terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Macbeth - Ambição e Guerra



“Macbeth – Ambição e Guerra”- “Macbeth”, Reino Unido, França, Estados Unidos, 2015
Direção: Justin Kurzel

Uma história como a de “Macbeth”, tão conhecida, encenada e filmada por gênios, parecia não guardar nada de novo. E, no entanto, quanta coisa interessante a natureza humana dos personagens de Shakespeare tem ainda para mostrar, a quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, nessa versão de Justin Kurzel, que se lê nas entrelinhas, nos sussurros, nos olhares encobertos e dissimulados.
Tudo começa com a morte do filho ainda criança do casal. Os rituais fúnebres e do luto, o pesar, o silêncio em torno ao pequeno cadáver. Fogo consome o corpinho mas não aquece o frio dos corações enlutados.
E a canção macabra das feiticeiras, a velha, a de meia idade com o bebê no colo e a menina:
“- O belo é feio, o feio é belo...”
Tudo ali vai mudar. A inversão do que seria esperado. A surpresa vai acontecer. A perda e a raiva vão superar o bom senso.
Paisagens vastas dão lugar a campos de neblina onde só se veem os vultos dos homens. Rostos pintados de negro, preparam-se para a batalha. Quando soa a hora, correm para o corpo a corpo com o inimigo. Enfrentam-se com ferocidade. O sangue jorra junto à lama.
E o guerreiro Macbeth vê as feiticeiras:
“- Serás rei...”
Elas estão fora ou são projeções de sua mente, já tomada pela loucura? O que dizem são profecias ou desejos loucos?
Vencida a batalha, o rei recebe seus nobres e dignifica Macbeth.
Pobre rei que não sabe o que o espera. Pobre reino da Escócia que irá presenciar tantos horrores. Pobre Macbeth que, quanto mais consegue o poder, mais perde a sanidade, a possibilidade de viver bem com sua Lady, que, também infeliz, porque guiada por seus próprios demônios interiores, vai visitar o inferno.
Marion Cotillard, com sua coroa de pérolas, vestido de linho e pérolas em cascata sobre o peito, é a imagem da desolação, quando percebe que o rei seu marido, um Michael Fassbender ferido na alma, não está mais lá. Habita outro reino já. A loucura tomou conta dele. Nada restou.
Há quem diga que esse “Macbeth” do australiano Justin Kurzel está muito longe do original. Querem ver mãos sendo lavadas de um sangue imaginário, querem ouvir gritos ensandecidos.
Sem dúvida, o conceito estético do Macbeth apresentado aqui é original e sofisticado. A beleza terrível dos campos, águas e montanhas tingidos de sangue talvez sejam outra tradução do som e fúria. Os puristas podem não gostar. Eu, que sou fã das imagens que dizem mais que mil discursos, fiquei fascinada.

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