domingo, 13 de abril de 2014

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho


“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, Brasil, 2014
Direção: Daniel Ribeiro

A adolescência é um periodo trágico para a maioria dos seres humanos. Insegurança, humor alterado, medos, sensação de não ser compreendido, problemas na aceitação de um novo corpo, auto-imagem destorcida e por aí vai.
Pois bem. Imaginem se o adolescente for cego. Piora, não?
No fim das férias, vemos Giovanna (Tess Amorim) e Leonardo (Guilherme Lobo) à borda da piscina, com muita preguiça e calor, conversando sobre namoro:
“- Dormindo e ouvindo Beethoven dias inteiros, acho que você nunca vai beijar ninguém...” diz Giovanna.
“- E quem vai querer me beijar?” responde Leonardo.
Para Leonardo o mundo está sempre no escuro. E ele tem que depender dos outros para fazer a maior parte das coisas que todo mundo faz sozinho.
Giovanna, sua melhor amiga, escolta ele todo dia da escola para a casa dele, abre o portão com a chave e volta dois quarteirões para a casa dela.
Na sala de aula sentam lado a lado. Leonardo, com o barulho que fazem as teclas de sua máquina de escrever em braile, é um prato cheio para os outros meninos caçoarem dele.
Em casa, pai e mãe são super-protetores não deixam ele em paz:
“- Parece que eu tenho cinco anos de idade...” reclama Leonardo.
Mas ele se abre mais com a avó (Selma Egrei), para quem pergunta sobre o namoro dos pais e a vida amorosa dela com o avô. Papos gostosos que divertem os dois.
O garoto anseia por liberdade e sonha em fazer intercâmbio através de uma agência especializada em cegos. Quer ir para um lugar onde ninguém conheça ele.
Mas mais que descobrir o mundo, o que não faz muito sentido para ele, Leonardo quer descobrir-se.
E não é um deprimido. Quer conhecer o amor mas não dispõe de visão. Como encontrar um alguém que desperte nele tudo que está a ponto de explodir?
Mas quando chega Gabriel (Fabio Audi), o novo aluno da sala, tudo vai mudar para Leonardo.
Com muita delicadeza, o diretor e roteirista paulista, Daniel Ribeiro, em seu primeiro longa, acerta no tom com que lida com assuntos que poderiam ser difíceis.
A cegueira não vai impedir Leonardo de explorar sua sexualidade. E é aqui que sentimos a força do talento, não só de Guilherme Lobo, que vive o garoto cego com perfeição mas o modo como o diretor vai levando o espectador a identificar-se e torcer pelo personagem.
Há um frescor e alegria nas descobertas, que faz com que o filme emocione até o mais renitente dos conservadores.
Em Berlim, o filme ganhou o “Teddy Award”, que é dado ao filme que melhor tratou de questões das minorias gays, levou também o prêmio de Melhor Filme da Mostra Panorama pelo FIPRESCI, o júri da crítica internacional e o 2º lugar do Prêmio do Público na Berlinale 2014. Fez bonito.
Você merece ver “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. Não vai se arrepender.

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