quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Trapaça


“Trapaça”- “American Hustler”, EstadosUnidos, 2013
Direção: David O. Russell

Será que é preciso trapacear sempre, nessa vida, para sobreviver? Alguns pensam assim.
Um deles é Irving Rosenfeld (Christian Bale). Ele engana até no visual. Numa cena inacreditável de “Trapaça”, o vemos lidando com a calvície no alto da cabeça com um aplique colado à careca e toda uma técnica para esconder o cabelo falso. Muito laquê depois. A quem ele engana?
Parece que Irving engana muita gente desesperada.
Quando encontra Sidney Prosser (Amy Adams, com decotes até o umbigo o filme todo), ouvimos ele dizer em “off”, mais ou menos assim:
“- Ela era uma mulher especial. Veio de um lugar onde as opções eram poucas ( na tela aparece ela meio nua, dançando numa espelunca). Como eu, ela sobreviveu e queria um futuro elegante. Como eu, ela sabia que precisava ter um sonho. Ela veio para Nova York. Queria um lugar na Cosmopolitan. Era inteligente e sabia das coisas.”
E, também em “off”, ela diz:
“- Ele não estava em boa forma e tinha esse problema de cabelo mas tinha confiança em si mesmo. Eu estava sem dinheiro e queria me tornar uma pessoa diferente de quem eu era.”
Quando ele conta como ganha a vida com falsos empréstimos, além da rede de lavanderias e a venda de quadros falsificados, ela comenta:
“- Na lama todos se cruzam em desespero. E você está lá, esperando por eles.”
E, como ela era também uma pessoa que sabia trapacear, tornam-se parceiros na cama e nos negócios, apesar de Irving ser casado com Rosalyn (Jennifer Lawrence, com penteados rocambolescos mas sempre linda) e adorar o filho da esposa, que ele adotara.
Ouvimos Irving falando em “off”:
“- Pelo que sei, todo mundo trapaceia para conseguir o que quer. Trapaceamos até a nós mesmos, de um jeito ou de outro, para conseguir sobreviver.”
Essa é então a motivação dos personagens de “Trapaça”, filme que vem ganhando prêmio atrás de prêmio, 10 indicações para o Oscar.
Como ficou bem claro aqui, há muita falação. Diálogos prolixos e longas digressões em “off”. Isso cansa o espectador.
Fora isso, há uma trapaça complicada por conta do agente do FBI, Richard DiMaso (Bradley Cooper, bonitinho sedutor) que quer usar a dupla de golpistas para pegar políticos corruptos e mafiosos, em troca de liberdade. A história é baseada em acontecimentos reais dos anos 70/80 nos Estados Unidos.
David O. Russell, 58 anos (“O Vencedor”2010, “O Lado Bom da Vida”2012), dirigiu e co-escreveu o roteiro, que não é o ponto forte do filme, prolixo e com uma sensação de “déjà-vu”.
Mas no elenco, principalmente Amy Adams e Jennifer Lawrence, estão muito bem. Esta última faz uma louca cafona e é sempre dona da cena. Com o vestido branco colado no corpão, nem aquele cabelo esquisito consegue derrubá-la.
E, claro, todo mundo vai reconhecer Robert De Niro no papel do mafioso, charmoso como sempre.
A reconstituição de época, figurinos e a trilha sonora só merecem aplausos.
Mas é só. Muito pouco para ser o melhor filme do ano.

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