quinta-feira, 12 de março de 2015

Para Sempre Alice


“Para Sempre Alice”- “Still Alice” Estados Unidos, França 2014
Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland

Pode acontecer com qualquer um.
Mas quem vê aquela família que celebra o aniversário de 50 anos de Alice, mãe de Anna e Tom, que o marido brinda como a mulher mais linda e inteligente que ele conhece, não vai pensar em drama.
Uma das filhas, Lydia, não está presente porque mora em Los Angeles. Ela tem um teste para um papel na TV e não veio para Nova York.
Sente-se uma leve reprovação na voz de Alice quando dá essa notícia mas ela é afável, delicada e firme, não deixando o ar festivo do jantar sofrer qualquer abalo.
Alice Howland (Julianne Moore) é a mais jovem professora de Linguística da Universidade de Columbia. É referência em seu campo de estudo. Bonita, longos cabelos ruivos, pequena e bem cuidada, ela gosta de cozinhar e parece contente com sua vida. Por isso impressiona quando ela tem um branco durante uma palestra.
“- Eu sabia que não deveria ter bebido aquele champagne”, brinca ela, enquanto recupera a palavra perdida.
Mas quando se perde durante uma corrida no parque, vemos pânico em seus olhos. Curvada, respira profundamente para situar-se mas está mergulhada em confusão.
Auto-suficiente, Alice vai ao neurologista sozinha. Ele escuta seus sintomas, faz alguns testes e pede uma ressonância e depois um PET-SCAN. Mas não há dúvida. É Alzheimer. Um tipo raro e familiar.
E começa uma descida aos infernos para Alice:
“- Parece que meu cérebro está morrendo e tudo aquilo pelo qual trabalhei a vida inteira está indo embora...”
A família também sente o baque, o marido (Alec Baldwin) se impacienta e ela tem vergonha de ter essa doença que faz dela um ser no qual ninguém mais a reconhece.
A impotência e a dor estão nos olhos expressivos de Alice quando diz:
“- Eu queria ter câncer. As pessoas são solidárias. Usam fitas rosa por você, levantam fundos...”
Julianne Moore, 54 anos, ganhou todos os prêmios de melhor atriz, inclusive o Oscar, por esse papel. Mereceu, porque conseguiu expressar toda a dor psíquica que a doença traz com sua postura, seu olhar que busca e não encontra o que procura, a impotência em seus ombros caídos, a fragilidade extrema em que se encontra uma pessoa que vai se perdendo, morrendo em vida.
O filme tem uma particularidade. Dirigido por um casal gay, um dos diretores e roteirista, Richard Glatzer, enfrentava uma doença degenerativa incurável, a esclerose lateral amiotrófica (ELA), enquanto co-dirigia o filme. Um drama real acontecia por detrás das cameras. Ele não conseguiu resistir à doença que o levou no dia 10 de março, enquanto eu escrevia essa resenha. E talvez por isso, evitou-se o tom lacrimoso e o foco do filme está na atitude corajosa com que Alice lida com as perdas inexoráveis.
Lydia (Kristen Stewart), a única dos filhos de Alice que não fez o teste genético para saber se tem a doença, é também a única que demonstra generosidade com a doença da mãe. A atriz vem crescendo nos últimos filmes que fez,  contracenando com Juliette Binoche e agora com Julianne Moore.
“Para Sempre Alice” é um filme pequeno e belo, com uma grande atriz que nos toca com a interpretação de um ser humano que luta para viver mas que aceita o seu destino, com uma nobre resignação e não desiste do amor, mesmo que não haja mais palavras para dizê-lo.

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