sexta-feira, 1 de novembro de 2013

37a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo




37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Na segunda semana da Mostra gostei dos filmes que comento abaixo: “O Grande Mestre”, “Ana Arábia” e “Pais e Filhos” que ganhou o prêmio de Melhor Filme de Ficção Internacional do Público, ontem na premiação. Abaixo dos filmes coloquei o dia, hora e local onde serão reexibidos na repescagem da Mostra. Vale a pena!

1 – “O Grande Mestre”- “The Grand Master” Hong Kong,
       2013   
       Direção: Wong Kar Wai

Já na primeira cena do filme, o diretor, nascido em Shangai mas que vive em Hong Kong, 55 anos, mostra o espírito do que vamos ver. Uma luta marcial que é uma arte esquecida.
Um contra muitos, no meio de uma chuva torrencial, sem nenhuma arma a não ser ele mesmo, suas mãos, braços, pernas e uma sensibilidade aguçada. Vence a todos sem deixar cair da cabeça o chapéu Panamá, que o identifica nas cenas brilhantes de água na noite escura.
Ip Man (Tony Leung convincente no papel), o grande mestre que realmente existiu, faz uma entrada triunfante.
A câmera de Wong Kar Wai acompanha a luta de perto e é estonteante ver o mestre em ação. Vai de um em um, certeiro e econômico, deixando todos no chão.
O ballet do kung fu, mostrado de perto, fascina com sua precisão, agilidade e graça.
Vamos seguir a história do mestre, com “flash backs”, sua aceitação como discípulo do mestre Gong Yutian, no fim dos anos 30, no sul da China e o respeito com que é tratado por seus pares no bordel dourado , onde se reunem.
Até que chega ela, Er Gong (Zhang Zyi), a filha do mestre morto, que aprendeu com ele as 64 formas do bagua, outra linha do kung fu.
A luta deles é a mais bonita porque não é para que ninguém se machuque. É pura beleza e arte. Um homem e uma mulher, colocados frente a frente, para que o melhor domine o outro.
Os perfis que se roçam, as mãos que sustentam o outro  para que tudo possa recomeçar, os olhares que não se perdem um do outro, os voos na escada e a mocinha sobre o corrimão, qual pássaro pousada, vencedora, encanta os olhos da plateia.
Há cenas que são quadros (fotografia de Phlipe LeSourd),
como a do antigo mestre treinando na neve do jardim, observado por sua filha pequena que vai aprender a arte do pai e não terá para quem passá-la por ironia do destino.
Depois da cruenta guerra com o Japão e da Segunda Guerra, o kung fu torna-se em Hong Kong uma luta mais popular e menos sofisticada. Vemos uma rua inteira com escolinhas que pretendem ensinar algo que não é mais a arte milenar.
Como tudo na vida, o kung fu tem que mudar e é então que aparece o menino que será Bruce Lee. Ele vai encantar o Ocidente com a beleza e a graça letal de algo que não conhecíamos e que o grande mestre ensina ao seu discípulo mais famoso.
Bela homenagem do diretor de “À Flor da Pele”2001, à milenar arte marcial de seu país natal.
(O filme será reexibido domingo 3/11 no CineSesc às 21:50 hs)

2- “Ana Arabia”, Israel, França, 2013
Direção: Amos Gitai

Quem é Ana Arabia?
Certamente não a mocinha ruiva que conversa com uns senhores, num lugar pobre mas ajeitado. Onde? Também não sabemos.
Mas ela se apresenta como Yael, parece judia e entrevista Yussef, um árabe que foi casado com uma judia que já morreu.
Ele conta de seus filhos e filha Miriam. E também fala sobre a atual situação dos árabes e dos parentes espalhados por lugares do Oriente Médio.
Os homens daquele lugar vivem hoje de maneira diferente do que costumavam. Um dos filhos de Yussef era pescador mas o mar de Haifa não tem mais peixes, poluido e mortal para os peixes com as explosões que ocorrem. Virou mecânico.
A vida deles é o que pode ser. A simplicidade é a marca do que eles são no momento.
As mulheres contam histórias mais sentimentais para Yael.
Miriam, que trabalha na horta, conta como como tudo começou, ajudando a mãe a transformar um terreno pedregoso e cheio de lixo numa pequena mata que protege a horta e o pomar.
Ela fala da natureza, da sabedoria de deixar crescer ervas daninhas em torno ás árvores porque assim ficam mais protegidas e das urtigas que deixa crescer para que os moleques não venham correr por ali e estragar as plantas.
“- A natureza trabalha mais que os homens. O inverno acabou faz pouco e tudo já brotou. Até frutos apareceram.”
A viúva de um ds filhos de Yussef, Sarah, que é judia, fala sobre o amor.
“- As pessoas fingem mas o amor verdadeiro é difícil de encontrar...”
E por isso contenta-se em trabalhar na casa e cuidar dos filhos. Não teve um casamento feliz.
E assim vai Yael perguntando e as pessoas contando histórias do passado, quando os árabes se integravam mais com os judeus do que hoje em dia.
Mas a mãe de Miriam, que nasceu na Polonia e teve que enfrentar um campo de concentração antes de vir com a família para Israel, teve que lutar contra tudo e todos, dos dois lados, para ficar com o seu Yussef.
A história dessa convivência dentro dessa família e naquele lugar que tinha judeus morando lado a lado com árabes, é o foco de interesse de Amos Gitai.
Ele filma “Ana Arabia” num plano sequência de 81 minutos. Admirável, porque sem cortes, tudo tem que ser minuciosamente ensaiado antes da filmagem. E, no entanto, os atores parecem tão à vontade, tão verdadeiros em suas falas.
No fim, a câmera sobe e ficamos vendo que a cidade cerca aquele lugar que parece fora do mundo.
( O filme será reexibido sábado 2/11 na Cinemateca- Sala BNDES às 20:30 hs)

3- “Pais e Filhos”, Japão 2012
Direção: Hirokazu Kore-Eda

Tudo parecia tão em ordem naquela jovem família de classe média alta.
O pai, Ryota, arquiteto de sucesso, trabalha muito num escritório famoso, ganha muito bem e não tem tempo para a família. Chega tarde e já está na hora de Keita, seu filho de seis anos, ir para a cama. Mas isso não parece incomodar nenhum dos dois.
A mãe Midori é dedicada a esse filho, que ela trata com carinho. Ele é bonzinho, afetuoso e não dá trabalho nem em casa, nem na escola.
Tudo isso vai mudar.
A mãe recebe uma carta do hospital onde Keita nascera, distante da cidade onde moram mas perto da mãe de Midori, que iria assisti-la nessa época, já que o marido não podia largar o trabalho.
E a notícia chega como uma bomba: houvera uma troca de bebês. Keita não é filho de Ryota e Midori.
Depois do choque inicial vemos a consternação do casal  mas providências tem que ser tomadas. Encontros com o pessoal do hospital e, inevitavelmente, com a outra família.
“- Agora está tudo explicado!”, diz o pai quando voltam de uma dessas penosas reuniões.
Essa frase vai ecoar na cabeça de Midori e assustá-la. “Pais e Filhos” é um filme simples, bem feito e que conquista a plateia com o drama dos dois meninos trocados.
A questão sangue versus convivência será visitada por todos os envolvidos.
E a pergunta principal respondida: o que é ser pai de um menino para um homem? É uma pergunta que se encaixa em qualquer cultura.
Steven Spielberg comprou os direitos do filme quando ele passou no Festival de Cannes e ganhou o Prêmio do Júri. Vai ser interessante comparar as duas versões.
( O filme será reexibido no domingo, às 19:30 hs no CineSesc)

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