quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Silêncio


“O Silêncio”- “The Silence”, Estados Unidos, 2016
Direção: Martin Scorsese
A abertura é cruel. Pessoas são torturadas numa paisagem rochosa e vulcânica, encoberta por neblina.
Distinguimos um rosto conhecido entre os japoneses. É Liam Neeson que interpreta o jesuíta português, padre Cristovão Ferreira. Ele também é torturado e parece assustado com o sofrimento ao seu redor.
Estamos no Japão no século XVII. Cristãos são perseguidos pelos homens do shogunato Tokugawa. A religião pregada pelos jesuítas é ilegal e punida com a morte.
“O Silêncio”é adaptado do livro do escritor católico Shusaku Endo de 1966, que narra as perseguições cruéis aos cristãos, nos anos 1600 no Japão. Martin Scorsese, o grande diretor de cinema americano, descobriu esse livro em 1989 e desde então teve o desejo de adaptá-lo para o cinema. Numa recente edição do livro, ele escreveu no prefácio:
“O Silêncio é a história de um homem que aprende - com muita dor – que o amor de Deus é mais misterioso do que ele pensa. Que Ele deixa muita coisa para que os homens decidam do que podem conceber e que Ele está sempre presente...mesmo em Seu silêncio.”
Não é uma história fácil de ser contada. E o filme não é fácil de ser assistido.
Tudo começa em Macao, quando os jovens jesuítas Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver) chegam de Portugal para sua missão de ajudar os cristãos perseguidos. Ficam sabendo que seu mentor, padre Ferreira, está desaparecido e correm boatos que teria abjurado sua fé sob tortura. Eles não acreditam nisso mas partem à procura dele.
E o que os espera é assustador. Dão-se conta de que os camponeses japoneses pobres vivem como animais, mas professam sua fé em segredo. Os jesuítas são recebidos por esses seres famintos e sujos como se fossem deuses. Essas pobres criaturas ignorantes e miseráveis querem ir para o paraíso, onde não há miséria nem sofrimento. Cedo, o padre Rodrigues percebe que o modo dos japoneses serem cristãos é pouquíssimo espiritualizado e que eles se apegam a cruzes e outros símbolos religiosos como se fossem amuletos.
Eles estão dispostos a morrer por sua fé para proteger os jesuítas, que seriam os facilitadores da ida ao paraíso, com seus sacramentos e a Missa.
Mas e os jesuítas? Estarão dispostos a dar sua vida certamente, mas e quanto a abjurar sua fé para salvar aqueles pobres japoneses tratados tão cruelmente?
“O Silêncio” trata da fé e da dúvida, sua companheira inseparável.
A fotografia de Rodrigo Prieto e a produção de arte de Dante Ferretti criam belas cenas que parecem pinturas, que são um alívio ao peso do sofrimento que permeia todo o filme.
“O Silêncio” tem uma mensagem bem atual. Querer dominar povos com culturas diferentes através da imposição de outra, alheia a eles, nunca dá certo. E a verdade é que, infelizmente, em nome da religião, muitas injustiças e crueldades foram e ainda são cometidas mundo afora.



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