sábado, 16 de março de 2013

Anna Karenina

“Anna Karenina”- Idem, Reino Unido, 2012
Direção: Joe Wright

A primeira imagem do filme é a cortina no painel, pintada de vermelho no veludo e ouro nos bordados, réplica da que existe no Opéra Garnier, em Paris. Estamos em 1874, na Rússia Imperial.
E o espetáculo começa como um “vaudeville”, em que vários personagens se apresentam no palco em cenas curtas e com um quê de farsa.
Em sua primeira aparição como Anna Karenina, a bela Keira Knightley tem um anel de brilhantes, em “close”, colocado em seu dedo, enquanto ela lê uma carta e toma café, sendo vestida pelas criadas. E surge o primeiro vestido, de seda cor de ameixa, gola alta e saia farta com a cintura marcada. Todos os holofotes brilham sobre ela.
“- Ah! Stiva...”, exclama com um meio sorriso de desaprovação, fechando a carta.
E em seu escritório, o marido, Alexei Karenin, interpretado com gravidade por Jude Law, diz a ela:
“ - Não o desculpe só porque ele é seu irmão.”
Leon Tolstoi, um dos grandes escritores russos, nos coloca no princípio de sua história o tema que propõe: infidelidade conjugal.
E, enquanto Anna tende a ser mais condescendente, o marido já mostra sua severidade. E este vai ser o drama, numa sociedade onde as regras, os costumes, são mais importantes que as leis.
O modo teatral com que o diretor Joe Wright (“Orgulho e Preconceito” 2005 e “Desejo e Reparação” 2007) imaginou sua Karenina, fotografado com perícia por Seamus McGarvey, faz com que se acentue o artificialismo da alta sociedade da época, vivendo já o começo de sua derrocada. Tom Stoppard, o roteirista, não precisou alterar nada do que havia escrito para que fosse possível a encenação do diretor.
E é estupenda a transição do artificial/teatral para o naturalismo do campo russo onde vive Levin (na pele de Domhnall Gleeson), o alter-ego de Tolstoi, que se preocupa em encontrar novos valores para sua vida. Como num sonho, o palco se abre para uma planície gelada onde brilha o sol em contraste com os holofotes do palco. Uma “dacha” de madeira e o patrão ceifando o campo junto a seus camponeses, enquanto sonha com sua Kitty (a adorável atriz sueca Alicia Vikander que fez “O Amante da Rainha” 2011).
Joe Wright apenas sugere o momento político, para privilegiar o estético e o sentimental, o que tanto pode ser seu “calcanhar de Aquiles” para alguns, como o seu ponto forte para outros. Afinal, o romance de Tolstoi e sua pobre heroína já foram vistos e revistos em dezenas de adaptações para o palco e para a tela. Greta Garbo, Vivien Leigh e Sophie Marceau, para só citar as melhores e mais famosas, viveram Anna e seu drama.
Joe Wright inova com Keira Knightley. A beleza, sensualidade e o luxo estão em primeiro plano. Uma festa para os olhos, embalada pela trilha de valsas de Dário Marinelli.
Anna K. por Chanel, ostenta joias preciosas e ao gosto do século XXI, enquanto seus vestidos, que valeram o Oscar e o Bafta para Jaqueline Durran, são chics e femininos, com saias amplas mas sem exageros de época, atuais, com destaque para as golas de pele e os chapéus pequenos, plumas na cabeça e véu de renda sobre o rosto.
E, se o Conde Vronsky (o fraco Aaron Taylor-Johnson) serve apenas como pretexto para Anna seguir seus impulsos auto-destrutivos, tudo é embalado com arte e sedução. A cena do piquenique na floresta, os dois de branco, deitados numa toalha sobre a grama fresca, tem o “close” de uma língua rosada que roça a boca do amante e passa o gosto de uma sensualidade infantil e sem problemas, que Anna busca e não encontra em seu casamento.
Anna K. ama o amor. E não hesita em entrar em choque com os preconceitos. Parece, antes, ávida para viver a vida num rodopio.
Belíssima, a cena do baile, com sua coreografia de ballet, enfatiza o sonho de Anna de viver o desejo sem pensar nas consequências.
O preço a pagar será alto.
Tolstoi inicia seu romance com uma frase bem conhecida: “Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são, cada uma à sua maneira”.
Anna ilustra a segunda opção e Levin com Kitty a primeira. Para contar sua história e provar sua tese, Leon Tolstoi imaginou a frágil Anna e a eternizou, como o símbolo do perigo de entregar-se à ilusão que idealiza o amor.
Muitos de nós já passaram por essa pena. Vale rever essa nova versão.

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