terça-feira, 23 de maio de 2017

A Cabana


“A Cabana”- “The Shak”, Estados Unidos, 2015
Direção: Stuart Hazeldine

Se você quer ver o filme “A Cabana” e não gosta de saber sobre o filme antes de assistir, não leia essa resenha porque ela vai ter “spoilers”, ou seja, desmancha-prazeres. Mas quando tiver visto, volte aqui.
O livro do canadense William P. Young que inspirou esse filme foi um sucesso mundial. Vendeu mais de 22 milhões de exemplares, sendo 4 milhões deles só no Brasil.
Vi o filme, interessada em saber por que as pessoas se emocionam tanto com ele, apesar da crítica ter detestado.
A história envolve um personagem que teve uma infância difícil. O menino, filho de um alcoólatra violento, vê a mãe ser agredida e sente-se impotente e culpado por não poder ajudá-la.
Quando expõe para a comunidade da igreja que a família frequenta o que vê em casa, leva uma surra e, de novo, sente-se culpado por ter envergonhado o pai.
Mas, como toda criança tratada de maneira violenta, fica com muita raiva e vemos uma cena em que ele põe veneno na bebida do pai. Não sabemos se foi uma fantasia ou realidade.
Todo mundo fantasia, todo mundo sonha.
Mack, o menino do pai agressivo cresce com a culpa de ter matado, se não na vida real, mas em seu íntimo, aquele que deveria amar e respeitar.
Cresce, cria a própria família, mas sente-se em dívida. Quer ser punido.
Quando acontece o pior e sua filha pequena desaparece, eis o castigo que ele vai receber num misto de grande culpa, depressão e um certo alívio. Chegou afinal o que ele esperava que viesse. Mas que não o redime. Só o castiga, jogando-o numa depressão sombria e empurrando para uma solução fatal. Assim, não vê o caminhão vindo em sua direção na estrada e vai parar no hospital. Dias desacordado.
Perdido em seu duplo luto pelo pai e pela filha, Mack (Sam Worthington) vai sonhar que vê Deus, o Todo Poderoso que ele tacha de cruel.
Só que aquele que é o culpado de ter abandonado Mack e deixado sua filha morrer, é também aquela vizinha que o consolava na infância, com sua torta de maçã e palavras carinhosas.
Octavia Spencer, já oscarizada, faz com desenvoltura o papel de “Papa” (que é como a mulher de Mack chamava Deus) e ensina boas lições para Mack, que precisava pensar para poder sair da depressão e do luto.
E as lições que ele aprende envolvem primeiro ter que entender que ele pode se recriar, com Sarayou ( a japonesa Sumire Matsubara), depois, desenvolver confiança no outro, com o filho de ”Papa”, interpretado com simpatia pelo israelense Avraham Aviv Alush. A corrida deles sobre as águas do lago é um momento inusitado de companheirismo e alegria.
Depois disso, Mack será levado pela personificação masculina de “Papa” frente à Sabedoria (Alice Braga), para entender o senso de justiça e, finalmente, terá que se haver com a capacidade de perdoar.
Já sabemos que quem não perdoa, não será perdoado. Uma lei muito simples. O que condenamos nos outros, condenamos também em nós mesmos.
E eis que Mack é levado a refletir, e também a plateia, que somos os responsáveis por nossas escolhas. Não existe um Todo Poderoso cruel mas a maldade. E, se escolhermos a maldade, vamos arcar com as consequências.
Existe também aquilo que não podemos evitar. Nem Deus.
E isso não é desculpa para nos entregarmos à amargura. Qualquer vida aqui na Terra vai ter sofrimento, muito ou pouco. É a lei da vida. Que tem também prazeres para serem apreciados.
“A Cabana” nos reconcilia com a ideia da bondade, da força do amor, da possibilidade de procurarmos ser pessoas melhores.
Não é um grande filme mas é muito bom nas lições que ensina ou nos faz relembrar.



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