quinta-feira, 13 de abril de 2017

O Filho de Joseph



“O Filho de Joseph”- Le Fils de Joseph”, França, Bélgica, 2016
Direção: Eugène Green

“Mater certa pater semper incertus”, reza o direito romano, ou seja, a mãe sempre se sabe quem é. Já o pai... É claro que nem sonhavam com fertilização in vitro, barriga de aluguel e exames de DNA.
Mas “O Filho de Joseph” trata da questão da paternidade de outro ponto de vista, com uma história exemplar focada nas emoções da relação simbólica pai e filho.
Elegante, o filme usa de passagens da Bíblia pintadas por grandes pintores. Os quadros célebres ilustram capítulos do filme: “O Sacrifício de Isaac”, “O Bezerro de Ouro”, “O Marceneiro”, “A Fuga para o Egito”.
Estamos em Paris e um adolescente solitário de 16 anos, Vincent (Victor Ezenfis) mora com sua mãe amorosa, a enfermeira Maria (Natacha Régnier). Ele faz de tudo para descobrir quem é seu pai, já que a mãe guarda esse segredo a sete chaves.
Mas o que não descobre um garoto inteligente, obcecado por essa questão?
E a descoberta é uma decepção que motiva um desejo de vingança. Porque o pai de Vincent é Oscar Pormenor  (Mathieu Amalric), um editor de sucesso mas mau caráter e egoísta que não dá a mínima para a família ou filhos.
Ora, Vincent dorme num quarto azul real, onde está pendurado na parede à sua frente, uma réplica do quadro de Caravaggio, “O Sacrifício de Isaac”, passagem conhecida do Velho Testamento, quando Deus ordena a Abraão que mate Isaac, seu único filho, concebido na velhice e é interrompido no último momento por um anjo que segura sua mão com a faca.
Há algo naquele quadro que Vincent não consegue entender e que inspira sua vingança. Não seria o filho que deveria matar o pai negligente?
O garoto passa horas de sua vida olhando aquela cena e só vai poder comprendê-la quando encontra Joseph (Fabrizio Rongione), irmão de Oscar, o pai biológico de Vincent, deserdado pelo pai de ambos e que usa o nome da mãe. O menino não tem ideia de que ele é seu tio.
O espectador pode estranhar um certo ar teatral assumido pelos atores, que recitam seus diálogos e muitas vezes olham diretamente para a câmara. Mas esse é o estilo do diretor e roteirista Eugène Green, americano nascido em Nova York, que vive há 50 anos na França e admira a força do teatro clássico.
E há toques de humor que ficam a cargo da personagem de Maria de Medeiros, que faz uma crítica literária insinuante.
Numa visita ao Louvre, olhando o quadro de Georges de La Tour que representa o marceneiro Joseph sendo observado amorosamente pelo menino Jesus, o Joseph de Vincent diz:
“- Foi o filho que fez dele um pai.”
Co-produzido pelos irmãos Dardenne, um selo de qualidade, “O Filho de Joseph”  é um filme comovente, interessante e original. Merece ser visto. Abranda o coração.



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