quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O Clube



“O Clube”- “El Club”, Chile, 2015
Direção: Pablo Larrain

Existem assuntos perigosos. Há que ter maturidade para mexer com eles. Foi o que aconteceu com o filme “O Clube”.
Pablo Larrain, diretor chileno, 39 anos, ganhou o Urso de Prata ou seja, o Grande Prêmio do Júri, no Festival de Berlim em fevereiro de 2015, com seu último filme. A crítica já tinha recebido bem o anterior “No”, que ganhou  em Cannes o prêmio da Quinzena dos Realizadores, o prêmio do público na Mostra de São Paulo e foi finalista no Oscar para filmes estrangeiros.
Mas, foi “O Clube” que alçou Pablo Larrain à seleta comunidade dos grandes cineastas contemporâneos, com excelentes críticas em Berlim.
A história, escrita por Larrain, Guillermo Calderón e Daniel Villalobos, se passa numa cidadezinha litorânea no Chile, “La Boca”, escura, pobre e destituída de encantos. O mar cinzento parece gelado e as areias da praia são negras. Mesmo quando o sol brilha, o vento cortante não deixa que ele aqueça aquele lugar esquecido do mundo.
Dentro da casa amarela, no alto da encosta próxima ao mar, é tão escuro, que mal identificamos os personagens que lá habitam. São quatro homens idosos, sentados à mesa do jantar. Comem silenciosos. Uma mulher mais jovem, está entre eles.
O mar ruge, lá embaixo na noite.
De dia, vemos esses homens (Alfredo Castro, Jaime Vadell, Alejandro Goic e Alexandro Sieveking) andando acompanhados de um galgo. A mulher (a excelente Antonia Zegers, mulher do diretor) desce a colina, com o cachorro pela coleira, e se aproxima de outras pessoas, também com cães. Vai haver uma corrida.
Da encosta, os quatro homens acompanham os acontecimentos com binóculos e comemoram sem alarido. O cão deles, Rayo, ganhou.
“- Com essa, já temos 400 mil. Vamos correr a regional e depois Santiago”, diz o homem que se ocupa com os treinos do galgo na praia negra.
Mas, um novo morador chega na casa:
“- Talvez alguns de vocês conheçam o padre Matias. De agora em diante, fará parte dessa comunidade”, diz o padre que trouxe o homem grande, de cabelos grisalhos revoltos e barba.
Aquela que se intitula irmã Monica, recebe o recém-chegado:
“- É uma casa de meditação. Muito importante para a Igreja”, fala ela, enquanto passa para o padre Matias Lazcano (José Sozo), as regras que ele deve obedecer. Não poderá ir ao povoado, a não ser em horários determinados e sozinho.
“- É absolutamente proibida a comunicação com alguém de fora.”
“- Não sei por que me submeter às mesmas regras que eles. Não cometi pecado. Não sou homossexual. Tive um probleminha...”
É só nesse momento que nos damos conta de que os personagens são padres excomungados da Igreja Católica, que praticaram delitos, tais como pedofilia, corrupção política e tráfico de bebês. Naquela casa a negação é regra, aliada à mentira e à falsidade. Entre eles, ninguém é culpado de nada.
E é justamente a chegada do padre Lazcano que vai deflagrar uma tragédia, lançando uma luz indesejável sobre aquelas pessoas escondidas do mundo.
Um jovem jesuíta virá com uma missão mas os acontecimentos se precipitarão e outro caminho terá que ser escolhido.
Larrain disse numa entrevista:
“- Fui educado em escolas católicas. Dos padres que eu conheci, alguns permaneceram homens honrados, respeitáveis. Outros estão na prisão ou tem problemas legais. E outros ainda, estão perdidos. O filme é sobre os que se perderam”. E acrescenta que “O Clube” é um filme sobre “amor, paixão e redenção”.
Quem gosta de acompanhar os grandes filmes, elogiados pela crítica séria, não pode perder esse último trabalho de Pablo Larrain, que ainda vai dar muito o que falar, por causa de seu talento.

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