segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Loucas de Alegria


“Loucas de Alegria”- “La Pazza Gioia”,Itália, França, 2016
Direção: Paolo Virzi

Um mar de um azul espantoso é o pano de fundo da primeira cena que vemos. Uma mulher jovem com um carrinho de bebê, da ponte, olha o mar lá embaixo. Um arrepio de medo se insinua.
Mas já estamos em uma vila toscana transformada em hospital psiquiátrico judiciário. A movimentação e a gritaria só cessam na hora em que as pessoas são sedadas para dormir. Aliás, nem isso, porque algumas zanzam pela casa.
E salienta-se uma loura espalhafatosa que fala alto e dá ordens a torto e a direito. É Beatrice ( Valeria Bruni-Tedeschi, ótima) uma aristocrata que surtou e arruinou a família. Considerada perigosa, não pode sair da vila.
Quando chega uma jovem tatuada, suja, descabelada, andando de muletas, com a perna machucada, chama logo a atenção de Beatrice que se aproxima dela.
As duas são o centro de “Loucas de Alegria”. O que as une é a vontade de fugir.
A depressiva Donatella (Micaella Ramazoti, excelente), é empurrada para a vida por Beatrice, que não tem medo de nada, sempre enfática e a mil por hora.
E as aventuras das duas vão fazer a plateia rir e depois chorar. Tão diferentes, no fundo são parecidas. Ambas dividem uma infância triste e vidas interrompidas por atos de violência que acabaram estigmatizando-as como indesejáveis à sociedade.
E entramos com elas num turbilhão, comandado por Beatrice, a quem não faltam ideias grandiosas, sempre envolvendo uma vida de luxo e riqueza que ela perdeu.
Já a mais moça tem na cabeça um filho, que ela não sabe onde procurar. E lembramos do mar azul do início. Mãe
e filho corriam perigo mesmo.
Paolo Virzi, diretor de “O Capital Humano” de 2013 com Valeria Bruni-Tedeschi e de “A Primeira Coisa Bela” de 2010 com Micaella Ramazoti, une as duas ótimas atrizes em “Loucas de Alegria” e conquista nossa aflição pelas duas, perdidas na noite e dia que passam fugidas da Villa Biondi.
Vamos entendê-las melhor e perceber que é a angústia o que as move.
A agitação maníaca de Beatrice a impede de pensar sobre o porquê da sua internação. Seu surto foi a sua ruina, impedindo-a de viver a realidade. Uma paixão bandida foi um mergulho na insanidade.
Já Donatella, movida pelo amor e ódio, tomou decisões trágicas que vão condená-la à solidão e auto-destruição.
Mas a fuga é um elo de união entre elas. E as meninas tristes que não tiveram apoio ou não souberam se aproveitar dele, afastadas do mundo, descobrem uma amizade que poderá ser um benefício terapêutico e uma esperança de dias melhores.

E uma lágrima rola ao som de “Senza Fine”, cantada por Gino Paoli, ao fim de “Loucas de Alegria”, uma bela comédia dramática que nos envolve e comove.

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