quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Sem Amor



“Sem Amor”- “Nelyubov”, Rússia, França, Bélgica, Alemanha, 2017
Direção: Andrey Zvyagintsev

Há uma beleza calma nas paisagens invernais que abrem o filme. Mas na natureza humana os invernos são espaços internos secos, duros, gelados. Quando uma relação afetiva chega a esse ponto, morre. Talvez haja a esperança de renovação de afeto em outro lugar, com outro parceiro.Talvez.
A câmara mostra a saída da escola. Crianças partem sozinhas. Uma ou outra tem a mão de uma mãe para segurar ou a de um pai que aproveita para passear o cachorro da família.
Alyosha (Matvey Novikov), 12 anos, não volta direto para casa. Anda pelas margens do rio onde crescem grandes arvores. Encontra uma fita amarela e brinca com ela. A fita é daquelas que a polícia usa para isolar o local de um crime.
Arrepiados na plateia, sentimos um mal estar.
Quando o garoto chega em casa, a mãe Zhenia  (Maryana Spivak) não faz nenhuma demonstração de afeto. Fria, distante, briga com ele por causa de seu quarto desarrumado. Pessoas vem visitar o apartamento que está à venda.
O pai Boris (Aleksey Rozin) quando chega, também não olha para o filho. Começam uma grande briga. Discutem o destino do filho.
Percebe-se claramente que o filho é um peso em suas vidas. Querem resolver a situação cada um jogando a responsabilidade sobre o outro. Finalmente, a mãe vence com a proposta de mandá-lo para um colégio interno:
“- Vai ser bom para ele. De qualquer forma depois vem o exército.”
Alyosha escuta, em lágrimas silenciosas e escondido, a decisão sobre o seu destino. Rosto congelado de dor, sem emitir um único som, ele é a imagem da devastação interna. Crianças precisam de pais, mesmo inadequados. Alyosha não tem ninguém. O mundo para ele é um deserto, onde ele se perde, impotente.
Tanto a mãe quanto o pai do menino já refizeram suas vidas e não escondem a pressa em vender o apartamento e se livrar do filho.
Mas é nesse momento que acontece o inesperado. O garoto sumiu. Não foi à escola por dois dias seguidos. A mãe recebe o telefonema e avisa o pai. Este fica relutante em sair do trabalho para ir com a mulher na delegacia. Mas acaba indo.
Nenhum dos dois sabe o que aconteceu com o filho. Dormiram fora com seus novos parceiros e não pensaram no menino. Na entrevista na polícia fica claro que pouco sabem sobre o filho, seus amigos e lugares preferidos.
Um grupo de voluntários começa as buscas.
Frente a um lago, o pai pergunta se não vão procurar ali.
“- Procuramos pessoas vivas...”, responde o encarregado.
Como será o final dessa história sem começo feliz? Fica claro que o menino é fruto de uma gravidez inesperada e de um casamento às pressas.
Há uma secura, um egoísmo monstruoso nesses personagens que só pensam em si mesmos e suas vidas refeitas. Só procuram a polícia para manter a imagem perante os outros.
Com os novos parceiros haverá uma esperança de mudarem? Parece que o diretor Andrey Zvyagintsev  (“Elena” e “Leviathan”) não aponta nessa direção.
Zhenia nos olha com um olhar que continua vazio de afeto, apesar de dizer que ama o seu companheiro. E Boris trata seu filho pequeno com a mesma indiferença com que tratava o outro.
O fato é que os personagens de “Sem Amor” querem preencher um vazio interior mas não sabem como. E claro que não é só na Rússia que vemos pessoas assim. Nossa cultura, voltada para a realização de desejos materiais, cada vez mais se esquece da necessidade de promulgar a solidariedade entre as pessoas. E isso se aprende em casa.
“Sem Amor” foi indicado para a lista dos cinco filmes que concorrem ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

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