segunda-feira, 29 de julho de 2013

Apenas o Vento



“Apenas o Vento”- “Csak a Szél”, Hungria, 2012
Direção: Benedek Fliegauf

Logo no início somos avisados. Na Hungria, em 2008 e 2009, ocorreram assassinatos de ciganos. Famílias inteiras dizimadas. Mas não vamos ver um documentário. “Apenas o Vento” é um filme de ficção, baseado em fatos reais. O diretor húngaro Benedek Fliegauf também escreveu o roteiro e seu filme ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim.
Um dia nasce. O sol por trás das árvores começa a aquecer a terra. Muitas moscas voam em meio a lixo.
Um menino com o torso nu e o rosto sombrio, escuta pessoas cantando um lamento:
“Eles mataram seu pai
Esconderam sua cova
Seu coração está enterrado
Debaixo das pedras.”
Dentro daquela casa tudo está escuro. Vagamente percebemos pessoas deitadas numa cama. Amontoados.
De repente, uma mulher afasta com delicadeza uma perna de criança pousada em cima da dela. Levanta-se, prepara um prato e alimenta um velho, seu pai.
“- Volto à noite”, avisa.
Duas outras crianças, adolescentes, vão também se levantar daquela cama.
A família de ciganos mora em um casebre junto a outros, na borda de uma floresta.
A mãe tem dois empregos. Seu rosto determinado e duro, responde às agressões que sofre durante o dia com silêncio e olhos baixos.
A mocinha vai à escola e também passa por perseguição. Mas ela é a personagem mais amorosa. Conversa no computador da escola com o pai. A esperança é ir encontrá-lo no Canadá.
“- A família Lakatos foi morta. Destroçados com uma escopeta. Papai, você deveria voltar para casa.”
“- Vocês todos vão vir para Toronto quando sua mãe conseguir o dinheiro. Não se preocupe. Fiquem juntos à noite. Tranca a porta e as janelas.”
Ela desenha bem e promete fazer um bem bonito para as mocinhas de batom preto levar para o tatuador.
Voltando para casa encontra a menina, filha da vizinha drogada e leva ela para um banho no rio. Colhem flores no campo e ela coloca uma coroa na cabecinha da pequena. É o único momento doce e belo do filme.
O irmão dela, Rió, não vai à escola. Perambula pela floresta. Vasculha lixo e casebres abandonados. Abastece seu esconderijo. Fareja o ódio. Parece que sabe que chegou o dia.
A câmara gruda quase o tempo todo nos personagens e isso nos angustia. É anti-natural essa invasão do espaço íntimo de um ser humano. A tentação de ir embora do cinema, para não ver o que vai acontecer, é grande.
Quem fica, sofre com o drama daquela família que representa as outras todas que morreram.
A “limpeza” étnica no Leste europeu assusta e mostra para onde pode caminhar a humanidade, se não estivermos atentos.

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