o Oscar de melhor canção vai mesmo para Adele, a favorita.
“Argo” ganha o melhor roteiro adaptado de Dustin Hofman e Charlize Teron. Roteiro original vai para Tarantino por “Django Livre”.
Para mim, a maior justiça que a Academia fez foi votar em Ang Lee como o melhor diretor por “As Aventuras de Pi”, um filme mágico. Jane Fonda e Michael Douglas entregaram o Oscar ao diretor que foi aplaudido de pé.
Entra Jean Dujardin e entrega a Jennifer Lawrence seu prêmio de melhor atriz. Ela caiu na escada de acesso ao palco, atrapalhada para andar com seu lindo vestido Dior.
E Meryl Streep dá o Oscar de melhor ator a Daniel Day Lewis, por “Lincoln”, favorito e merecido.
E para o final ficou reservada a verdadeira surpresa da noite. Jack Nicholson chama a Casa Branca e ninguém menos do que Michelle Obama abre o envelope com o nome do grande vencedor da noite: “Argo”!
Linda e muito bem vestida, a primeira dama foi a resposta do Oscar ao Bill Clinton do Golden Globe. Ponto para o cinema que conseguiu ter uma bela safra de filmes em 2012.

Adorável Sonhadora

“Adorável Sonhadora”- “Beasts of The Southern Wild” , Estados Unidos, 2012
Direção: Benh Zeitlin

Ela aparece brincando com lama. Faz um bolo e o coroa com um patinho vivo. Cabelos encarapinhados, botas de borracha brancas, calcinha e camiseta. Vive entre galinhas, patos, porcos, cachorro, gato, siris. Todos no meio do lixo.
A casa dela é difícil de descrever. Um “trailler”, talvez, montado sobre uma estrutura estranha. O acesso é por uma escada precária e, lá dentro, uma bagunça de coisas misturadas num espaço pequeno.
Ouvimos seus pensamentos, assim como ela ouve o coração dos bichos, colocando-os na orelha:
“Aposto que eles falam quero comer. Mas às vezes falam num código que eu não entendo...”
A câmara está sempre próxima do rosto dela que mostra um ar de concentração e olhos atentos. É uma criança mas passa uma determinação e reflexão difíceis de encontrar em meninas e meninos de sua idade, uns 7 anos.
Mora com o pai Wink ( Dwight Henry), doente e alcoólatra, como todos que vivem nessa comunidade à beira de um rio no sul dos Estados Unidos. Ele a ensina a sobreviver, a ser dura e selvagem e amar a “Banheira”, o lugar pantanoso onde moram.
“Mamãe, é você? “, pergunta a menina quando ouve um som diferente ou vê uma luz na floresta.
Hushpuppy procura a mãe que fugiu dali nadando. E escuta as preleções de uma vizinha que diz que todos serão destruídos quando as calotas polares descongelarem e os “airoques”, bichos pré-históricos, saírem vivos do gelo onde dormem.
Pesadelos de olhos abertos mostram a ela grandes pedaços de gelo caindo e vultos congelados espreitando no escuro.
“Adorável Sonhadora”, o titulo em português, não tem nada a ver com o original que é algo como “As Bestas do Sul Selvagem”. Mostra pessoas que vivem totalmente à margem da nossa cultura e não são apenas pobres, querem permanecer selvagens, dentro de seu território.
Benh Zeitlin, o diretor estreante de 30 anos, nasceu em Nova Iorque de pai brasileiro, radicado nos Estados Unidos. Ele vive em Nova Orleans e foi lá que rodou seu curta sobre o furacão Katrina de 2005 que destruiu a Louisianna, “Glory at Sea” (2008).
Seu longa, protagonizado por amadores, foi baseado na peça de Lucy Alibar, amiga de infância, “Juicy and Delicious”. Escreveram o roteiro juntos:
“Depois do Katrina eu estava muito ligado nos temas da água e da perda dos lugares. “Juicy” é sobre a perda de uma pessoa. Percebi que podia juntar as duas coisas, a perda do lugar e da pessoa e foi assim que surgiu a personagem Hushpuppy “, diz o diretor em entrevista.
Quvenszhané Wallis tinha 8 anos quando fez o filme e agora vai completar 10. Indicada ao Oscar de melhor atriz, se ganhar, será a mais jovem oscarizada da história desse prêmio. Além de bem dirigida, a menina mostra talento e maturidade, aliados a uma graça natural que ela empresta à sua personagem.
“Adorável Sonhadora”
foi indicado também a melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado.
Sucesso de público nos Estados Unidos, é um filme tocante e terrível, que mostra o mundo recriado na cabeça de uma criança que vive como um bichinho e quer permanecer assim.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Mestre




 

“O Mestre” - “The Master”, Estados Unidos 2012
Direção: Paul Thomas Anderson

O rastro branco de um navio no mar azul. Fuzileiros americanos voltam para casa depois da Segunda Guerra.
O rosto bonito de Joaquin Phoenix em close. Ele faz Freddie Quell, uma criação que assombra.
Na praia, os colegas brincam fazendo uma mulher de areia, peitos-montanhas e um buraco na altura do sexo.
Freddie “transa” com ela. Excitado. Rindo. Frente ao mar, se masturba. Depois dorme ao lado da mulher de areia. Há indícios de que algo está errado com aquele rapaz.
No hospital militar, frente ao médico psiquiatra, genitaliza as manchas do teste de Rorschach e fala sobre uma crise de choro por causa de uma carta de uma garota. Ri de maneira estranha. Sua fala entrecortada é pouco compreensível.
“- Você disse que era uma visão...” diz o médico.
“- Foi um sonho...” responde Freddie.
Desajustado. Foi a guerra? É a bebida que ele prepara misturando tudo que encontra? Não sabemos.
A vida de Freddie, que entra clandestino num barco, vai trombar com outro homem que ele encontra, vestido de vermelho, como um imperador.
Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) e Freddie Quell se olham. Há um fascínio mútuo. O mestre e o discípulo se encontraram. O mestre quer submissão, o discípulo hesita em se entregar porque também quer submeter.
Muito se falou sobre o personagem que Freddie encontra naquele barco. Dizem que o diretor se inspirou, para escrever o roteiro, na vida de L. Ron Hubbard, o fundador de uma estranha e misteriosa religião, a cientologia, seguida por celebridades como Tom Cruise.
Não importa. O que parece evidente é que esse dois homens tem dificuldade em lidar com a realidade e alimentam ilusões grandiosas. O dia a dia não os atrai. E “A Causa”, como é chamada a crença que o Mestre prega, exige uma entrega total, prometendo o desligamento da condição humana, prisioneira do tempo.
E, por mais diferentes que possam parecer, os dois são muito semelhantes em sua marginalidade. Estão no mesmo barco, viajando na mesma dimensão estranha e fascinante. A vida dos outros os enfada. No fundo, os aterroriza lidar com os dias, um depois do outro.
O que fica claro em Freddie, aparece depois no Mestre, amparado pela esposa fanática (Amy Adams, assustadora). Ambos são frágeis e temem viver sob a condição humana. A violência clara em Freddie, se oculta mas está latente em Lancaster.
Paul Thomas Anderson, o diretor de “Magnólia” (1999) com Tom Cruise, já trazia essas questões naquele roteiro. Hoje, novamente, muitos se entediam ou saem do cinema aturdidos.
“O Mestre” vale, sem dúvida, pela atuação de seus atores, todos indicados no Oscar.
Mas, se o espectador gostar da bela fotografia (Mihai Malamaire Jr) e de um assunto intrigante, a condição humana, não vai se espantar quando o filme propõe um labirinto, acabando na mesma praia do começo, com Joaquin Phoenix alucinado, encontrando repouso, abraçado novamente com a mulher de areia.

As Sessões




“As Sessões”- “The Sessions”, Estados Unidos, 2012
Direção: Ben Lewin

Não é de hoje que as pessoas sofrem com dificuldades em sua vida sexual. É nessa área que se manifestam sintomas que não são apenas físicos mas psíquicos.
Geralmente, essas pessoas procuram terapia para conversar sobre essas dificuldades e eventualmente são medicadas.
Sabemos que para os homens, hoje em dia, “a pílula azul” é um dos remédios mais vendidos do mundo.
Mas em “As Sessões”, o assunto do sexo é abordado em circunstâncias diferentes.
O filme conta a história baseada na vida do poeta Mark O’Brien (vivido com entrega na tela por John Hawkes), contada por ele mesmo num longo artigo publicado nos Estados Unidos.
Paralítico desde a infância por causa de poliomilite, ele precisa viver dentro de um pulmão artificial várias horas por dia e dormir dentro da máquina.
Está à mercê de cuidadoras que o lavam, vestem alimentam. Ele nem ao menos consegue coçar seu próprio nariz, que dirá masturbar-se quando tem ereções espontâneas.
Acontece que Amanda, uma das cuidadoras, faz nascer em Mark uma necessidade de intimidade física que nunca experimentara. Apaixona-se por ela e quer casar. Mas, aos quase 40 anos Mark é virgem.
Amanda fica assustada com as urgências de Mark e vai embora.
Dotado de um fino senso de humor, Mark vai falar de suas agruras e vontade de experimentar o sexo, com ninguém menos que um padre católico, o ótimo ator William H. Macy, que, muito humano e acolhedor, o ajuda a pensar.
Depois de algumas dificuldades, Mark vai parar nas mãos de uma terapeuta sexual (Helen Hunt,que ganhou o Oscar com “Melhor é Impossível” indicada novamente como melhor atriz coadjuvante por esse papel).
Ela muda a vida dele.
Para nós brasileiros, soa estranha essa profissão. Mas nos Estados Unidos, a partir dos anos 70, ela é legalmente exercida por profissionais qualificados. Uma delas, Cheryl Cohen, inspirou a personagem de Helen Hunt em “As Sessões”.
Numa entrevista, ela explica como trabalha:
“São oito sessões, em cada uma há experiências diferentes, não só sexuais. Ajudo a pessoa a relaxar. Ao tocar um cliente pela primeira vez, não quero que a pessoa pense em ereção. O ponto é fazer com que se conheça e se abra para o prazer.”
Para Mark, o personagem do filme, estar com Cheryl ajudou-o a recuperar a auto-estima e o sexo tornou-se mais fácil e recompensador para ele.
Mas é complicado. Esse tipo de relação envolve forçosamente um vinculo afetivo entre os envolvidos. E pode trazer mais complicação do que solução.
Em todo caso, o diretor Bem Lewin, ele mesmo também vítima da pólio, com um bom roteiro na mão e ótimos atores, consegue passar uma empatia com os personagens de seu filme, que resvala para um fim um tanto piegas. Pecadilho perdoável.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Bafta 2013 - 66a edição



Bafta 2013- 66ª edição

Já foram anunciados os ganhadores do Prêmio Bafta, o Oscar inglês, excelente sinalizador para o que vai acontecer no próximo domingo, 24 de fevereiro em Los Angeles.Isso porque o Bafta tem muito a ver com o Oscar. Muitas vezes os ganhadores foram os mesmos. Aliás, há uma tendência forte esse ano em todos os prêmios, em apontar os mesmos nomes em quase todas as categorias.
E, se isso acontecer, Steven Spielberg vai ver seu nome ser rejeitado mais uma vez e Ben Affleck, com seu “Argo”, levar a melhor. Será?
Depois da vitória no sindicato dos atores e dos produtores e da bela surpresa no Globo de Ouro, Ben Affleck viu seu nome ser consagrado no Bafta 2013, ao ser apontado como o melhor realizador e ganhar o prêmio de melhor filme para “Argo”.
Bela vingança para quem teve seu nome preterido na categoria de melhor diretor no Oscar. Esse prêmio ele não leva mas quem sabe o de melhor filme? E, se levar, vai ser um feito e tanto porque normalmente quem ganha o prêmio de melhor diretor ganha também o de melhor filme. Se bem que há antecedentes como o de 2010, quando Kathryn Bigelow ganhou o prêmio de melhor diretora e o de melhor filme foi para James Cameron, de “Avatar”.
“Argo” foi o grande premiado no Bafta porque ainda levou o de melhor montagem.
“Lincoln” que tinha11 indicações só ganhou o prêmio de melhor ator para Daniel Day Lewis, outro que ganhou todos os prêmios dessa categoria nesse ano. É o quarto prêmio Bafta desse grande ator inglês.
O filme de Ang Lee, “As Aventuras de Pi”, ganhou prêmios que reconheceram sua beleza: melhores efeitos especiais e melhor fotografia.
A maravilhosa Emmanuelle Riva, 85 anos, ganhou merecidamente o prêmio de melhor atriz. E o diretor Michael Haneke foi contemplado com o de melhor filme estrangeiro para sua obra prima, “Amour”.
Anne Hattaway confirmou mais uma vez seu lugar de favorita para todos os prêmios de melhor atriz coadjuvante por sua Fantine de “Os Miseráveis”. E o melhor ator coadjuvante, uma das categorias mais disputadas, foi para Christoph Waltz de “Django Livre” de Tarantino.
Para Quentin Tarantino veio também o prêmio de melhor roteiro original, escrito pelo próprio diretor.
Melhor filme britânico foi para o último 007, “Operação Skyfall” que mereceu também o de melhor música.
Como vocês podem ver, o Bafta coincidiu em quase tudo com o Globo de Ouro. Vai ser o mesmo no Oscar?

Lincoln




“Lincoln”- Idem, Estados Unidos 2012
Direção: Steven Spielberg


“Lincoln” é um filme de Steven Spielberg, 66 anos, dono de dois Oscars por “A Lista de Schindler” (1993) e outro por “O Resgate do Soldado Ryan” (1998).
Mas é um filme muito diferente de outros que ele dirigiu como o lírico “E. T.” (1982), “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), ”Tubarão” (1975) ou “Cavalo de Guerra” (2011).
Aqui ele não trabalha com sua imaginação fabulosa. Aqui é a História que guia seus passos.
É como se o famoso diretor deixasse a cena montada para o grande ator inglês, de 55 anos, brilhar: Daniel Day-Lewis, em sua interpretação como Lincoln, é o foco da atenção.
Por isso, em poucas cenas de “Lincoln” reconhecemos a marca Spielberg. O filme se passa quase todo em salas enfumaçadas e escuras e há muitos diálogos longos. E foi de propósito. Diz Spielberg:
“Eu não filmei “Lincoln” discutindo planos, esquadrinhando efeitos. Deixei a câmara com o fotógrafo (Janus Kaminski), a maior parte do tempo e fui dirigir os atores. Gastei pouco tempo atrás da lente.”
O diretor deixa claro que não buscou o espetáculo. Empenhou-se em transmitir ideias e princípios, encarnados nos personagens de “Lincoln”, principalmente na figura do 16º presidente americano, no século XIX, defensor da democracia como regime político para o seu país e militante abolicionista.
O filme começa mostrando aquela que foi uma guerra civil cruenta, corpo a corpo na lama fria, baionetas ensanguentadas. O sul dos Estados Unidos contra o norte, a Guerra de Secessão, com Lincoln como presidente.
A economia do sul do país, baseada no cultivo do algodão, precisava de muita mão de obra e se utilizava da escravidão para conseguir mais lucros. Contra esse estado de coisas, homens do norte, liderados pelo presidente Lincoln, no quarto ano da guerra (1865), tentam fazer passar a 13ª Emenda à Constituição americana, que decretaria a abolição da escravatura em todo o país e, em consequência, acabaria com a guerra, sendo o sul derrotado.
Lincoln foi vitorioso nessa luta e conseguiu que o sul se rendesse ao norte, abdicando de suas ambições separatistas.
Mas o filme mostra como foi difícil esse outro corpo a corpo entre republicanos e democratas, voto a voto sendo conseguido com habilidade política e nem sempre de forma ética, com oferta de cargos e compra de congressistas.
Spielberg não assinou com “Lincoln” um filme de patriotadas. Contou o que aconteceu.
O roteiro de Tony Kushner baseou-se em parte no livro da historiadora Doris Kearns e a aura mítica em torno ao presidente Lincoln ficou por conta da criação magnífica do ator Daniel Day-Lewis, duas vezes ganhador do Oscar de melhor ator com “Meu Pé Esquerdo” (1989) e “Sangue Negro” (2007).
O filme conseguiu 12 indicações para o Oscar incluindo melhor filme, diretor, ator para Daniel Day-Lewis, ator coadjuvante para Tommy Lee Jones, atriz coadjuvante para Sally Field, que faz a mulher de Lincoln e outros prêmios técnicos.
Talvez Spielberg não ganhe dessa vez, embora seja o favorito, com o maior número de indicações. No Globo de Ouro foi Daniel Day-Lewis que levou o prêmio.
Não importa.
O nome de Steven Spielberg já está inscrito na história do cinema.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Hora Mais Escura

 


 


“A Hora Mais Escura”- “Zero Dark Thirty” Estados Unidos, 2012
Direção: Kathryn Bigelow

O começo do filme é tocante. Na tela escura, vozes agoniadas falam sobre o que está acontecendo, presas nas Torres Gêmeas de Nova Iorque em 11 de setembro de 2001. São as vítimas da tragédia que abalou os Estados Unidos e deu partida para a caça ao terrorista mais procurado de todos os tempos, Osama Bin Ladem.
Mas, “A Hora Mais Escura”, que pretende ser um relato jornalístico sobre esse acontecimento, é mais a história de uma obsessão de uma mulher do que a luta da CIA para encontrar o inimigo número 1 do país.
Chocantes, as cenas que abrem o filme mostram todo tipo de tortura de que se tem notícia aplicadas em um homem que, aparentemente, tem muito para contar para o agente da CIA que é o seu carrasco. Essas tomadas da câmara, que não perde um detalhe do que se passa, duram mais de vinte minutos.
Mais do que o horror que, pretensamente, querem induzir no espectador, para o nosso desconforto, produzem um outro tipo de efeito. Estranhamente, vemos a personagem principal do filme, a agente Maya da CIA, interpretada por Jessica Chastain, que está no fundo da cena de tortura, acercar-se. A perversão cresce nela a olhos vistos. Fascinada, mais do que incomodada com o que acontece ali, ela passa de mera assistente a participante, num piscar de olhos.
Nós, na plateia, não sabemos o que pensar.
Infelizmente, essa grande atriz, maravilhosa em “Árvore da Vida” (2011) de Terrence Malik, caiu numa armadilha. Sua personagem é caricatural. Maya, que dizem ser baseada numa agente que participou nessa história, não tem passado, nem presente. Sua única motivação na vida é localizar Bin Ladem para que os outros o matem por ela. Acreditem. Ela diz isso textualmente no filme.
Na falta de uma vida afetiva, ela se entrega à paixão mórbida da obsessão. Horas a fio, anos e anos diante de vídeos, fotos, interrogando pessoas, induzindo outros agentes a violência contra os interrogados, vivendo em lugares inóspitos no Afeganistão, ela não descansa. Precisa encontrá-lo.
No final, conhecido por todos, sozinha num imenso avião, ela não tem mais para onde ir. Perdeu o rumo e a razão de viver. O rosto expressivo de Jessica Chastain mostra um vazio. Suas lágrimas são de viúva. Morreu o único homem que dava sentido à sua vida.
Kathryn Bigelow, 61, escreveu o roteiro com Mark Boal, 40. E começamos a entender a ambiguidade do filme, porque o roteiro começou a ser escrito para ser uma crítica à ineficiência da CIA para encontrar Bin Ladem. Com ele quase pronto, os dois foram surpreendidos com a notícia da morte de Bin Ladem. Ao invés de jogar o roteiro no lixo, resolveram mudar a história, que tinha que acompanhar os fatos. Virou a procura e assassinato do terrorista. Mas perdeu a coerência.
Para a imprensa, Bigelow diz que fez jornalismo. Para o espectador, a confusão fica clara. Saimos do cinema com uma sensação estranha.
Mas é preciso dizer também que há momentos de beleza nas cenas de ação que mostram o talento da diretora oscarizada de “Guerra ao Terror” (2008), o filme definitivo sobre a guerra no Iraque.
Pena que a única mulher a ganhar o Oscar como diretora, tenha assinado esse filme oportunista, eticamente confuso e cansativo.
Nem ao menos é bom entretenimento.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Amante da Rainha

 
“O Amante da Rainha”- “Ein kongelic affaere” Dinamarca, Suécia, República Tcheca 2012
Direção: Nicolaj Arcel

Um romance proibido que muda a história de um país. Isso é o que vocês vão ver se assistirem ao filme dinamarquês, “O Amante da Rainha”.
Aconteceu de verdade e, por isso, a trama é tão empolgante e próxima de nós, quando se trata dos afetos, porque os personagens são gente como a gente e, no entanto tão restringidos pelos costumes da época e todo o protocolo da realeza.
“O Amante da Rainha” é daqueles filmes de época bem cuidados, com toda a pompa da corte da Dinamarca no século XVIII reconstituída com arte e contrastando com a miséria dos cidadãos comuns do reino.
Nesse sentido é um filme político com imagens que falam por si mesmas e mais eloquentes do que qualquer discurso.
Todo mundo entende o que se passa nesse reino quando vê os súditos da realeza conviverem com fome, doenças e ratos, enquanto passam por eles as carruagens com os “royals” vestidos de seda e ostentando adornos preciosos.
E é exatamente aí que o filme não é como qualquer outro que conta uma história daquela época. Tanto é assim, que o roteiro de “O Amante da Rainha” ganhou o Urso de Prata no último Festival de Berlim.
Tudo começa quando a bela inglesa Caroline Mathilde (Alicia Vikander) chega à Dinamarca casada por procuração com o rei Christian VII (Mikkel Folsgaard, que ganhou o prêmio de melhor ator em Berlim). Culta, delicada, bem educada, ela é exposta aos modos extravagantes do rei, seu marido, que prefere a bebida, a caça, seu cachorro e as prostitutas, a ela, sua rainha.
Em sua insana infantilidade, o rei não reina, deixando tudo na mão de seus ministros. E as coisas chegam a um tal ponto que é preciso encontrar um médico que cuide do rei.
E é aí que entra em cena o belo homem e excelente ator que é Mads Mikkelsen, que ganhou o prêmio de melhor ator no festival de Cannes por seu papel em “A Caça”. Ele se torna amigo e conselheiro do rei, que o adora.
Mas como o filme não conta somente mais uma história de um romance vivido por uma rainha insatisfeita, vamos assistir ao encontro de dois seres, que tudo aproxima. São ambos cultivados, amam as mesmas leituras, interessam-se pelas idéias do Iluminismo (movimento filosófico francês) e principalmente, são pessoas verdadeiramente empenhadas em trazer para a Dinamarca o progresso e as mudanças de mentalidade que aconteciam na Europa.
A história dos amantes é triste mas, ao mesmo tempo, bem sucedida. O amor deles gera um fruto que mudará a Dinamarca.
O filme, muito bem dirigido por Nicolaj Arcel foi indicado a melhor filme estrangeiro do ano.
A beleza e o idealismo de uma história de amor entre duas pessoas tão especiais, merece ser vista por quem aprecia filmes de época com conteúdo.