sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ela


“Ela”- “Her”, Estados Unidos, 2013
Direção: Spike Jonze

Ele escreve cartas para quem não sabe fazer isso. E tão bem, tanto para homens quanto para mulheres, que um colega de trabalho brinca:
“- Você deve ser um pouco homem e um pouco mulher! Senão como poderia escrever cartas tão sensíveis?”
É verdade. Mas também é verdade que Theodore Twombly está claramente deprimido. Está se separando da mulher (Rooney Mara) e não está fácil para ele.
Percebe-se pelo seu rosto expressivo (Joaquin Phoenix está incrível e foi indicado para o Oscar de melhor ator) que ele sofre, que está vivendo mal a solidão, que pensa na ex e se culpa pela destruição da relação mas não tem com quem desabafar.
Até tenta um “sex chat” mas não dá certo.
Vai conversar com o casal que vive no mesmo prédio que ele mas eles também estão se separando. A mulher do casal, Amy (Amy Adams), é quem quer desabafar e ele escuta porque é um ser humano compassivo.
Tudo vai mal, até que ele escuta a voz dela.
Theodore comprou um novo sistema operacional que promete um amigo/a. Uma entidade intuitiva que escuta, entende e conhece a pessoa que utiliza essa forma de inteligência artificial, que é mais do que você imagina. “É uma consciência” diz a publicidade.
Assim, Samantha (Scarlet Johansson, invisível e bela) a voz amiga dele, vem preencher um espaço vazio. E torna-se o centro da vida de Theodore.
Virtual mas sensível e muito inteligente, ela é mais do que uma secretária que organiza e-mails e limpa o computador dele de tudo que é inútil. Samantha é uma companheira divertida, bem humorada, falante, que levanta a moral de Theodore. Ela cresce com as experiências que vive com ele. Ela é a personificação de um sistema operacional do futuro e interage com Theodore de uma forma íntima, calorosa e bem humana. Só lhe falta um corpo.
Claro, ele se apaixona por ela e vice versa. Ele a leva no bolso para que o olho da máquina possa ver o mundo dele e trocar idéias o dia todo. Já não consegue viver sem ela.
Spike Jonze dirigiu e escreveu o roteiro de “Ela”, premiado com o Globo de Ouro e indicado ao Oscar de melhor roteiro original.
O filme pode ser visto como uma fábula, com um toque de ficção científica, numa Los Angeles do futuro (filmado em Shangai), sobre a solidão, o sentimento de perda, a busca pelo amor. Será que um ser humano se apaixonaria realmente por uma voz/consciência, um ser incorpóreo?
Spike Jonze acena com um cenário futurista mas mostra que as necessidades básicas do ser humano permanecem as mesmas. Theodore busca um amor que o faça esquecer a ex. Um luto tem que ser trabalhado e Samantha o ajuda. Mostra que vale a pena viver e amar novamente.
Em um pensamento de psicanalista, poderia dizer que Samantha é o lado acolhedor de Theodore que ele usa para os outros, nas cartas que escreve tão bem mas que não sabe utilizar consigo mesmo.
E soa cabível, o entrevistador perguntar para Theodore, antes de dar Samantha para ele:
“- Como você descreveria o relacionamento com sua mãe?”
“Ela” é um filme doce, amoroso,romântico. Comove. Foi indicado entre os nove filmes melhores do ano para o Oscar.

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