domingo, 25 de dezembro de 2016

Capitão Fantástico


“Capitão Fantástico”- “Captain Fantastic”, Estados Unidos, 2016
Direção: Matt Ross

A primeira cena é assustadora. Um cervo pasta tranquilo na floresta. Mal sabe o que o espera. Escondida na folhagem, uma cara pintada de preto, espreita. E, sem alarde, corta o pescoço do animal com uma faca.
Não se assuste como eu. Trata-se de uma família que vive à maneira de uma tribo de selvagens. Caçam a própria comida, plantam e colhem legumes e frutas, dormem sob as estrelas e não tem laços com a sociedade de consumo.
Mas, longe de ser ignorantes, sabem muito mais do que os meninos e as meninas que vão a escolas tradicionais. As crianças dessa família aprendem com o pai e com a mãe, professores instruídos em filosofia, matemática, física, política, história, poesia e literatura. Tem acesso a uma biblioteca eclética e sabem quem é Noam Chonsky, além de falar diversas línguas.
Ben Cash (Viggo Mortensen, ótimo) zela pela saúde e treinamento de seus filhos, verdadeiros atletas, tanto os três meninos quanto as três meninas, assim como cultiva o intelecto deles.
Com a mãe, Leslie, afastada da família por uma grave doença, o pai lidera e é obedecido cegamente, porque as crianças sabem que existe amor em tudo que o pai faz com eles. São felizes.
Quando algo triste acontece, aquelas crianças vão conhecer o mundo onde os outros americanos vivem e vão se espantar em como são gordos e como colecionam coisas de que não precisam.
Na casa dos avós maternos vão entrar em contato com o jeito americano de viver e até gostar de algumas coisas.
E aí emerge um conflito entre o modo de vida que sempre conheceram e as novidades que a avó e o avô (Frank Langella, sempre perfeito) proporcionam.
O filme é divertido, original, inteligente e tem roteiro e direção de Matt Ross, que disse ter se inspirado em sua própria infância e no fato de ter se tornado pai, para fazer esse filme.
Quando recebeu o sim de Viggo Mortensem (já indicado ao Globo de Ouro), que considerava o ator ideal para interpretar o pai, tudo estava a postos para rodar seu segundo longa, que ganhou o prêmio de direção na mostra “Um Certain Régard” no Festival de Cannes.
Com uma história simples e uma boa direção, “Capitão Fantástico” levanta questões sobre o papel de pai e mãe, faz críticas aos valores de nossa sociedade de consumo, muito dependente de tecnologia e certamente condena o modo raso como estamos educando nossas crianças, sem dar a elas a capacidade de fazer escolhas diferentes em seu modo de vida.
É um filme que mostra o valor da liberdade na escolha informada do modo de viver de cada um. E que não obriga à unanimidade. Ao contrário, acolhe o que pode parecer excêntrico para alguns mas a escolha certa para outros.


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