sábado, 26 de março de 2016

Conspiração e Poder


“Conspiração e Poder”- “Truth”, Estados Unidos, 2016
Direção: James Vanderbilt

O pano de fundo dessa história real, acontecida há 11 anos atrás, é a reeleição de George W. Bush em 2004, para a presidência dos Estados Unidos. E tudo se passa com a equipe de repórteres do mais famoso programa de notícias da TV americana, o extinto “60 Minutos” da CBS, que tinha na época como âncora, Dan Rather (Robert Redford).
O filme, adaptado do livro “Truth or Duty - The Press, the President and the Privilege of Power”, da ex-produtora da CBS News, Mary Mapes, conta a história do ponto de vista dela (Cate Blanchett).
Um dos repórteres da equipe que produziu a reportagem com a notícia-bomba que o presidente Bush teria escapado do serviço militar para não ir para o Vietnã, conta que a produtora Mary Mapes se inteirara de tudo isso em 2000 mas que a produção do programa não foi para a frente porque Mary perdeu sua mãe naquela época. Recordem vocês que foi nesse ano a eleição de George W. Bush que concorria com Al Gore para a presidência.
Tudo se baseava em conversas e documentos que Mary conseguiu de sua fonte, que davam conta de que, embora alistado na Guarda Nacional nos anos 70, Bush não fora avaliado por não estar presente em nenhuma das ocasiões em que foram feitas tais avaliações. Ora, esse tratamento diferenciado, que não só Bush mas outros rapazes ricos conseguiram, era uma blindagem para tirá-los da lista dos que iriam lutar na guerra.
Era um escândalo para os americanos cujos filhos morreram ou voltaram estropiados física e mentalmente dessa guerra, onde o país fora derrotado pelo povo vietnamita. E tudo isso a meses da pretendida reeleição de Bush, atual presidente dos Estados Unidos, responsável pela guerra contra o Iraque.
Desde o recebimento dos documentos até conseguir produzir o programa, com atestados de especialistas confirmando sua validade, passaram-se 15 dias. Mas depois da vitória de Mary Mapes, viria um pesadelo que ela, nem ninguém, poderia imaginar.
Cate Blanchett, 47 anos, dá vida e energia à produtora do programa da CBS, encarregada de pesquisar notícias, buscar provas e conseguir fontes seguras, ajudada por uma equipe jovem que ela mesma escolhera: Mike Smith (Topher Grace) e Lucy Scott (Elizabeth Moss). Casada e com um filho pequeno, era vista como alguém que tivera uma infância difícil com um pai tirano e violento. E daí sua ligação paternal com o âncora do programa, bem mais velho que ela.
Dan Rather tinha a responsabilidade de levar a notícia ao telespectador. Era a cara do programa e confiava em Mary de quem era próximo. ”60 Minutos” gozava de grande credibilidade e era assistido por milhões de americanos. No filme, Robert Redford , 80 anos, empresta carisma necessário a essa figura lendária da TV americana.
Como “Spotlight”, o ganhador do Oscar de melhor filme do ano, que trata de jornalismo investigativo em jornal, “Conspiração e Poder” retrata o mesmo na TV. Só que aqui há uma derrota.
Mary Mapes foi demitida da CBS com sua equipe e Dan Rather aposentou-se meses depois. A notícia incomodava o poder e o destino deles estava selado. Bush ganhou as eleições.
O filme do novato James Vanderbilt tem um ritmo acelerado e trata de um assunto que não é familiar ao público brasileiro. Assim mesmo, vale a pena ver a atuação de dois grandes do cinema, mostrando que nem sempre a verdade interessa aos poderosos.
Aliás, nunca ninguém conseguiu provar que a história contada por Mary Mapes fosse falsa.

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