sábado, 16 de abril de 2016

Truman


“Truman”- Idem, Espanha, Argentina, 2015
Direção: Cesc Gay

Alguém pode estranhar o nome do novo filme de Cesc Gay, diretor de cinema catalão, de “O que os homens falam”, que passou em São Paulo há uns três anos, no qual também atuava Ricardo Darín.
Podem se espantar mais ainda quando descobrirem que “Truman”, nada a ver com o presidente americano, é o nome de um “bullmastiff”, cão de origem inglesa de grande porte e já velhinho, que Julián, o ator de teatro interpretado por Darín, trata como se fosse um filho.
O diretor e co-roteirista conta que se inspirou num episódio de sua vida mas que o cão do filme chamava-se Troilo.Ora, Anibal Troilo (1914-1975) foi um grande compositor de tango argentino e Darín quis convencer Cesc Gay a manter o nome verdadeiro, que lhe caia tão bem, já que o compositor também era corpulento como o cão e o filme tem tudo a ver com tango e seu personagem argentino. Não conseguiu, porque o nome Truman era uma homenagem prometida, que ficou em segredo.
Ricardo Darín ama os cachorros e era ele que tomava conta de Troilo durante as filmagens. Quando soube que ele morreu, alguns meses depois do filme ter sido rodado em Madrid, conta que chorou uma semana inteira em Buenos Aires:
“- Ficamos amigos. Ele era um cão especial. Trabalhava com crianças autistas”, explicou numa entrevista.
Mais magro e macilento, tossindo com classe e com aqueles olhos azuis expressivos, Darín, 59 anos, nos presenteia com mais uma interpretação magnífica. E o amigo Thomás é o grande Javier Cámara, 49 anos, dos filmes de Almodóvar. Ambos excelentes, os dois dividiram o prêmio de melhor ator no Festival de San Sebastian.
E o filme levou 5 das 6 indicações ao Goya, o Oscar espanhol: melhor filme, direção, interpretação masculina (Ricardo Darín), ator coadjuvante (Javier Cámara) e roteiro original (Cesc Gay e Tomás Aragay).
A história dos dois amigos que não se veem há muito tempo, começa com Thomás em Montreal, Canadá, onde mora com a família, pegando um avião para Madrid, onde vive Julián, que sofre de um câncer terminal. Durante quatro dias ele vai fazer tudo que o amigo pedir e tentar convencê-lo a continuar com a quimioterapia.
Não é fácil para Thomás, que vemos se jogar na cama do hotel com um suspiro profundo, ao final do primeiro dia com Julián.
Tinham ido ao veterinário, já que Julian se perguntava como tratar de Truman depois que ele se fosse. Do que precisaria um cão enlutado? Que perdeu seu melhor amigo? Ele procurava alguém para adotar Truman, o que não era fácil. Quem quer um cão idoso?
E Thomás se dá conta de quanto Julián ama aquele animal:
“- Thomás, eu tenho dois filhos. Um se chama Truman ”, diz enfaticamente ao amigo.
Depois vão ao médico, onde Thomás tenta convencer Julián a continuar com o tratamento, sem sucesso, porque é Julián que o convence que quer usufruir de seus últimos dias a seu modo.
Zanzam por Madrid e na livraria Thomás compra um livro sobre o comportamento dos cães e Julián um de Elizabeth Kubler-Ross, “A morte: um amanhecer”.
Mas não pensem que o filme é trágico. Longe disso. Trata do assunto com leveza e dignidade, evitando o melodrama. O humor está presente no diálogo dos dois amigos, que sabem que estão se despedindo para sempre. Há olhos marejados e emoção, sem nunca resvalar para o lugar comum.
Assistir ao filme leva-nos a pensar no assunto morte. Vai acontecer a todos nós. Com certeza. Mas não há porque perder tempo de vida só porque ela vai acabar um dia. Essa é a lição que “Truman” quer nos ensinar, mostrando que é preciso demonstrar nosso amor enquanto os seres que amamos estão vivos, sejam pessoas ou animais.

Um filme humanista.

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