sábado, 6 de maio de 2017

Norman: Confie em Mim



“Norman: Confie em mim”- “Norman: The Moderate Rise and Tragic Fall of a New York Fixer”, Estados Unidos, Israel, 2017
Direção: Joseph Cedar

Simpático, cabelos brancos, óculos, fala mansa e sempre vestido em seu elegante sobretudo, na fria Nova York, Norman Oppenheimer (Richard Gere, 67 anos, carismático como nunca) movimenta-se como se fosse esperado para o fechamento de um negócio importante. Celular em punho, fala com muita gente, o tempo todo.
Mas quem é ele? Em seu cartão que distribui generosamente, está escrito “Estratégias Oppenheimer” e perguntado, não explica, muda de assunto. Ele se diz amigo de todos os nomes importantes da cidade e se coloca à disposição para apresentá-los a quem possa interessar.
Quando um jovem político israelense aparece em Nova York para uma conferência, lá está Norman, de olho nele. Mas o que pretende esse homem misterioso?
Misha Eshel (Liar Ashkenazi, ótimo ator), vice-ministro do comércio de Israel, andando pelas ruas da cidade, para numa vitrine elegante. Olha com cobiça para um par de sapatos. E, imediatamente, Norman surge a seu lado, puxando conversa. Consegue arrastar o político para dentro da loja caríssima e faz o homem experimentar o luxo.
Sedutor como a serpente do paraíso, Norman consegue o que quer. Com um gesto aparentemente generoso, presenteia os sapatos para o agradecido desconhecido e compra um lugar em sua vida. Aquele gesto não será esquecido.
Mas por que? Qual o interesse de Norman em se acercar e agradar esse personagem do segundo escalão da política em Israel?
Ao longo do filme em quatro capítulos, vamos seguindo os passos de Norman, divididos entre torcer por ele, para que seus obscuros planos deem certo e uma aflição. Afinal o que move Norman?
Parece que não é a vontade do lucro, de ganhar dinheiro. Se existe, está em segundo plano. Não sabemos nada de pessoal sobre ele. Nem onde vive, nem se a mulher morta e a filha existem mesmo. Desconfiamos que se abriga de noite na sinagoga, onde é amigo do rabino (Steve Buscemi).
Com o desenrolar da história começamos a entender a solidão de Norman, sua existência sem raízes, a vida inventada à custa de personagens ilustres que ele seduz.
Todo mundo o conhece mas ninguém sabe quem ele é.
Num mundo cada vez mais interessado só em aparências, não há lugar para a verdadeira amizade que requer tempo, investimento afetivo e presença. Norman é um subproduto desse jeito de viver. Apoia-se no desejo do outro. Tenta satisfazer todos os seus “amigos” para ser visto, reconhecido, quem sabe até ser quase amado.
Joseph Cedar, diretor e roteirista americano radicado em Israel, em seu primeiro filme em Hollywood, toca num ponto sensível da sociedade contemporânea. E por isso fez um filme que angustia e pode não agradar a quem pensou que iria ver uma comédia. Porque não existe um pouco de Norman em todos nós?



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