quarta-feira, 4 de julho de 2018

O Vazio do Domingo




“O Vazio do Domingo” - “La Enfermedad de Domingo”, Espanha, 2017
Direção: Ramón Salazar

Naquele palácio de mármore e espelhos, a dona da casa alta, cabelos brancos bem cuidados, vestida com uma saia longa de seda e suéter prata, dá as últimas instruções aos criados antes do jantar formal. Tudo tem que estar perfeito.
Anabele sabe receber bem. O jantar aconteceu, como sempre, às mil maravilhas, apesar do tédio que transparece no rosto dela.
Mas, acabado o jantar, quem é aquela moça que a encara num misto de atrevimento e surpresa? Como conseguiu entrar na casa? Não é um dos convidados.
Passado o primeiro susto, um papel amarrotado é deixado em cima da mesa. Um encontro está marcado.
E Anabele vai se ver frente a frente com Chiara, a filha que deixou com o pai aos 8 anos de idade.
Vão passar dez dias juntas. É o pedido que a filha faz. E a mãe, parecendo a contragosto, vai.
Quando chega na velha casa, nada parece mudado. E Chiara não se mostra simpática nem acolhedora. Por que então insistiu nesse encontro?
Ramón Salazar, diretor e roteirista coloca aquelas duas, a mãe (Susi Sánchez) e a filha (Bárbara Lennie), separadas há tanto tempo, juntas, para contar uma história comovente.
Dia após dia, mãe e filha vão se estranhar e se aproximar, numa coreografia de diferentes afetos, construída ao longo desse tempo que passam na mesma casa.
Não se conhecem. Os laços de sangue não ajudam. Será no mais profundo poço do abandono acontecido que Anabele vai reencontrar a filha Chiara.
Despida de luxos e da arrogância, a mãe vai comover-se com a filha. Tão distantes mas já tão próximas aquelas duas.
Há uma missão a ser cumprida. E a mãe vai oficiar um ritual de compaixão. Só ela vai entender, não sem dificuldade, do que a filha precisa. Eis o porquê do chamado.
Um clique de máquina fotográfica antiga une as diferentes fases do filme, fazendo menção ao tempo real e ao tempo imemorial do afeto.
Uma reconstrução do passado é necessária para que  mãe e  filha possam atuar, afinal, o ritual de passagem inspirado pelo amor, que une vida e morte.


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