segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Inch'Allah



“Inch’Allah” – Idem, Canadá/França, 2012
Direção: Anais Barbeau-Lavalette

Toda guerra é difícil para os seres humanos envolvidos nela. Toda guerra é cruel com os homens e mulheres de ambos os lados do conflito. E, no entanto, as guerras continuam a existir e a fazer manchetes nos noticiários.
A que opõe israelenses e palestinos é uma guerra que se estende por anos a fio, tem um contexto histórico complicado e não parece que vai ser resolvida tão cedo.
Pior, fará inúmeras vítimas ainda e muitas famílias ficarão enlutadas.
O filme franco- canadense “Inch’Allah” comove e assusta.
Vemos o que se passa entre Israel e o campo de refugiados palestinos em Ramallah, pelos olhos de uma médica obstetra canadense, que mora em Jerusalém e trabalha na clínica da ONU, situada do outro lado do muro que divide os territórios.
Ela vive no mesmo prédio onde mora sua amiga israelense Ava (Sivan Levy) que trabalha, como militar, na fronteira que separa os dois povos, nessa guerrilha diária, onde um diz que se defende atacando o outro. A médica tem que enfrentar todo dia, ida e volta, esse ponto tenebroso.
Ava, a israelense, é baixinha, amorosa e quando está com sua amiga Chloé, parece que consegue divertir-se como qualquer garota de sua idade. Na fronteira, onde filas enormes se formam do lado palestino e há revolta no ar, Ava tenta fazer o possível para acalmar os ânimos. É firme na revista e na observação rigorosa dos documentos mas sente-se uma delicadeza nela.
Chloé ( Éveline Brochu) é uma jovem problemática. Faz seu trabalho com carinho, atendendo as mães com seus bebês na clínica dirigida pelo médico francês Michael (Carlo Brandt). Mas guarda algo melancólico, que não é de agora, em seu coração. O rosto dela está quase sempre crispado e o cabelo em desordem esconde os olhos sempre baixos. É de falar pouco.
E, no entanto, quanta feminilidade na cena em que pinta a boca de Rand (Sabrina Ouazan), sua amiga palestina grávida do primeiro filho, com o batom que Ava mandou como um presente. Um gesto amigável entre mulheres, que consola do ódio diário com que convivem.
Chloé não consegue resolver seus próprios problemas. E, talvez por isso, envolve-se de maneira louca com uma guerra que não é dela.
“- Essa não é sua guerra”, dizem os dois lados a Chloé.
Mas ela não ouve. Nos diálogos com a mãe no Canadá, pelo computador, sente-se que ela não está bem, não tem um lugar para chamar de seu, está perdida mas não sabe.
A diretora e roteirista canadense Anais Barbeau-Lavalette, em seu segundo longa, lida com um assunto que é um campo minado. Com a ajuda do pai, o fotógrafo Philippe Lavalette, que consegue imagens que falam mais do que mil discursos, a diretora nos coloca frente a frente com o perigo do envolvimento impulsivo com questões perigosas. Mas também acena com esperança.
A última cena do filme, algo quase à parte, conta uma parábola sobre um futuro possível, através dos olhos de uma criança.
“Inch’Allah” é um filme duro mas sensível.

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