segunda-feira, 16 de maio de 2016

Maravilhoso Boccaccio


“Maravilhoso Boccaccio”-“Maraviglioso Boccaccio”, Itália, França, 2015
Direção: Paolo e Vittorio Taviani

Um jovem pálido lança-se de uma torre. A imagem lembra as pessoas caindo das Torres Gêmeas em Nova York...
Mas estamos em Florença, Itália, no ano de 1348. A peste negra mata a torto e a direito. Nem animais escapam.
Pais enterram os filhos. Agarram-se tragicamente a eles, alucinados.
Todos tem medo de tocar um doente. Esses morrem sozinhos e depois são recolhidos por uma carroça e enterrados numa vala comum. Novamente imagens que lembram UTIs de hospitais e também a Segunda Guerra.
Mas as pessoas enlouquecidas que vagam pelas ruas de pedra da bela cidade vivem no século XIV.
Claro, tormentos fazem parte inevitável da vida da humanidade.
Mas sete moças resolvem abandonar a cidade e convidam três jovens, namorados de três delas, para acompanhá-las:
“- Estamos decididas a ter um pouco de paz...”
E, numa bela casa toscana, rodeada pelo esplendor dos campos e colinas verdes, os jovens tentam esquecer os horrores da cidade. Logo estão brincando e rindo. E combinam que cada um deles contará, a cada dia, uma história para distrair os outros.
Mas uma regra se impõe. Nada de amor. Afinal são só três pares e fariam inveja aos outros.
E, no dia seguinte, depois de uma noite ainda infestada de pesadelos, sentam-se nos bancos do jardim e uma das moças começa a contar uma história de amor. A bela Catalina, é abandonada pelo marido e levada morta para a cripta de uma igreja distante. Seu apaixonado secreto é o único que a segue.
O amor aqui é cura, ressureição. Mas, pensar no amor que sentem um pelo outro, faz um dos pares de namorados temer a morte e a separação e chorar.
E, por isso, a nova história volta-se para outros assuntos. Há trapaça, desrespeito, violência. Novamente a morte?
Para escapar de pensamentos mórbidos, nada melhor que comer e beber.
As cenas das histórias num cenário sempre teatral, com uma luz mágica, vinda das janelas ou de velas, mostram pessoas belas cercadas de uma natureza esplêndida. A idealização impera.
Mas como esquecer o desejo? E, fatalmente, o que é negado aos jovens, reaparece nas histórias. Na seguinte, um pai mata, de tanto amor que tem por sua filha.
E, novamente, precisando se esquecer do desejo, correm para o lago, onde mergulham as moças, depois de despir suas túnicas coloridas.
Mas não há como escapar e a nova história fala francamente da força do desejo numa insuspeitada abadia.
E a última história, a fábula do falcão, é a que traz à tona o amor generoso, que tudo dá, mesmo que nada mais reste.
O que querem dizer os irmãos Taviani com toda a sabedoria que acumularam em suas longas vidas?
Talvez que a vida sem amor não vale a pena. Que não adianta querer sepultar o desejo porque ele renasce. Assim como a chuva é benéfica para a terra, assim é o amor para a humanidade. Não afasta a morte porque é tão natural quanto ela.
Livremente inspirados no “Decameron” de Boccaccio, os irmãos Taviani fazem uma leitura estética dessa obra, com a cenografia, os figurinos e a iluminação, tudo a serviço de criar para a câmara, quadros renascentistas maravilhosos.

Um belo filme com uma sábia lição sobre a vida e sua inevitável fragilidade.

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