terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O Abutre



“O Abutre”- “Nightcrawler”, Estados Unidos, 2014
Direção: Dan Gilroy

Ele se esconde na noite. Fareja, ataca e vende por migalhas os restos roubados: fios de cobre, arame, tampas de bueiro.
Lou Bloom (Jake Gyllenhaal) está desempregado e não consegue quem lhe dê trabalho:
“- Não vou empregar um ladrão”, diz o homem que compra os produtos que o rapaz humilde fornece. Ele não esboça reação, com um sorriso fixo e aprendido com o propósito de agradar.
Mas o rosto de cera, olhos que parecem não piscar, cabelo engomado e costas curvas vão sofrer uma drástica mudança de porte, quando ele parar na estrada para olhar um desastre.
Com seu jeito de parecer invisível no escuro, ele olha os corpos ensanguentados. Mas não há resquício de piedade, nem sentimento de solidariedade. Lou Bloom fareja presas. E o aparecimento de um grupo de homens que filma os restos da tragédia acontecida para vender aos noticiários de TV, ilumina sua mente. Encontrou o que buscava. E ele aprende depressa.
À noite, de carro, com o assistente que escuta com ele o rádio da polícia e o conduz com os mapas do GPS pelas ruas de Los Angeles, ele quer ser sempre o primeiro a  chegar no local das tragédias urbanas. São elas que alimentam todo dia, os noticiários da TV. Ele agora vai roubar cenas sangrentas para vender e subir na vida.
Lou Bloom, “O Abutre” do título do filme, vai se tornar um importante provedor de imagens chocantes para os espectadores ávidos por dramas acontecidos na cidade. Enquanto tomam seu café da manhã, alimentam-se morbidamente com a desgraça alheia. E há nisso um sentimento de alívio que todos conhecemos.
Para o psicopata Lou Bloom, a tragédia, o sangue, os corpos sem vida, são apenas material para ser filmado e trocado por dinheiro e sucesso. Ele quer subir na escala social. E sua “escada” é Nina (Rene Russo, ótima), a cínica produtora de um programa de notícias matutinas que sabe o que o público quer ver.
O diretor e roteirista Dan Gilroy consegue montar um clima que vai num crescendo obsessivo e hipnotizante para a plateia.
Jake Gyllenhaal mostra que continua o ótimo ator que ganhou um Oscar por “O Segredo de Brokeback Mountain”. Ele está fantástico no papel e já consta de todas as listas de melhores do ano.
“O Abutre” é uma crítica ácida à sociedade de consumo em que vivemos, que engole fascinada o horror que acontece com os outros.

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