domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Hora Mais Escura

 


 


“A Hora Mais Escura”- “Zero Dark Thirty” Estados Unidos, 2012
Direção: Kathryn Bigelow

O começo do filme é tocante. Na tela escura, vozes agoniadas falam sobre o que está acontecendo, presas nas Torres Gêmeas de Nova Iorque em 11 de setembro de 2001. São as vítimas da tragédia que abalou os Estados Unidos e deu partida para a caça ao terrorista mais procurado de todos os tempos, Osama Bin Ladem.
Mas, “A Hora Mais Escura”, que pretende ser um relato jornalístico sobre esse acontecimento, é mais a história de uma obsessão de uma mulher do que a luta da CIA para encontrar o inimigo número 1 do país.
Chocantes, as cenas que abrem o filme mostram todo tipo de tortura de que se tem notícia aplicadas em um homem que, aparentemente, tem muito para contar para o agente da CIA que é o seu carrasco. Essas tomadas da câmara, que não perde um detalhe do que se passa, duram mais de vinte minutos.
Mais do que o horror que, pretensamente, querem induzir no espectador, para o nosso desconforto, produzem um outro tipo de efeito. Estranhamente, vemos a personagem principal do filme, a agente Maya da CIA, interpretada por Jessica Chastain, que está no fundo da cena de tortura, acercar-se. A perversão cresce nela a olhos vistos. Fascinada, mais do que incomodada com o que acontece ali, ela passa de mera assistente a participante, num piscar de olhos.
Nós, na plateia, não sabemos o que pensar.
Infelizmente, essa grande atriz, maravilhosa em “Árvore da Vida” (2011) de Terrence Malik, caiu numa armadilha. Sua personagem é caricatural. Maya, que dizem ser baseada numa agente que participou nessa história, não tem passado, nem presente. Sua única motivação na vida é localizar Bin Ladem para que os outros o matem por ela. Acreditem. Ela diz isso textualmente no filme.
Na falta de uma vida afetiva, ela se entrega à paixão mórbida da obsessão. Horas a fio, anos e anos diante de vídeos, fotos, interrogando pessoas, induzindo outros agentes a violência contra os interrogados, vivendo em lugares inóspitos no Afeganistão, ela não descansa. Precisa encontrá-lo.
No final, conhecido por todos, sozinha num imenso avião, ela não tem mais para onde ir. Perdeu o rumo e a razão de viver. O rosto expressivo de Jessica Chastain mostra um vazio. Suas lágrimas são de viúva. Morreu o único homem que dava sentido à sua vida.
Kathryn Bigelow, 61, escreveu o roteiro com Mark Boal, 40. E começamos a entender a ambiguidade do filme, porque o roteiro começou a ser escrito para ser uma crítica à ineficiência da CIA para encontrar Bin Ladem. Com ele quase pronto, os dois foram surpreendidos com a notícia da morte de Bin Ladem. Ao invés de jogar o roteiro no lixo, resolveram mudar a história, que tinha que acompanhar os fatos. Virou a procura e assassinato do terrorista. Mas perdeu a coerência.
Para a imprensa, Bigelow diz que fez jornalismo. Para o espectador, a confusão fica clara. Saimos do cinema com uma sensação estranha.
Mas é preciso dizer também que há momentos de beleza nas cenas de ação que mostram o talento da diretora oscarizada de “Guerra ao Terror” (2008), o filme definitivo sobre a guerra no Iraque.
Pena que a única mulher a ganhar o Oscar como diretora, tenha assinado esse filme oportunista, eticamente confuso e cansativo.
Nem ao menos é bom entretenimento.

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