sábado, 6 de abril de 2013

Sejam Muito Bem-vindos





“Sejam Muito Bem-vindos”- “Bienvenue Parmi Nous”, França 2012
Direção: Jean Becker

Aquele senhor tem um problema. Vê-se pelo modo como fala, como olha as pessoas, como se movimenta.
“- O dia está lindo!”, diz sua mulher.
Mas ele está cinzento e, ao invés de comprar o pernil encomendado por sua esposa, traz para casa um rifle com pouquíssima munição.
“- Desistiu da pesca? Vai caçar javalis?”, tinha perguntado o dono da loja de esportes.
Não. O senhor Taillandier, pintor de sucesso, conhecido na cidadezinha onde mora, não vai caçar. Quer se matar...
O filho estranha o jeito do pai quando recebe no almoço seu presente de aniversário:
“- Uma viagem para a Itália com mamãe!”
Ele sai da mesa:
“- Não tenho fome...”
A neta comenta:
“- O que tem o vovô? Está nervoso...”
E o filho pergunta para a mãe:
“- O que é que o papai tem?”
“- Não sei... Acho que é depressão. Tentei falar com ele mas você sabe como ele é...”, responde desanimada.
Isso pode acontecer com os melhores seres humanos. Ao ver que a vida vai acabando, a juventude que se foi, aquilo que não aconteceu, a pessoa se depara com uma grande tristeza, raiva e mau humor com tudo e todos. É a depressão, como rótulo.
Taillandier ( o grande ator Patrick Chesnais) deixa então um bilhete para sua mulher (Miou- Miou) e sai sem rumo pela estrada.
A câmara fixa seus olhos baços e seu rosto contraído, que são o retrato de uma encruzilhada onde ele se encontra e não decidiu ainda para onde ir.
Quer viver, apesar de tudo ou morrer? O rifle está no porta-malas.
Chove muito e no farol, alguém invade o carro do pintor perdido. É Marilou (a estreante Jeanne Lambert), uma garota de 15 anos, que foi expulsa de casa pela mãe e pelo padrasto.
Ela parece tão perdida como Taillandier.
Mas esse encontro casual vai selar uma mudança na alma daqueles dois. Um vai despertar no outro algo que parecia inexistente antes de se encontrarem.
Jean Becker, filho do grande diretor de cinema Jacques Becker(1906-1960), que dirigiu “Les Amants de Montparnasse”(1958), e que faz 80 anos em maio, é conhecido do público brasileiro por “Minhas Tardes com Marguerite” (2010) e “Conversas com Meu Jardineiro” (2006). São filmes que falam do ser humano com carinho e de como precisamos do outro para nos reinventarmos. Seus personagens são pessoas que gostaríamos de conhecer.
Alguns acharam o filme chinfrim, raso e simplório. Talvez porque não perceberam que a força dos filmes de Jean Becker é olhar o ser humano com simplicidade e delicadeza.
Adaptando o romance de Eric Holder, o diretor de “Sejam Muito Bem-vindos” privilegia, como sempre, o carinho que mostra com seus semelhantes, mostrando que a vida oferece sempre uma oportunidade de crescimento em uma nova direção.
Muita gente gosta de ir ao cinema para ver isso. 

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