sábado, 27 de fevereiro de 2016

O Abraço da Serpente


“O Abraço da Serpente”- “El Abrazo de la Serpiente” Colombia, 2015
Direção: Ciro Guerra

Em 1909, o alemão Theodor Koch-Grunberg, etnólogo, escreve em seu diário:
“É impossível descrever em palavras a beleza e o esplendor que eu vi...Voltei de lá transformado...”
A Amazônia, sua floresta, rios, árvores, plantas, flores, animais e índios eram o centro de interesse desse homem, cujos diários inspiram o roteiro do filme do colombiano Ciro Guerra, assim como os escritos, 40 anos depois, pelo botânico americano Richard Evans Schultes. Dois homens diferentes.
Num surpreendente preto e branco, a floresta verde se reflete no espelho do rio, numa terra onde o homem branco é o estrangeiro inimigo. Um mistério envolve tudo como uma neblina.
Um índio de corpo atlético, penas nos braços fortes e colar no pescoço altaneiro, observa as araras que passam gritando, quando chega uma canoa com um índio vestido com roupas e um homem branco que parece doente. Pedem ajuda.
“- Não sou como vocês”, responde o índio. “Não ajudo homem branco.”
Mas o branco (Jan Bijvoet, ator belga) convence o índio (Nilbio Torres) que foi amigo de um xamã remanescente de sua tribo. E mostra um colar.
“- Posso levá-lo até ele. Acha que “ayakruna” pode me salvar?”
Karamakate vive sozinho em sua oca desde que sua tribo foi dizimada pelos brancos. É a primeira vez que houve falar que há sobreviventes. E por isso vai ajudar o estrangeiro. À noite, sopra um pó no nariz do alemão e diz que isso é apenas para distrair a doença. E pergunta se ele está disposto a seguir as leis da selva, durante a viagem que farão juntos.
Um salto no tempo e vemos o mesmo índio, bem mais velho (Antonio Bolivar), desenhando numa pedra. Chega uma canoa com um homem branco (Brionne Davis interpreta o botânico americano Richard Evans Schultes).
“- Pode me ver?” pergunta o índio.
“- Há 40 anos este homem esteve aqui e escreveu sobre uma planta que estou procurando” diz, mostrando o retrato do alemão. Ele ignora a pergunta do índio que introduz o mundo imaterial na história e sobre a qual o americano nada sabe.
“- A planta que procuro cresce na seringueira e curou esse europeu,” acrescentando, “eu nunca sonho. Um xamã me disse que você poderia me curar.”
Oferece duas notas de dólar para o índio que ri:
“- Formiga é que gosta de dinheiro. Eu não. Gosto ruim.”
O velho índio, que esqueceu quase tudo da vida dele e por isso crê que é um “chullachaqui”, não mais um homem mas um duplo vazio e por isso pensava que era invisível, segue na canoa com o branco em busca da “ayakruna”. Mas será que é isso mesmo que o americano procura?
Vamos nos perder com eles no rio, ora manso ora bravo, com suas corredeiras e a mata fechada sempre colada às suas margens. Vamos encontrar índios maltratados nas Missões, seringueiros mortos em lutas com os índios, ambos explorados pelos barões da borracha, extraída da seringueira.
Vamos conhecer as cores lisérgicas do “Sonho da Anaconda”, viagem iniciática provocada pela “ayakruna”, planta rara e sagrada, que nasce agora só no alto da “Oficina dos Deuses”, grandes pedras no meio da floresta. Ela inspira sonhos que são o caminho a ser seguido, acreditam os índios.
“O Abraço da Serpente”, dirigido com inspiração por Ciro Guerra, é o representante da Colombia no Oscar 2016. Ganhou o prêmio da Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes. Revela uma Amazônia que não conhecemos e foi perdida. Uma tragédia para a humanidade.

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