domingo, 15 de dezembro de 2013

Como Não Perder Essa Mulher


“Como não Perder essa Mulher”- “Don Jon”, Estados Unidos 2013
Direção: Joseph Gordon-Levitt

As imagens que aparecem na tela são atropeladas e os sons atordoantes. Programas de TV, desenhos animados, lutas, garotas com pouca roupa. O título original, “Don Jon”, aparece pulsando. Nem precisa dizer que a tradução para o português, que não tem nada a ver com o filme, foi escolhida para trazer público para o cinema.
Mas, mesmo assim, cuidado. O tema, pode assustar pessoas conservadoras. O protagonista, interpretado pelo próprio diretor e também roteirista de seu primeiro filme, Joseph Gordon-Levitt, começa dizendo:
“- Sim, não vou mentir. Nessa hora, a única coisa que existe no mundo é aquele peito, aquela bunda...”
Ele olha a tela do computador, onde passa um filme pornô, que vemos de relance. Pega um lenço de papel da caixa e depois joga no lixo.
“- Me interesso pelo meu corpo, meu ap, minha família, minha igreja, minhas garotas e meus pornôs. Estou sendo sincero. Por que me chamam de Don Jon?”
Ele parece que não sabe, mas vive em função da pornografia.
Toda noite vai a um clube pegar garotas. Entre amigos (Rob Brown, o Bobby e Jeremy Luke, o Danny), dão notas de 1 a 10 para as meninas e Don Jon, invariavelmente, dança com a de melhor nota, se esfrega, leva para o sofá, para o táxi e para a cama. Só que, depois da transa, sente um apelo irresistível e vai se satisfazer vendo um pornô.
Para tudo recomeçar metódicamente no dia seguinte. Aliás, ele tem mania de limpeza. Faxina o ap como ninguém.
Sua rotina não seria completa sem a macarronada aos domingos com o pai, machista mal-educado, a mãe, que sonha com netos (Tony Danza e Glenne Headly, ótimos) e a irmã, muda, sempre navegando no celular e a TV no futebol aos berros. Tudo isso precedido de uma ida à igreja com toda a família, para confessar seus pecados. Sempre os mesmos, variando as quantidades.
No trânsito ele é irritadíssimo.
Até que surge ela, Barbara Sugarman (Scarlett Johansson) num vestido vermelho provocante e com aquela boca, emoldurada por longos cabelos louros.
“- É a mulher mais linda do mundo”, exclama Jon de queixo caído. E vai para cima dela. Só que na hora do táxi, ela vai embora sózinha, fazendo beicinho de um jeito que deixa Jon mais encantado ainda.
Apresenta a bela à família e ela conquista a todos. Netos à vista!
Tudo estaria no melhor dos mundos, se o inesperado não acontecesse. Não consegue dispensar o ritual pós-transa e Barbara fica ultrajada.
Por que será que a pornografia tem um apelo irresistível para Jon? Não seria porque ali ele controla tudo e é dono de seu gozo do jeito que ele quer? E, mais importante, não corre o risco de se fragilizar com sentimentos?
Nada contra a pornografia, se isso não estimulasse seu medo de se envolver com mulheres reais.
O que ele parece não saber é que o sexo depende muito mais do cérebro e da imaginação. Para não falar da auto-estima.
Para Jon não adianta ter na cama a mulher nota 10, a mais atraente no visual e depois se deparar com uma manipuladora que usa o sexo para controlar e mandar nele.
Nos dois vemos o mesmo problema. Superficialidade. Não há tranquilidade em lidar com gente real, nem vontade de aprofundar a intimidade. Teriam que sair desse cenário de acrobacias, corpos perfeitos e egos avantajados.
Julianne Moore, como Esther, vai ensinar uma ou duas coisas para Jon.
O filme é engraçado, bem editado e com ótimos personagens vividos por bons atores. Mas não é para todo mundo porque os mais conservadores e puritanos vão só condenar as imagens do filme, sem pensar na mensagem. Uma pena.

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