sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Juan e Evita - Uma História de Amor


“Juan e Evita – Uma História de Amor”- “Juan y Eva”, Argentina, 2011
Direção: Paula de Luque

Na tela em “close” um operário fala de sua vida difícil, em preto e branco. No rádio, uma estrela brilha narrando a história de Carlota, a Imperatriz do México. E, no “club” de San Juan, Argentina, os cristais tilintam sinistramente, anunciando o terremoto que arrasaria a região em 1944.
É nesse cenário que a atriz Eva Duarte (Julieta Diniz) conhece o coronel Perón (Osmar Núnez), vice-presidente da República, Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria do Trabalho e Provisões.
E presenciamos o primeiro momento de intimidade de Juan e Eva. Ela cochicha ao ouvido de Perón, que parece ficar feliz com o que ouve, durante uma apresentação no Luna Park, em benefício da população vitimada pelo terremoto.
Contam que ela teria dito:
“ - Obrigada por existir!”
Depois do espetáculo, na mesa de militares, onde é a única mulher, perguntam:
“- Como explica o sucesso de Carlota do México?”
“- A morte prematura eterniza os romances”, responde Eva (1919-1952), sem saber que falava de seu destino.
Mas não foi só isso.
O filme de Paula de Luque conta em cenas simples e pontuais, mas belas e trabalhadas, como a intimidade crescente do casal se torna paixão, acompanhando a ascensão política de Juan Domingo Perón.
A câmera se insinua na cama dos dois, e, com elegância, registra o amor, o fogo sensual que os invade. Aquela bela mulher vai ver crescer sua influência sobre o homem bem mais velho que ela e mulherengo.
Eva, de personalidade forte e inteligente, afasta uma a uma, as mulheres que gravitavam em torno ao coronel viuvo, até tornar-se a única. Só não consegue conquistar a elite social de Buenos Aires e militares conservadores que não a perdoam por ser filha ilegítima, atriz, proletária e viver com Perón sem ser casada.
Mas os trabalhadores amavam Perón e Eva se torna a imagem mais brilhante do peronismo.
Baseado no livro de Jorge Coscia, “Juan y Eva – El Amor, El Odio y La Revolución” , o filme se ocupa o tempo todo do casal mais famoso da América Latina e de como o coronel Perón, que depois foi eleito três vezes Presidente da República, tornou-se o lider de um movimento com o seu nome, importante polícamente, ainda hoje.
Paula de Luque mistura cenas em preto e branco que simulam um documentário, na última parte do filme, com cenas reais. É impressionante ver a Praça de Maio no dia 17 de outubro de 1945, lotada por uma multidão que acena lenços brancos para Perón, que discursa para 300.000 com os dois braços ao alto, gesto seu característico.
A diretora resume seu filme numa frase:
“- É um grande romance de duas pessoas que, depois, transcende as quatro paredes de sua casa e derrama-se sobre o povo, tornando-se parte do universo público.”
Muito interessante e bem cuidado, o filme consegue unir romance e política, ensinando a história da Argentina de uma forma eloquente e, claro, com admiração pelo homem e pela mulher que a escreveram.

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