domingo, 2 de fevereiro de 2014

Ninfomaníaca - Vol. 1




“Ninfomaníaca – Vol.1”- “Nynphomaniac – Vol.1”, Dinamarca/França/Inglaterra
Direção: Lars Von Trier

O que será aquele lugar molhado, de pedras úmidas, beco escuro e amedrontador? Aparece depois de uma tela negra e ruídos indistintos...
Lars Von Trier parece dar o tom de seu novo filme em seus minutos iniciais. Está falando por metáforas no sexo feminino. Por outro lado, claramente o “O” do título do filme lembra uma vagina. E o livro e o filme “Histoire d’O”, que fala sobre masoquismo.
A mulher que jaz ensanguentada naquele chão, quase fundida em suas pedras, será resgatada por um homem mais velho que entende que aquela não é uma situação nem de hospital, nem de polícia.
“- O que você quer?” pergunta a ela.
“- Uma xícara de chá com leite quente” responde a moça.
“- Então é melhor vir comigo.”
E ele a acolhe, troca suas roupas molhadas, e a põe na cama. Ela está maltratada e melancólica.
Ele senta-se ao lado dela e escuta:
“- É tudo culpa minha. Sou um ser humano ruim.”
E, a partir daí, Joe (Charlotte Gainsburg, atriz predileta do diretor) vai narrar a Seligman (Stellan Skarsgard, ator sueco de 62 anos) sua história ou parte dela, porque o filme vai ter uma continuação prometida para breve.
“Ninfomaníaca – Vol.1” faz parte de uma trilogia que começou com “Anticristo”2009 e “Melancholia”2011, filmes que tem em comum o tema depressão. E, consequentemente, raiva e culpa como assunto.
Nem sempre a sexualidade é vivida facilmente. Para algumas pessoas, devido a certas configurações de vida, o sexo é penoso ou usado como solução para lidar com dificuldades.
Joe, na infância, é uma menina como as outras. Descobre sua vagina e seu clitóris, através da exploração que já, desde bebês, fazemos em nossos próprios corpos. E o prazer é despertado. Seguem-se brincadeiras de todo tipo nas quais o órgão sexual é estimulado, seja com cordas, bichinhos de pelúcia, balanços e até mesmo com o chão molhado do banheiro, onde Joe e sua amiguinha escorregam de bruços.
A mãe dela é vista como cruel, autoritária e maldosa. Uma bruxa. O pai, médico e sonhador, muito carinhoso, é adorado. Tudo que vem dele é bom e prazeiroso. Seus passeios na floresta são idílicos. Estamos diante do famoso complexo de Édipo exaltado. Ataques mortais e inconscientes à mãe e a certeza de ter roubado o pai, levam as meninas a experiências de amadurecimento ou não. Certas garotas são como Joe. Fica tudo muito difícil.  
E a atriz Stacy Martin (que faz Joe adolescente) apática, pede para um rapazinho bruto, Jerôme (Shia LaBeou), que tire sua virgindade, aos 15 anos.
Isso feito, com sua amiga B., vão competir para ver quem é a mais poderosa e consegue seduzir mas homens em trens.
Mas, na escalada sexual de Joe, ela só tem para contar maçantes histórias de repetição da mesma coisa, sem qualquer solução para o seu problema. Continua angustiada e insatisfeita. Ela não percebe que faz o que faz por culpa, visando sua auto-destruição.
Seligman, cujo nome traduz-se por Feliz, escuta a narrativa e vai contrapondo outros estados de mente ao de Joe. Leva-a a pescar com vara e  anzol arremessado na corrente de um rio, lembra que os números podem traduzir surpresas inesperadas e que a música já foi alvo de perseguição e proibição na Idade Média.
Ele atua com uma espécie de psicanalista estimulando Joe a sonhar, libertar-se do pesadelo, abrir sua mente a outros pontos de vista, visando a desprendê-la de suas amarras a um sexo viciado, a um estado de alma agarrado à matéria, buscando sensibilidade no lugar errado.
Há até uma piscadela de Von Trier a “De Olhos Bem Fechados”1998, de Stanley Kubrick, através do uso da valsa de Shostakovsky, tocada muitas vezes naquele filme e lembrando que a curiosidade sexual existe sempre no ser humano e pode levar a caminho escuros.
E não podemos esquecer de citar Uma Thurman, que faz uma ponta tragicômica e rouba a cena.
Vamos entender melhor a culpa de Joe e os castigos a que ela se submete de boa vontade no volume 2 de “Ninfomaníaca”?
Espero que sim. Lars Von Trier é um diretor de cinema inteligente e sensível e um personagem às vezes difícil mas sempre criativo.

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