sábado, 12 de janeiro de 2013

O Som ao Redor

“O Som ao Redor” Brasil, 2012
Direção: Kleber Mendonça

Desde o início, antes das imagens, nosso ouvido presta atenção. São sons de pássaros, depois tambores surdos, instrumentos de percussão executam uma melodia.
Depois vemos fotos antigas em preto e branco: um portão de fazenda, camponeses na lavoura, negros e brancos, a casa grande. Tudo muito simples e poético. Mas sabemos como viviam naquela época.
Corte para uma menina de patins e um menino de bicicleta, em cores, numa área cimentada e ladrilhada de um prédio, meio garagem, meio lugar de criança brincar, meninas com bambolês, babás com seus bebês, folia.
O muro alto é ultrapassado pela câmara que mostra um operário, usando proteção de ouvido, fazendo um barulhão no prédio vizinho.
Um cão uiva na noite e a moça (Malva Jinkins) não consegue dormir. Vai fumar na cozinha. O filho aparece e pergunta:
“- Por que não toma aquele remédio, mãe?”
Ela toma um e coloca outros dentro de um bife para o cachorro do vizinho. Talvez assim ele dê uma folga por uma noite.
Em outro apartamento da rua, um casal de namorados corre da sala onde dormiam porque a empregada chegou com as netas pequenas que logo ligam a televisão. O assunto do programa não é apropriado mas ninguém toma nenhuma providência.
A empregada é antiga na casa e é tratada pelo jovem patrão (Gustavo Jahn) com intimidade.
Mas quando o casalzinho desce para a garota pegar seu carro, uma surpresa desagradável: roubaram o som dela. E o pior é que o rapaz até sabe quem foi que fez isso. O primo que não precisa roubar mas é desajustado (Yuri Holanda). Pratica o pequeno crime para mostrar poder.
Logo chegam na rua uns homens, liderados por Clodoaldo (Irandhir Santos), que se oferecem para fazer a segurança particular da rua por R$20,00 por morador.
Num amplo apartamento de cobertura, um antigo senhor de engenho (Waldemar Solha), avô dos rapazes que moram na mesma rua, é o dono de muitos imóveis na região. Ele se comporta como se fosse dono da rua. Pensa que ainda é um “coronel das antigas”.
O pesadelo de uma das meninas que mora naqueles prédios consegue retratar o sintoma geral: medo.
E vai por aí o filme.
Numa rua, antes só de casas com jardins e árvores, agora só resta uma. As outras cederam espaço para prédios de muitos andares, onde os moradores confinados estão inseguros.
Kleber Mendonça, 44 anos, do Recife, dirigiu e escreveu o roteiro e também é o co-responsável pelo desenho de som e montagem de “O Som ao Redor”, seu primeiro longa de ficção, premiado em festivais aqui e no exterior e que apareceu como um dos melhores filmes do ano na lista do New York Times.
“O Som ao Redor”denuncia sem estardalhaço as pequenas e grandes crueldades do dia a dia do “way of life”que escolhemos. Modo de vida que coloca uns contra os outros, num clima de paranóia que alimenta uma procura por uma falsa segurança e maneiras pouco eficazes de garantirmos nossa paz.
É um filme original e raro em sua proposta.
Não dá para sair do cinema e tirar o filme da cabeça. Faz pensar.

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