domingo, 2 de dezembro de 2012

Holy Motors





“Holy Motors”- Idem Alemanha/França 2012
Direção:Leos Carax

À falta de quem nos conte histórias, como nossas mães e avós fizeram na infância, vamos ao cinema, alimentar nossas mentes que precisam de relatos fantásticos e mesmo quotidianos, para funcionar e viver. O cinema é como um sonho que alimenta outros sonhos.
A primeira impressão de “Holy Motors”, na volta de Leos Carax à telona, é que ele confirma o que eu digo: o cinema é essencial para nós humanos. Podemos até ampliar a homenagem que ele faz ao cinema e incluir todas as artes cênicas, o “faz de conta” de que precisamos tanto.
Por isso, em “Holy Motors”, o ator Denis Lavant, o preferido do diretor, transforma o interior da limusine branca na qual se desloca por Paris, em camarim. Lá, como Oscar, ele se prepara e se caracteriza para os personagens que vai viver, seguindo roteiros que são fornecidos a ele pela motorista Céline.
Tudo começa com um homem que acorda e, com uma chave, abre uma porta numa floresta de árvores pintadas na parede de seu quarto. Ele entra numa sala de projeção e aí começam suas aventuras, sua loucura, seus sonhos, suas realizações de desejos infantis. Mas pouco importa o nome do que ele passa a viver. Estamos todos seguros naquele lusco-fusco da sala de cinema. Olhamos e participamos.
Assim, Oscar transforma-se primeiro no milionário da limusine e logo depois na velha mendiga que diz:
“- Ninguém gosta de mim... Mas continuo vivendo. Tenho medo de não morrer nunca...”
Depois vem o estranho mergulhador fosforecente que dança uma cópula sensual com uma mulher de vermelho (Eva Mendes) e longo rabo de cavalo. Parecem dois moluscos no fundo do mar.
Ao ler o terceiro dossiê, Oscar coloca barba postiça, um olho cego, unhas longas. Mas há uma pausa para ele comer com palitos chineses.
Sai da limo vestido de verde e entra num bueiro que vai dar no cemitério, onde os corvos grasnam e ele come as flores que recolhe nos túmulos, que convidam em suas lápides a visitar o site. Humor negro.
E assim vai o filme. Nonsense, surrealismo, caos, decadência, graça, morte, bizarrice, fantasia. Cenários construídos por uma mente que não se policia. E Paris iluminada nunca foi tão bela.
Às tantas, ele diz para a chofer da limusine, após cantarolar “My Way”:
“- Logo será meia noite.”
“- Nós precisamos rir antes”, responde ela.
E a piada mais conhecida do cinema é encenada:
“- Siga aquele táxi!”
Mas a vida é sempre curta para um desejar que nunca acaba.
Como entender “Holy Motors”?
O próprio Carax disse em uma entrevista no Rio que cada um precisa decodificar o filme com base em seu próprio repertório, com a sua imaginação.
Em tempos de espectadores preguiçosos que querem tudo mastigado, pronto para ser esquecido, o filme de Leos Carax pode causar indigestão.
Mas não para aqueles que gostam de sonhar de olhos abertos. Para esses, “Holy Motors” é um alimento raro e bem-vindo.

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