quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Olhos da Justiça


 
“Olhos da Justiça”- “Secret in their eyes”, Estados Unidos, 2015
Direção: Billy Ray

Tudo aconteceu por causa de Julia Roberts, 48 anos, Oscar em 2001 por “Erin Brockovich”. Ela leu o roteiro do diretor Billy Ray de “Olhos da Justiça” e palpitou muito. Queria um papel que a fizesse desaparecer. Usou lentes de contato que tornaram seus olhos opacos, prendeu o cabelo e a boca abandonou o sorriso e contorceu-se para baixo.
Roberts chamou o marido Danny Moder para ser o diretor de fotografia e deve ter pedido um salário à altura. Não foi ela a primeira mulher a receber 20 milhões de dólares pelo papel em “Erin Brockovich”? Faz ela muito bem. Equiparação salarial com os homens, é ainda algo pelo que se tem que brigar não só em Hollywood.
Sua personagem era para ser lésbica no roteiro original e perder a mulher num assassinato. A Jess de Julia Roberts, ao invés disso, perde a filha de 20 anos, a única coisa boa da vida dela, que é policial de um esquadrão anti-terrorismo.
Em Los Angeles, 2002, a paranoia do ataque às Torres Gêmeas em Nova York, um ano antes, faz todo mundo ver terrorista por toda a parte.
Ray (Chiwetel Ejiofor) e Jess (Julia Roberts) trabalham  bem junto e os dois se abalam profundamente com o estupro e o assassinato da filha de Jess. Ray sente-se culpado por não conseguir provar nada contra o suspeito, um rapaz que frequenta uma mesquita, próxima de onde encontraram o corpo da vítima e que pode estar envolvido em terrorismo.
Numa foto de um piquenique, ele olha para a garota com olhos de cobiça.
No segundo tempo do filme, em 2015, Ray está aposentado mas não conseguiu se esquecer um só minuto do caso da filha de Jess. Volta a Los Angeles e também revê uma paixão não correspondida, que era de Homicídios e agora é promotora (Nicole Kidman, que não mudou nem um fio de cabelo desde 2002).
Já Jess dá um susto em Ray:
“- Nossa! Você parece que envelheceu um milhão de anos...”
Por acaso você viu “O Segredo dos Seus Olhos”, filme argentino de 2009, dirigido por Juan José Campanella, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010? Se viu, vai ficar decepcionado, porque o roteiro desse thriller, uma adaptação do filme argentino, não tem nada a ver nem com o clima emocional, nem com a atuação intimista e divertida de Ricardo Darín e Guillermo Francella (o estupendo Arquimedes Puccio de “O Clã”). Nem muito menos com o charme e o romance contido entre Darín e Irene Menéndez Hastings, que só tem em comum com Nicole Kidman, o fato de ser a chefe de Darín, como Kidman era chefe de Ray quando aconteceu a tragédia.
O clímax do final vira uma coisa chocha e a substituição do personagem de Pablo Rago, cuja bela mulher é estuprada e assassinada, nos anos 70, pela Jess de Julia Roberts e a filha, não acrescenta nada ao filme, ao contrário, diminuiu o suspense e o apelo.
Pena. Parece que a presença do diretor do filme argentino, Juan José Campanella como diretor executivo, não ajudou ou até atrapalhou Billy Ray, que fez tudo ficar tão diferente, que o encanto da história misteriosa e romântica, naquele prédio antigo e imponente em Buenos Aires, atulhado de processos, se perdeu.
Fui correndo rever “O Segredo dos Seus Olhos” e recuperei o que “Olhos da Justiça” quase roubou de mim. Nada como o original.

Nenhum comentário:

Postar um comentário