sábado, 3 de setembro de 2016

Ben-Hur



“Ben-Hur”- Idem, Estados Unidos, 2016
Direção: Timur Bekmambetov

Para quem viu, em 1960, o “Ben-Hur” de William Wyler (“remake” do primeiro, de Fred Niblo, de 1925), que ganhou 11 Oscars, o filme do cazaque Timur Bekmambetov não chega a empolgar. Por que? Porque o filme de Charlton Heston impregna nossa memória com uma emoção que falta ao novo “Ben-Hur”.
Com um roteiro focado na dominação do povo romano sobre o povo judeu que habitava a Palestina no século I da era cristã, perde-se a intenção de seguir dois irmãos que não tinham nem o mesmo sangue, nem os mesmos deuses, em seu conflito pessoal de amor e ódio. A ideia seria a de mostrar um filme de soldados e exércitos cruéis. Oprimidos e opressores.
Soa mais contemporâneo? Mais político? Mas tal ideia se perde já que os dois personagens principais continuam sendo a atração.
Assim, Judah (o príncipe judeu, interpretado pelo neto de John Huston, Jack Huston) e Messala (o órfão romano adotado pela família judia, papel do fraco ator Toby Kebbell), no início rapazes inseparáveis, viram inimigos ferozes e, diferente da história original, acabam novamente como inseparáveis, no final boboca.
Ou seja, tentaram mudar o foco da vingança de Ben-Hur para o perdão. Certamente mais apropriado para os nossos tempos do politicamente correto. Mas para quê mexer numa história tão conhecida? Para quê fazer um “remake” que é diferente do original? Falta de bons roteiros?
Porque no livro do general Lew Wallace de 1880, Messala morre na cena da corrida das bigas, que também é o fim de Stephen Boyd, ótimo no filme de 1959. Já no filme atual, ele só é ferido e perde a corrida para Ben-Hur, humilhando assim Poncio Pilatos e sai louco por uma vingança mas é dominado novamente por uma afeição a Ben-Hur.
Aliás, reza a lenda, alimentada por Gore Vidal, um dos roteiristas do filme de William Wyler, que havia uma intenção, nas entrelinhas, de fazer um par gay dos dois rapazes. E esconderam isso de Charlton Heston porque ele era muito conservador e não teria aceito o papel.
Outros tempos. Outros atores. Outros filmes.
Aliás, a figura de Jesus, que não era mostrada na versão de 1959, nessa atual é o que há de melhor, como atuação e composição de personagem. Rodrigo Santoro mostra a que veio, fazendo da figura mais famosa, o centro emocional do filme, não só pela mensagem que comunica ao mundo mas pela presença suave e poderosa do ator brasileiro.
Mas Bekmamtov também mostrou ser bom diretor, já que a cena das bigas, foi muito bem feita, usando os próprios atores e não substitutos digitais, o que impregna de perigo o ponto alto do filme.
Sem esquecer a batalha naval, também emocionante, onde o inglês Jack Huston, apesar de não ser nenhum Charlton Heston, tem mais chance de mostrar seus talentos como ator.
As mulheres que interpretam a mãe, a irmã e a mulher de Ben-Hur passam desapercebidas, tanto quanto Morgan Freeman, meros figurantes.
Resumindo, quem não viu o filme de 1959, vai se entreter com o de 2016, não mais do que isso.







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