domingo, 5 de agosto de 2012

A Vida dos Peixes

“A Vida dos Peixes”- “La Vida de los Pesces”, Chile 2010
Direção: Matias Bize

“É desconcertante rever um grande amor”? Chico Buarque afirma isso na canção “Anos Dourados”.
Eu diria que é muito mais. Principalmente se o amor perdura.
“A Vida dos Peixes” coloca um reencontro desses no centro do palco e, fazendo isso, adiciona outros sentimentos mais profundos ao de ser apenas perturbador.
Quando André, que escreve guias de turismo, volta à sua terra natal, o Chile, depois de dez anos na Alemanha, ele não veio para ficar.
No aniversário de um amigo, se despede dizendo:
“- Tenho que fazer as malas... Vou amanhã, já é tarde.”
Os amigos brincam comentando as bugingangas que ele leva na mala por causa de sua profissão.
“- Viajo, me pagam bem. E depois, turistas não querem nada de importante. É tudo sempre igual. Clichês. O que fazer com a família, as crianças...”
André ganha tempo? Certamente ele evita um assunto que paira no ar:
“-Você a viu?”
“- Não...”
“- Nós a convencemos a dar um pulo aqui. Espere. Há quanto tempo não a vê?”
“- Muito...”
Ele se despede dos amigos, da dona da casa e, de repente, na sala escurecida e enfeitada por lampejos de luzes coloridas, onde pessoas dançam, ele a vê. Dá passos para trás, abalado.
Entra em um quarto, como que fugindo e encontra uma velha amiga pondo o bebê para dormir. Conversam banalidades mas o tema reaparece:
“- Quando vocês terminaram, para mim foi muito incômodo. Não sabia o que fazer... Não queria tomar partido. Então me afastei de vocês dois. Um dia fui tomar sorvete com Bea e ela me falou de você.”
Ele corta e dirige a conversa para outro rumo.
Mas não vai dar para adiar aquilo que, fatalmente, vai acontecer. Lutando consigo mesmo, ele vai ao encontro dela.
“A Vida dos Peixes” é um filme raro. Com um roteiro brilhante, co-escrito pelo diretor de cinema chileno de 34 anos, Matias Bize e atores que mergulham sem medo em uma água turva de sentimentos contraditórios, coloca a nu, a alma dos personagens. Santiago Cabrera e Blanca Lewin vivem na tela, com sinceridade, no espaço de algumas horas, o que a maioria de nós só vive em pensamento.
E, por isso, nós na plateia, perturbados, aflitos, emocionados, somos testemunhas de que reviver o amor é um sentimento complexo. Atrai, na mesma proporção que afasta.
Rever o grande amor faz um convite perigoso para viver uma vida que não aconteceu e que, por isso, pode parecer mais convidativa do que aquela que vivemos.
Somos como peixes em um aquário presos na escolha de vida que fizemos?
Talvez... Certamente que sim para a maioria de nós.


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