sexta-feira, 21 de abril de 2017

Paterson


“Paterson”- Idem, Estados Unidos, 2016
Direção: Jim Jarmusch

O cotidiano pode ser prazeroso e belo. E quando se vive um grande amor, tudo gira em torno desse sentimento. O tempo passa rápido, voando para o encontro.
Adam Driver, com o tom certo, vive o poeta Paterson, que escreve com a naturalidade com que pensa o mundo.  Na tela, lemos seus poemas em inglês, porque como diz um personagem do filme, um poeta japonês, o ator Masatochi Nagase, ler um poema traduzido “é como tomar banho com capa de chuva.”
Paterson ama Laura, a deslumbrante iraniana Golshifteh Farahani, falante e sonhadora, que também ama Paterson. Acordam abraçados todos os dias da semana em que os vemos acordar, menos um.
Na cidade de Paterson, Nova Jersey, viveu o poeta americano William Carlos Williams (1883-1963), admirado por Paterson, que não se crê poeta mas escreve seus versos sem rima num caderno. Laura insiste para que ele faça uma cópia, porque nunca se sabe o que vai acontecer. Ele promete que vai fazer. Porque concorda com tudo que ela diz e faz. Seu amor é generoso, aconchegante e irrestrito.
Esse casal convive com um terceiro personagem, Marvin, um buldogue inglês que não gosta de Paterson porque tem ciúmes de Laura. Paterson sai com Marvin todas as noites, amavelmente obediente a Laura. E no bar toma uma cerveja enquanto o cão espera do lado de fora.
Paterson não tem celular porque não quer tecnologia em sua vida mas Laura tem telefone, Ipad e computador e entende o jeito dele de ser. Ela faz “cupcakes” e pinta tudo de preto e branco, especialmente com bolinhas, como Yayoi Kusama, a famosa e excêntrica artista japonesa. E sonha em ser cantora de música “country”. E ele gosta de tudo nela. Até do jeito infantil com que fala com Marvin, que só não rosna para ela.
“Paterson é uma homenagem à poesia dos detalhes, das variações e das mudanças cotidianas. É um antídoto ao alarde dos filmes dramáticos e de ação” disse em Cannes o diretor e roteirista Jim Jarmusch, que dedica seu filme à memória de Nellie, a buldogue que faz Marvin e que ganhou a Palma de Ouro canina e morreu logo depois do filme.

“Paterson” é um tempo de doçura e tranquilidade no cinema. Coisa rara.

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