quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Paris / Manhattan





“Paris/Manhattan”- Idem, França 2012
Direção: Sophie Lellouche

Quem não gosta de Woody Allen vai detestar esse filme.
Quem gosta, pode detestar também. Mas por outros motivos. Explico. Podem pensar: como é que essa menina tem a coragem de fazer um filme homenageando Woody Allen? E, além de tudo, em seu primeiro longa? Quem ela acha que é?
Dá inveja mesmo.
E Sophie Lellouche (nenhum parentesco com o outro, sem o “e” final no nome) é audaciosa. Convida o próprio homenageado e ele aceita vir para Paris, fazer uma ponta no filme dela.
E esse é o ponto alto do filme, claro. Todo mundo faz “oh!” no cinema quando ele aparece e se deleita com aquele jeito que Woody Allen tem de conquistar platéias no mundo todo.
Mas inteligência só não basta, é preciso ter charme também. E o filme de Sophie Lellouche tem pequenas coisas que seduzem como a luz de abajur no filme que deixa tudo no lusco-fusco, aquele toque francês de “vaudeville” com personagens que entram e saem, quase sempre se encontrando com surpresa, pequenos nadas na decoração, velas e sapatilhas de ballet, roupas de elegância despreocupada e aquele jeitinho de falar que só as parisienses tem.
Alice Taglioni, que faz a personagem principal, Alice, além de ser bela, loura, magra e alta, porta-se diante das câmaras com a naturalidade de uma atriz tarimbada e o talento de uma “top model” e às vêzes, parece muito jovem. Ela esbanja um “je ne sais quoi” que algumas mulheres tem e que vem de um lado menina que ela guardou em sua personalidade e que dá um brilho especial no jeito com que ela fala e se movimenta na tela.
Sophie Lellouche, a diretora e roteirista, também tem essa característica infantil e assim conduz seu filme, o que permite que ela imite Woody Allen, seu idolo, até no modo como são mostrados os créditos iniciais.
Claro que o roteiro é uma historinha sem pretensões e explora o fato da personagem principal contar tudo o que se passa com ela ao poster gigante de Woody Allen que trona em seu quarto.
É o seu guru, que responde a ela com frases de “Manhattan”.
Alice é farmacêutica e gosta tanto de cinema que, ao invés de remédios, receita DVDs para os seus clientes, conforme a queixa. Cuidadosamente guardados entre os produtos da farmácia, as prateleiras com os filmes são a atração maior, de que todos se beneficiam. Até mesmo o ladrão, que um dia rouba o dinheiro da caixa registradora, no episódio mais divertido do filme.
Ela é solteira e o pai, ao invés da mãe judia, quer que ela se case e procura chamar a atenção dos rapazes, distribuindo cartões dela aonde quer que vá.
Um dia ela encontra alguém (o charmoso Patrick Bruel) mas só aceita o rapaz com a aprovação de Woody, com Ella Fitzgerald cantando “Bewitched”no fundo.
“Paris/Manhattan” é um bom divertimento. E vamos ficar de olho em Sophie Lellouche. Afinal, este é só o seu primeiro filme.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Amor


“Amor”- “Amour” França, Alemanha, Áustria, 2012
Direção: Michael Haneke


O que se pode dizer da vida quando vemos a morte? Nada, além de que é uma certeza. E, talvez por isso, Michael Haneke comece seu filme mostrando o fim, igual para todos nós.
Mas volta à plateia do teatro onde George e Anne assistem a um concerto de um ex-aluno. Estão ambos na década dos 80 anos, são cultos, sóbrios e exalam uma elegância sem data.
É visível a delicadeza entre eles.
Depois da conversa no ônibus, que não ouvimos, chegam ao apartamento confortável onde moram. A fechadura foi forçada, repara George. Mas ninguém entrou, nem roubou nada. Ainda.
Já no café da manhã quotidiano e agradável, na cozinha, o inesperado os visita. Anne se ausenta de si mesma e desespera George, que não sabe o que fazer. Mas logo ela volta a si e não se lembra de nada.
E, a partir daí, começa a prova mais difícil do amor. “Até que a morte os separe”.
Planos horizontais fixos e poucos “closes”, quando o diretor nos faz os olhos de George ou de Anne. No mais, a câmara aguarda, como nós, testemunhas mudas de algo que nos assombra. Freud dizia que a morte não possui inscrição no nosso inconsciente.
Mas o que importa aqui é o comportamento do amor.
George (Jean-Louis Trintignant, magnífico) encarna esse sentimento, assistindo Anne em tudo que ela precisa. E são tarefas cruéis para os dois.
Emmanuelle Riva, aos 85 anos, interpreta Anne com tal realidade, que nos comove e nos horroriza. Porque ela é o espelho do nosso futuro.
“- Você promete que não me leva mais ao hospital?” diz ela a George.
E um pouco mais tarde ajunta:
“- Não quero mais.”
George, aquele que sofre junto, só demonstra o que sente para nós, que vemos seus olhos abertos sondarem a noite e que fabrica um pesadelo que aponta o caminho cruel e necessário.
Michael Haneke, 70 anos, austríaco, ganhou sua segunda Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2012. A primeira foi para “A Fita Branca” de 2010. E uma enxurrada de prêmios importantes fazem crer que ele é o mais cotado para o prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar 2013. Emais. "Amor" está entre os 10 melhores filmes do ano, também no Oscar. E outras três indicações somam cinco no Oscar 2013: melhor diretor e melhor roteiro, ambos para Michael Haneke e melhor atriz para Emmanuelle Riva. Já foi consagrado como o melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro 2013. É forte concorrente a todas as cinco indicações no Oscar.
Entrevistado, ele disse:
“- Na minha família alguém sofreu algo assim e foi terrível para mim estar lá sem poder fazer nada. Este foi o ponto de partida do filme. Como lidar com o sofrimento de uma pessoa que você mais ama?”
Isabelle Huppert faz uma participação especial como a filha Eva, fruto do amor de George e Anne. Parece que Michael Haneke colocou nela esse “sem poder fazer nada” que ele diz que viveu.
A morte é certa. Mas sem dúvida mais suave para quem tem o privilégio de ter um amor ao lado.

Além das Montanhas


“Além das Montanhas”- “Dupa Dealuri” Romênia, França, Bélgica, 2012
Direção: Cristian Mungiu

Um cenário frio, montanhoso, desprovido de maiores encantos. A luz de um sol pálido de inverno mostra uma construção singela.
A câmara se aproxima e estamos dentro de um convento de freiras ortodoxas, vestidas de preto, véus e casquetes também negros. Trabalham na cozinha e pela conversa delas, fazem comida para alimentar crianças do orfanato local.
A Romênia, recém saída de um período negro de sua história, uma ditadura cruel do tirano Ceausescu, ganhou muitas páginas da imprensa internacional que falava e mostrava os mal afamados orfanatos, depósitos de crianças exploradas. Pois esse é o tema principal, o foco de “Além das Montanhas”, do diretor romeno Cristian Mungiu.
O filme foi adaptado de um romance baseado em fatos reais, escrito por Tatiana Niculescu, “Deadly Confessions” de 2006 e ganhou o prêmio de melhor roteiro do último Festival de Cannes, escrito pelo diretor Mungiu. As duas adolescentes, personagens principais da história, que vieram de um desses orfanatos, interpretadas por Cosmina Stratan e Cristina Flutur, deram às duas o prêmio compartilhado de melhores atrizes do festival.
A submissa freirinha Voichita, de olhos azuis transparentes, vai receber a visita de Alina, sua antiga companheira de orfanato que fugira da Alemanha, adotada por uma família em nada diferente das pessoas que exploravam as crianças órfãs, à sua mercê, na época da ditadura.
Nesse orfanato onde estiveram juntas no passado, tudo indica que se amaram como se fossem mãe e filha, filha e mãe, um amor feminino e maternal, que uma dispensava à outra. Alimentavam assim sua carência de sentimentos mais doces e reconfortantes. Uma tinha apenas a outra para poder sobreviver naquele lugar infernal.
Uma bela cena de acalanto, na qual Voichita embala Alina no convento para que ela adormeça, cantando uma cantiga de ninar, com a amiga em seu colo como se fosse um bebê, fala tudo sobre esse sentimento de mútua dependência e necessidade de amor que ambas continuavam a sentir. Nem o convento, nem a casa alemã tinham muito para oferecer àquelas duas meninas carentes e maltratadas.
Mas Voichita, em sua fuga do mundo, se entregara à religião ortodoxa, praticada naquele convento com fanatismo. O Padre e a Madre Superiora eram tratados como “papai e mamãe” pela freirinha que deslocara assim suas necessidades de afeto para a submissão e obediência cega.
Alina é um peixe fora d’água nesse ambiente severo e cheio de regras seguidas estritamente por todos ali. Aterrorizados pelo pecado, não percebiam que os demônios rondavam, tentando com a rigidez fanática, aqueles corações perturbados.
E o ato final do horror é praticado por aqueles que diziam amar a Deus.
Por amor a Alina, uma extraviada Voichita ajuda as outras freiras e o padre no exorcismo do demônio que creem habitar a mocinha. Praticam o ritual cruel em nome de um amor equivocado.
“Além das Montanhas” é um filme que nos esmaga o coração enquanto nos tortura. Cria-se uma total identificação com as vítimas na tela.
Sem dó nem piedade, o fanatismo impera onde o amor deveria tudo perdoar e compreender.
Infelizmente, a Idade Média com suas trevas, convive na Romênia com o século XXI. Inacreditável.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Filha do Pai


“A Filha do Pai”- “La Fille du Puisatier” França, 2011
Direção: Daniel Auteuil

Os romances e os filmes baseados na obra do escritor francês Marcel Pagnol (1895-1974) sempre encantam pessoas que são românticas. Não falo de romances água-com-açucar mas de amores vividos em meio a aventuras, segredos, mentiras ou verdades difíceis de dizer.
E como faz bem ver as paisagens da Provence, que é onde tudo se passa. Campos a perder de vista, capim alto, riachos de águas claras, árvores majestosas e casas de pedra. Sem falar na luz local, a mais linda do mundo.
É numa paisagem dessas que começa “A Filha do Pai”, um campo florido. Uma bela mocinha, Patricia (Astrid Bergès- Frisbey), leva o almoço para o seu pai que faz poços (o “puisatier” do título).
Daniel Auteuil, que já atuou em tantos filmes baseados na obra de Pagnol, como os famosos “Jean de Florette” e “A Vingança de Manon” de 1986, dirigidos por Claude Berri, estreia na direção e como roteirista e faz o papel do viúvo Pascal Amoretti, pai de Patricia e mais cinco filhas.
Aliás, “A Filha do Pai” é uma refilmagem de outra versão, rodada em 1940, dirigida pelo próprio Marcel Pagnol.
As relações familiares, tão importantes nos enredos criados por Pagnol, que teve suas memórias filmadas por Yves Robert em 1990 (“O Castelo de Minha Mãe” e “A Glória de Meu Pai”), aparecem aqui na relação pai e filha.
Ela, que tinha sido a única filha a estudar em Paris, é a princesa da casa mas tem caráter dócil e amoroso. Cuida das irmãs como se fossem suas filhas.
Ora, acontece que Patricia apaixona-se por um aviador, Jaques Mazel (Nicolas Duvauchelle) filho de uma família rica e fica grávida. O rapaz vai para a guerra, sem saber de nada e desaparece.
Dividido entre a honra de seu nome e o amor que tem pela filha mais velha, Pascal quer protegê-la mas, ao mesmo tempo, salvar seu orgulho e dignidade. Aparentemente duro e rígido, é com lágrimas nos olhos que vê-se forçado a separar-se de sua filha. Sua atitude é a esperada pelos padrões moralistas da época.
O fruto “pecaminoso” virá a ser o pomo da discórdia entre as famílias que o disputam, os Amoretti e os Mazel.
Sabine Azema, excelente no papel da mãe ciumenta de Jaques e Jean-Pierre Darroussin que faz seu marido, são típicos personagens de Pagnol que divertem e emocionam sem nunca mostrar vilania.
Felipe, empregado de Pascal, apaixonado por Patricia, é outra figura humana, que se preocupa mais com os outros do que consigo mesmo. Kad Merad, argelino, faz o papel que foi de Fernandel no primeiro filme e sai-se muito bem, soando convincente na sua generosidade.
Uma única canção é ouvida muitas vezes: “Cuore Ingrato” é o contraponto exato para a história que está sendo contada.
Quem sabe até mesmo quem pensa que só gosta de filmes de ação violentos, vai deixar-se levar pela beleza das paisagens de “A Filha do Pai”? Experimentem. Um pouco de saudosismo não vai fazer mal a ninguém.



“NO”- Idem, Chile, França, Estados Unidos, 2012
Direção: Pablo Larraín

 As sangrentas ditaduras que maltrataram a América Latina a partir de meados do século passado, tiveram seu fim decretado pela pressão popular.
No Chile, o presidente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 11 de setembro de 1973, que colocou no poder o general Pinochet (1915-2006).
Todos conhecem as histórias tristes de mortos, torturados e desaparecidos sob esse governo ditatorial.
Uma das imagens mais fortes da época, mostra o estádio de futebol de Santiago lotado de presos políticos.
O filme chileno “NO”conta a história de um plebiscito de 1988, encomendado pelo regime militar para fazer face à pressão internacional e mostrar que o Chile estava indo de vento em popa. Com direito à exibição da campanha na televisão estatal, os partidários do “SI” contavam com uma vitória certa.
Foi um tiro que saiu pela culatra.
Com roteiro de Pedro Peirano que inspirou-se na peça de teatro “Plebiscito” de Antonio Skármeta, o inédito de “NO” é que foi filmado como se tudo fosse um documentário rodado nos anos 80, misturando cenas reais com cenas de ficção. Para isso usaram câmaras Ikegami de 1983 que não deixam perceber diferença entre as cenas. Com isso, o filme ganhou força de realidade. Mas é ficção. Seus personagens são “arquétipos” das pessoas que viveram aquele contexto, menos Saavedra.
Em uma história de Davi e Golias, Gael Garcia Bernal, o ator mexicano simpático e bonito, bem conhecido do público (foi o Che Guevara de Walter Salles em “Diários de Motocicleta” 2004), faz René Saavedra, o publicitário que volta do México, onde estava com os pais, exilados políticos, para comandar a campanha do “NO”.
Com seu jeitinho de garoto, andando de skate pelas ruas de Santiago, Saavedra revolucionou o campo da publicidade política inventando o que, depois dele, foi copiado por todo o mundo.
Ele intuiu, acertadamente, que uma campanha para barrar o general Pinochet de suas intenções de ganhar democraticamente o posto usurpado usando o plebiscito, tinha que ser uma campanha alegre, jovem, exigindo com firmeza mas também com bom humor, que os chilenos acordassem de uma letargia de 15 anos e se empolgassem pela causa do “NO”, destronando Pinochet.
Saavedra soube ler no não manifesto ainda, que o povo queria um outro futuro para o seu país mas havia muito medo em expressar essa opinião. Tanto temiam o retrocesso anunciado pelos militares, como a força da ditadura que calava à força os opositores. Conquistou os amedrontados com a alegria contagiante da campanha do famoso arco-íris, canções divertidas e depoimentos emocionantes cheios de esperança pelo futuro melhor para todos.
O “NO”ganhou com 56% dos votos.
O terceiro longa do diretor Pablo Larraín, ganhou o prêmio “Art Cinema Award” em maio de 2012 na Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes e o prêmio de melhor filme do público na última Mostra de Cinema de São Paulo, que foi inaugurada com a exibição de “NO”. E já está entre os nove estrangeiros dos quais sairão cinco para os indicados a melhor filme estrangeiro no Oscar.
Quem assina a produção de “NO” é Daniel Dreifuss, nascido na Escócia mas que se considera brasileiro. Ele é filho do cientista político René Dreifuss (“1964- a conquista do Estado”). Foi ele que conseguiu o dinheiro americano para o projeto.
Filme político? Filme comercial? As opiniões divergem mas uma coisa é certa: “NO” é original.

domingo, 30 de dezembro de 2012

A Negociação


“A Negociação”- “The Arbitrage” Estados Unidos, 2012
Direção:Nicholas Jarecki

 Ganância e narcisismo são uma combinação perigosa. Pessoas que possuem essa característica em sua personalidade, geralmente dão um passo maior do que a perna na vida. São onipotentes, não conhecem limites e por isso não avaliam bem a reação das outras pessoas e até mesmo as consequências de suas ações.
No filme “A Negociação”, dirigido e roteirizado pelo estreante Nicholas Jarecki, 33 anos, o bonitão Richard Gere, excelente no papel, incarna o poderoso do mundo das finanças, Robert Miller, com um andar duro, olhos frios e cabeleira branca impecável.
Quando chega em casa, a família o espera com expectativa. Ele é muito ocupado, tem pouco tempo para tudo que não seja ganhar dinheiro mas, naquele dia, ele assopra o bolo de 60 velinhas com a ajuda dos netos. Todos lindos, bem vestidos, elegantes com uma simplicidade cara e encantados com o pai, marido e avô.
A filha (Brit Marling) pergunta depois do jantar:
“- Mas por que você quer vender a empresa, pai? Temos bons lucros...”
“- Para poder ter mais tempo para vocês”, responde ele com cara de santo.
“- Mas para fazer o quê?” retruca a filha inteligente e que conhece bem o pai, já que trabalha com ele.
No quarto, com a mulher Ellen (a oscarizada e ótima Susan Sarandon), bem tratada, alegre mas carente como toda aquela família, ele recebe um convite:
“- Vamos partir por um ano? Uma aventura! Só nós dois? A casa de Ravello... Não usamos nunca...”
Mas ele já está de saída para o escritório. Claro.
E a amante francesa não poderia faltar. Julie (Laeticia Casta) muito mais nova que ele, ganhou uma galeria de arte mas também reclama do pouco tempo juntos:
“- Você nunca vai largar dela, não é mesmo?”
Com o cenário escolhido a dedo, um apartamento em New York com vista para o Central Park, uma família encantadora, uma empresa que aparentemente vai bem, uma bela e jovem amante, por que ele continua se estressando?
Porque ele quer mais, muito mais, sempre.
E quando começam a falar em gerência fraudulenta, parece que vem encrenca por aí. E tudo que pode acontecer, acontece. Inclusive um detetive incansável atrás dele (o sempre convincente Tim Roth).
O filme “A Negociação” distrai pela história que tem reviravoltas e agrada pelo elenco que Jarecki conseguiu reunir e sabe dirigir, dando ritmo ao enredo.
Não se trata de um filme inesquecível? Mas também não é um “blockbuster” sem cérebro. Vale o preço do ingresso.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Impossível



“O Impossível”- “Lo Impossible” Espanha, 2012
Direção: Juan Antonio Bayona

Tudo convidava à felicidade das férias, em um dos lugares mais bonitos do planeta, a ilha de Pukhet na Tailândia.
A família Bennet, depois de um voo vindo do Japão, onde moravam, chega ao paraíso, um resort na Orchid Beach. Águas turquesa, areia branca e um sol luminoso
acolhem a mãe Maria (Naomi Watts), o pai Henry (Ewan McGregor) e seus três filhos, Lucas de 12 anos (Tom Holland), Thomas de 7 (Samuel Joslin) e Simon de 5 (Oaklee Pendergast).
Tinham vindo passar os feriados do Natal.
Por ironia do destino, a suíte do 4º andar que os teria salvado do pior, foi substituída, na última hora, por uma suíte à beira-mar, de onde se viam palmeiras e um mar azul.
Estavam todos animados com o “up grade” e o Natal foi feliz. Não sabiam o que os esperava...
Ficamos com o coração apertado pois sabemos o que vai acontecer. E quando vem, sem aviso, surge a impotência do ser humano frente à força implacável da natureza. Não dá para esboçar um gesto. Só se encolher como Maria faz.
A força de vida do ser humano que o faz sobreviver, apesar das adversidades, é espantosa. Belíssima a cena em que Maria, atingida pelos detritos de toda sorte, quando é tragada pela onda do tsunami, desfalece, seu corpo flutua e, em câmara lentíssima vemos seu braço que rasga a água e faz acontecer o encontro com o ar abençoado, seu corpo vencendo a morte e tragando a vida, numa respiração vitalizante,
Todo mundo viu fotos, filmes na TV, ouviu depoimentos dos sobreviventes mas nada como o cinema para nos
colocar em lugares onde nunca estivemos e sentirmos
o que os outros sentiram. Quando o roteiro, a atuação, os efeitos especiais são de primeira linha, como em “O Impossível”, passamos todos pelo horror que foi o tsunami de 2004, que matou milhares de pessoas, um dia depois do Natal.
Vestimos a pele daqueles que passaram pelo terror e morreram (cerca de 300.000) e sofremos com os sobreviventes, separados de suas famílias e vagando desesperados entre os destroços do paraíso.
Naomi Watts está de arrepiar como a médica despreocupada, em férias, que se transforma na mãe sofrida e tão mais próxima do filho mais velho, que a ajuda a vencer com coragem a batalha pela sobrevivência. Foi indicada para melhor atriz em todos os prêmios que já foram anunciados. O jovem Tom Holland também está perfeito no papel.

O impossível aconteceu. E Maria Belón, espanhola, escreveu um livro contando essa história de pesadelo que passou na Tailândia com sua família e que foi adaptada para o cinema.
“O Impossível” não é um filme em que o desastre é o ator principal. Aqui, a câmara foca em planos abertos a primeira e a segunda onda e os destroços em que se transformou aquele pedaço de paraíso. Mas não é o principal. O diretor Bayona prioriza os rostos feridos, as pernas trôpegas, os olhares cansados , o trauma vivido naquela manhã.
Mostra o ser humano em uma situação de exceção. Vemos gestos egoístas e solidariedade, a emoção do reencontro e as lágrimas da perda dos seres queridos.
“O Impossível” é um belo e terrível filme sobre o imprevisível.