segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Lulu, Nua e Crua


“Lulu, Nua e Crua”- “Lulu Femme Nue”, França, 2013
Direção: Sólveig Anspach

Atrapalhada, ela ajeita-se no espelho do banheiro, sem na realidade mudar em nada sua aparência comum. Um batonzinho, cabelos num coque, franja e um olhar baixo.
“ - A senhora está no banheiro dos homens”, informa um deles, achando graça na cara que ela faz. Murmura desculpas mas, desajeitada, leva tempo para recolher suas coisas. Outro homem entra e ela se adianta:
“- Já sei. Me enganei...”diz tímida.
A cena mostra que ela está nervosa porque tem uma entrevista para um emprego de secretária. E vê-se que, beirando os 40 anos e sem nenhuma experiência, ela não está segura de si mesma.
Frente ao dono da empresa, que dá pouca atenção a ela,  repete frases entrecortadas, já que o telefone toca sem parar e o homem atende a todos, negligente quanto à presença dela.
“- Mas ajudar seu marido na oficina mecânica não lhe basta?”
A pobre dá-se conta de que não vai haver emprego nenhum por ali. Mas o homem acrescenta:
“-Quer um conselho? Da próxima vez, cuide mais de sua aparência. Isso é importante numa entrevista de emprego.”
E lá se vai ela, cabisbaixa, dar a notícia ao marido, que já deixou três mensagens zangadas no celular dela.
Lucie (Karin Viard, excelente) que todo mundo chama de Lulu, parece ser uma mulher que cuida dos filhos e do marido mas não consegue sentir-se valorizada.
Quando ela perde o último trem para Angers, onde mora, a 50 km dali, hospeda-se num hotelzinho barato. E essas parecem ser as primeiras horas de sua vida, como ela mesma.
Tira a aliança para passar um creme nas mãos e inebria-se com o perfume. Não está acostumada a luxo nenhum. E quando seu olhar cruza com sua figura no espelho dá a impressão de que ela se vê pela primeira vez. Enrolada na toalha, adormece saboreando o espaço só dela, algo que não sabe o que é, mas que lhe dá prazer.
Pela janela, no dia seguinte, vê o mar e vai andar pelos rochedos onde o mar se quebra.
Ela ainda não sabe, mas encontros inesperados vão fazer Lulu mudar de atitude frente à vida. Ela vai descobrir qualidades em si mesma que estavam adormecidas.
Nua? Sim, ela vai mostrar seu corpo que enfrentou o frio da água do mar, sem pudores bobos. Um homem (Buli Lanners) vai apreciá-la e cuidar dela.
Mais além, uma senhora de 90 anos (Claude Gensac) gosta de sua presença e uma mocinha (Nina Meurisse) vai precisar de um empurrão para realizar seus sonhos.
O mais importante para Lulu é desvencilhar-se dos papéis de mulher e mãe mal amada, desnudando-se do que já não lhe servia e adotando uma atitude mais segura de si mesma. Finalmente, ela sabe o que não quer.
A diretora islandesa, 54 anos, Sólveig Anspach, ganhou o César de melhor roteiro adaptado de 2015 por “Lulu, Nua e Crua”, baseado numa história em quadrinhos de Étienne Davodeau. O filme teve 500.000 espectadores na França.
A diretora tinha um câncer contra o qual lutava há tempos e, infelizmente, faleceu em agosto de 2015, em sua casa no sudeste da França. Montava seu último filme, “L’effet Aquatique” que estreia em 2016.
“Lulu, Nua e Crua” é um filme doce, feminino que acompanha o desabrochar da personagem principal com um olhar simpático e sensível.

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