sábado, 9 de novembro de 2013

Capitão Phillips


“Capitão Phillips” – “Captain Phillips”, Estados Unidos, 2013
Direção: Paul Greengrass

Algo terrível vai acontecer para aquele homem. Mas ele ainda não sabe.
Vai para o aeroporto, de onde seguirá para seu posto como capitão de um navio que transportará carga do porto de Omã para o Quenia. No carro, conversa com sua mulher (Catherine Keener) sobre a vida e o futuro dos filhos:
“- Essas minhas viagens deveriam ficar mais fáceis mas é o oposto. Agora tudo está mudando tanto... O mundo de nossos filhos também vai ser muito diferente, Ange. Só os mais fortes sobrevivem...”
Parece um presságio. O Capitão Phillips (Tom Hanks), de óculos, fala mansa, nada atlético, vai entrar para a história. Ele será o foco de um dos episódios que chamou a atenção do mundo todo: o sequestro de um navio americano, o Maersk Alabama, por piratas somalis em abril de 2009.
A conhecida e perigosa rota do “Chifre da Ásia” vai fazer mais uma presa. E nós, que conhecemos ou não essa história, vamos ficar com o coração aos pulos, frente aos acontecimentos e vamos sofrer como a tripulação do navio, que tenta desesperadamente evitar o confronto com os somalis.
Em vão.
Quando os magérrimos, assustados e agressivos piratas sobem a bordo, vestidos com farrapos, a fleugma do capitão e de sua tripulação, some.
E, o que faz toda a tensão ser ainda mais realista, foi a ideia que o diretor Paul Greengrass teve de não apresentar os atores americanos aos somalis:
“- Eu os vi pela primeira vez pelo binóculo, quando estavam prestes a tomar o navio,” disse Tom Hanks numa entrevista. E ele só foi entender o que diziam quando viu o filme com legendas. Isso mostra o talento para contar histórias do diretor inglês, de 58 anos, responsável pelos filmes de ação com Matt Damon, “A Supremacia Bourne” 2004 e “Ultimato Bourne” 2007, bem como “Voo United 93” de 2006.
É impressionante o embate dos primeiros olhares entre o chefe dos piratas e o Capitão Phillips. Ambos expressam o medo que mostra o perigo daquele enfrentamento e, ao mesmo tempo, quase que lemos, nas palavras não ditas, o reconhecimento mútuo. Do desempenho dos dois capitães vai depender o desfecho daquilo tudo.
O novato Barkhad Abdi que faz Muse, o lider dos somalis, nascido na Somália e que veio pequeno para os Estados Unidos, atua de uma maneira tão convincente que quase nos esquecemos que ele também é um ator. Expressa fúria, medo e também esperança de poder viver uma vida melhor na América (quanta ironia...) com o dinheiro do sequestro. Sabemos pelas cenas iniciais que a tribo dele tem que pagar altas somas para um bando que explora os antigos pescadores, transformando-os em feras soltas à procura de sua sobrevivência.
O roteiro, escrito por Billy Ray, baseou-se no livro do próprio Capitão Richard Phillips e Stephan Talty e o filme foi rodado em 60 dias em pleno alto mar.
A fotografia de Barry Ackroyd, que sempre trabalha com Greengrass, acrescenta nuances à narrativa e ajuda a aumentar o clima de medo permanente, nos espaços escuros ou muito claros no navio e na baleeira laranja, sacudida pelas ondas, no que é ajudado pela música de Henry Jackman, ampliando com seus sons, a tensão já quase insuportável.
Tom Hanks, 57 anos e dois Oscars consecutivos por “Philadelphia”1993 e “Forrest Gump”1994,  já está sendo comentado como forte candidato ao Oscar de melhor ator. Seu Capitão Phillips é, mais que tudo, um ser humano tendo que lidar com seus limites de resistência à fome, sede, medo e assim mesmo, tendo que manter a cabeça pensando, seguir tudo que sabe sobre situações de perigo como a que está vivendo, sem perder nem mesmo a compaixão.
E a cena final vale mesmo um prêmio.
Ninguém sente passar o tempo vendo “Capitão Phillips” de tanto que o filme nos envolve. Recomendo essa experiência para você também.

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