segunda-feira, 11 de abril de 2016

Rua Cloverfield 10


“Rua Cloverfield, 10”- “10 Cloverfield Lane”, Estados Unidos, 2016
Direção: Dan Trachtenberg

Poucos filmes conseguem colocar a plateia em estado de alerta desde o começo. Isso acontece com “Rua Cloverfield 10”. Quem viu “Cloverfield-Monstro” de 2008 não pense que esse aqui é uma sequência, apesar do nome. O produtor diz que são filmes com certo parentesco, mais nada.
A imagem inicial mostra uma mulher jovem, visivelmente nervosa, olhando um celular que toca. Não ouvimos a conversa mas o semblante dela nos conta que ela discute com alguém.
A música de Bear McCreary faz com que o clima seja captado pelo espectador. Ansiedade, raiva, frustração.
Ela desliga e continua, às pressas, a colocar coisas das gavetas numa mala. Quando sai, deixa o anel de noivado e as chaves sobre a cômoda.
Horas depois é noite e a vemos numa estrada deserta. Para num posto de gasolina vazio. Chega outro carro. Ela sai. Continua aflita.
No carro o celular toca e ela não atende Ben mas ouve a mensagem (na voz de Bradley Cooper):
“- Michelle, fala comigo. Volta. Fala alguma coisa. Não acredito que você foi embora! Casais brigam...Fugir não é a solução.”
Ela desliga o celular. No rádio há uma notícia sobre falta de energia devido a uma explosão mas o celular toca de novo. Ela olha e é Ben insistindo.
Nesse instante, algo acontece e ela perde a direção do carro. Vidros se estilhaçam. Parece que ela foi atingida por algo e o carro despenca na ribanceira.
Na cena seguinte ela parece desmaiada. Acorda. Soro no braço. Mas aquilo não é um hospital.
Tateia a coxa e percebe que está acorrentada à parede. Está presa, numa cela de concreto.
Até agora ela não disse uma só palavra mas sentimos o pânico, como antes sentíamos a raiva e a frustração. Está ofegante. Seu olhar mapeia o lugar. Ela vê o celular e a bolsa num canto mas não consegue alcançá-los.
Lemos em seus olhos: como vou fugir daqui?
Esse início atordoante marca o que vamos ver. Uma mulher jovem  (Mary Elizabeth Winstead, ótima), amedrontada, não sabe quem a prendeu naquela cela. Quem vai entrar por aquela porta de ferro, sólida e com travas?
Tensa, ela escuta o destravar da porta e um homem mais velho, de barba e gordo (John Goodman, excelente) entra com uma bandeja com comida. E Michelle escuta que ele a tirou do carro acidentado e a trouxe com ele.
“- Meu noivo vai me procurar...Preciso ir para um hospital...”
“- Sinto Michelle, mas ninguém vai te procurar...Fomos atacados por algo que deixou o ar irrespirável. Todos morreram.”
E aí começa a história que mistura o suspense de um “thriller” com situações envolvendo medo e horror.
Mas o conteúdo psicológico é também importante. Porque Michelle vai confessar, a um terceiro personagem, que sempre fugia quando se sentia tomada por emoções fortes. Aqui ela vai passar por uma prova de fogo. Vai ter que enfrentar medos e dúvidas dos quais não consegue escapar. Vai ter que ser forte e usar tudo que pode e até o que não sabe para decidir como vai agir.
E nós nos grudamos na cadeira do cinema e enfrentamos com ela a tensão, que só cresce, com os acontecimentos inesperados e as reviravoltas do excelente roteiro (Josh Campbell e Mattew Stuecken com bons toques de Damien Chazelle, diretor e roteirista de “Whiplash”).
Competente estreia do diretor e investimento certeiro de apenas 10 milhões de dólares do produtor J.J.Abrams, (diretor de “Star Wars: O Despertar da Força”), que vai ter um ótimo retorno.

Filme inteligente com um suspense e surpresas de arrepiar.

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