sexta-feira, 20 de março de 2015

Os Dois Lados do Amor


“Os Dois Lados do Amor”- “The Disappearence of Eleanor Rigby: Them”, Estados Unidos, 2014
Direção: Ned Benson

Felizes como duas crianças, eles fogem do restaurante sem pagar a conta do jantar, rindo muito e vão fazer amor no parque.
Por isso levamos um choque, quando a vemos, com um rosto sem brilho e olhos baixos, largar a bicicleta e correr para o que adivinhamos ser a murada da ponte. Não vemos a queda mas o mergulho e o resgate de seu corpo quase sem vida.
No hospital, braço na tipoia e inerte na cama, seu rosto sem viço é olhado com um misto de simpatia e medo.
Eleanor (Jessica Chastain) ganhou esse nome do pai, Julian Rigby, fã dos Beatles. E agora, ironicamente, ela faz mesmo parte da canção que pergunta para onde vão todas essas pessoas solitárias. Não foi enterrada ainda, como a Eleanor Rigby de Lennon e McCartney, mas é como se já estivesse morta e então, inventa outra pessoa para ficar no lugar da outra que jaz com o seu passado. Ela está vazia.
Connor (James McAvoy), o marido e ela, voltam para as respectivas casas paternas.
El, como todos a chamam em casa, cortou o cabelo ruivo bem curto. Parece mesmo outra pessoa, menos pela aparência do que pela ausência da antiga leveza.
Volta para a universidade, onde encontra uma professora (Viola Davis, ótima) que a trata como um ser humano normal.
“- Você deve odiar os Beatles”, diz brincando quando ouve seu nome.
Será que há alguma chance para Eleanor? Por que ela não quer mais ver o marido? O que foi que aconteceu com eles?
Deve ter sido algo muito duro... Percebe-se a raiva que ela tem, por baixo da depressão que a cobre como um manto pesado e transparente, que serve como uma barreira entre ela e o mundo.
Mas, como cita um amigo de Connor: “O amor é um campo de batalha.” E a camera segue El, o marido também mas não se aproxima.
“- Nenhum de nós sabe como ajudar você”, diz o pai dela (William Hurt). E acrescenta: “A tragédia é como um país estrangeiro. Não conhecemos a lingua dos nativos.”
A mãe (Isabelle Huppert), sotaque francês, sempre com um copo de vinho na mão e distante, também não é de grande auxílio para a filha. Ela se abre um pouco mais com a irmã, mãe solteira.
Para Connor, também não há colo com aquele pai (Ciarán Hinds), bem sucedido e que não o compreende.
Mas, aos poucos, uma frase aqui, um olhar acolá, nos damos conta do que aconteceu. E, finalmente, entendemos porque Eleanor Rigby desapareceu.
O diretor e roteirista Ned Benson rodou dois filmes em 2013: “Her”e “His” contando a história sob o ponto de vista de cada um. Mas depois juntou os dois no “Them”, aquele que vemos aqui. Seu primeiro longa.
Jessica Chastain , que também produziu o filme, faz de sua personagem uma mulher de verdade e mostra porque é uma das melhores atrizes da atualidade. James McAvoy a segue de perto.
O filme é sensível, com uma fotografia noturna iluminada por uma luz dourada e uma trilha sonora de bom gosto.
Quase que tocamos a fragilidade de Eleanor e Connor mas também nos encantamos com a força inesperada que há dentro deles.
O amor, que estava lá o tempo todo, vai poder ressurgir do seu inverno?

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