segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A Viagem de Fanny


“A Viagem de Fanny”- “Le Voyage de Fanny”,França, Bélgica, 2016
Direção: Lola Doillon

As crianças são sempre as que mais sofrem nas guerras. Perdem os pais ou se separam deles, encontram-se em mãos de estranhos e, mais que tudo, não entendem direito o que está acontecendo.
Em 1943, em meio à Segunda Guerra, na França sob ocupação alemã, famílias judias deixavam seus filhos em internatos, onde achavam que eles estavam mais protegidos. Acima de tudo, ninguém podia saber que eram crianças judias.
Essa é a história real de Fanny Ben-Ami que, quando tinha 12 anos, precisou deixar a escola em Megève, na França e seguir para a Suiça com outras crianças, inclusive suas duas irmãs menores. O país estava nas mãos dos nazistas e os judeus eram delatados e perseguidos.
Tudo era perigoso. Pessoas eram presas por desconfiarem que elas poderiam ser judias. Franceses colaboracionistas se aliavam aos alemães. O que pensar de crianças pequenas, com papéis falsos, que tinham que decorar seus novos nomes e, principalmente, negar que fossem judeus?
É comovente a ingenuidade da irmã menor de Fanny que pergunta a uma certa altura:
“- Mas se ser judeu é ruim por que somos judeus? ”
Uma criança pequena não consegue perceber a maldade e o preconceito por trás do racismo, da inveja ou da mera estupidez, que conduz homens a perseguir outros, seus semelhantes.
Por causa de uma série de contratempos, Fanny (na bela interpretação de Léonie Souchaud) torna-se a responsável pelo grupo, que passa os maiores perigos a caminho da fronteira suíça. Ela é obrigada a amadurecer para tomar decisões das quais dependia a vida de todos.
A originalidade desse filme é não apenas contar a história pelos olhos das crianças mas também deixar ver como elas precisavam ser crianças, mesmo em meio às maiores dificuldades.
Então os maiores, Fanny e Victor, tomam conta dos menores, chamam a atenção deles mas quando é proposta uma brincadeira, todos se deixam levar, na procura de um alívio, mesmo que momentâneo, à tensão que se instala. Uma cena num riacho mostra bem essa necessidade de esquecer por momentos a realidade dura que viviam.
A diretora Lola Doillon, em seu terceiro longa, ficou conhecendo o livro que conta a história de Fanny Bem-Ami, 86 anos e decidiu transformá-lo em um filme.
Claro que foram feitas algumas alterações, já que não se trata de um documentário, mas nada comprometeu a verdade da viagem que Fanny enfrentou, levando não apenas nove, como no filme, mas 28 crianças com ela.
Para ela, o mais importante é que o filme foi feito em memória de todas as outras crianças que também sobreviveram, pelas que não conseguiram e por aquelas que, ainda hoje são sacrificadas pelos conflitos dos adultos.
Lola Doillon conta que ficou chocada quando, durante as filmagens, começaram a aparecer na TV as imagens dos refugiados da guerra da Síria e as crianças inocentes que sofriam. Ninguém se esquece da imagem do menino morto na praia. Era um drama contemporâneo que ecoava o que aconteceu com milhares de crianças judias 70 anos atrás.
É algo que precisa ser pensado para que não se repita nunca mais.

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