sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Trumbo - Lista Negra


“Trumbo - Lista Negra”- “Trumbo”, Estados Unidos, 2015
Direção: Jay Roach

A expressão “caça às bruxas” lembra o medo de bruxaria que acontecia no século XVII nos Estados Unidos, quando pessoas eram acusadas de praticar “vudu”, uma religião africana trazida pelos escravos. Essas pessoas eram julgadas e condenadas à morte, apesar de inocentes.
Por isso, foi também conhecida por esse nome a perseguição aos comunistas americanos, durante a Guerra Fria nos anos 50.
Vinte anos antes, durante a Grande Depressão e frente à ameaça crescente do fascismo, muitos americanos se inscreveram no Partido Comunista, que era perfeitamente legal. Durante a Segunda Guerra, a União Soviética foi aliada dos Estados Unidos e o Partido Comunista recebeu outros milhares de adeptos.
Dalton Trumbo (1905-1976), o mais bem pago roteirista de Hollywood, entrou no Partido em 1943. Ele era conhecido como defensor dos direitos humanos e apoiava os movimentos grevistas.
A “caça às bruxas”, que aconteceu então, foi o medo do comunismo, incentivado pelos seguidores do macartismo, ideias defendidas pelo senador Joseph McCarthy. Criou-se um Comitê de Atividades Anti-Americanas no Congresso, que acusava pessoas de subversão ou de traição, sem qualquer prova real.
Em Hollywood, a colunista Hedda Hopper (Helen Mirren) foi uma das principais incentivadoras do movimento que visava perseguir a “ameaça vermelha”, acusada de corromper os valores da democracia e desejar derrubar o governo.
Os “radicais perigosos”, como eram chamados, Dalton Trumbo e mais nove diretores e roteiristas, são convocados a depor no Congresso perante o Comitê.
Trumbo, inteligente e irônico comenta:
“- Isso é o início de um campo de concentração americano.”
Processados, “os 10 de Hollywood” foram demitidos de seus empregos sem qualquer compensação, presos e proibidos de escrever e ganhar dinheiro com o seu trabalho. Constavam da conhecida “lista negra”, que só aumentava com a delação dos próprios colegas, diretores, atores e produtores.
Trumbo (Bryan Cranston, ótimo, foi indicado ao Oscar 2016 de melhor ator), casado com Cleo (Diane Lane), sua companheira fiel, pai de três filhos, vai preso por um ano e quando sai da prisão está atolado em dívidas com seu advogado e precisa sustentar a família.
É então que, sempre com seu cigarro e piteira na mão, ele tem uma ideia fantástica. Cria uma rede de escritores de roteiro que assinavam os roteiros dele e também dos colegas da lista e dividiam os ganhos.
Algumas vezes usou pseudonimos e é famosa a história do momento em que Richard Rich ganha o Oscar por “The Brave One-Arenas Sangrentas” em 1957 e não aparece para receber a estatueta. Claro, porque ele era Trumbo, que comemorava na frente da TV com a família.
Além de brilhante em seus roteiros premiados (“Johnny got his gun”1971, “Roman Holiday - A princesa e o plebeu”1953, “Spartacus”1960, “Exodus”1960, “Papillon”1973, para só citar alguns), era um homem justo e conciliador mas sabia defender suas ideias.
Ele lutava para que todos estivessem atentos para não ceder à tentação, invejosa e prepotente, de negar a alguém que defenda suas ideias, mesmo que sejam diferentes das nossas, porque essa é base da democracia, sistema de governo que escolhemos.

Nunca é demais lembrar que em nenhum lugar estamos a salvo de uma outra infeliz “caça às bruxas”. “Trumbo - Lista Negra” é exemplar.

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