segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Camille Claudel 1915


 “Camille Claudel 1915”- Idem, França, 2012
 Direção: Bruno Dumont

Juliette Binoche é uma estrela. Daí a possibilidade de filmar com todos os diretores de cinema que ela admira. Dessa vez, o escolhido foi Bruno Dumont, que fez dela Camille Claudel (1864-1943), na época em que já estava internada no hospício, onde ficou dos 49 aos 79 anos, quando morreu.
Não foi fácil para ela. Bruno Dumont é um diretor exigente e original. Para compor a personagem, Binoche não tinha nada além das cartas que Claudel trocou com Auguste Rodin, de quem tornou-se amante aos 20 anos.
O romance teve um final deplorável. Camille fez um aborto, Rodin não se separou da mulher, houve um escândalo e a artista, que também era escultora, destruiu obras do amante e as dela. Por isso são raros os museus que possuem esculturas de Claudel.
Dizem alguns que Rodin se aproveitava do talento dela para que suas obras fossem finalizadas. Outros ainda vão mais longe e dizem que era ela quem na verdade fazia muitas das obras que ele assinava. Ninguém jamais saberá a verdade.
Essa história foi contada no cinema pelo filme “Camille Claudel” interpretada por Isabelle Adjani em 1988, dirigida por Bruno Nuytten.
Diz Juliette Binoche sobre a loucura de Camille Claudel:
“O homem que ela mais amou na vida virou seu maior inimigo. A crise de paranoia dela foi gerada pela solidão, pela pobreza e pela traição que sofreu.”
Como cenário para o seu filme, Bruno Dumont escolheu um hospício verdadeiro, onde Juliette Binoche conviveu com pessoas internadas que sofriam de diversos distúrbios mentais.
Foi difícil mas a experiência, além de “visceral”, como ela a descreve, foi um presente para o seu público. Porque a atriz encarna Camille Claudel com um talento e sensibilidade raros.
É extraordinário vê-la fazer dois grandes monólogos, nos quais alterna lucidez e delírios sobre Rodin tê-la envenenado e poder continuar a fazê-lo. Uma fragilidade extrema está estampada em seu rosto muito pálido, com olhos que escurecem para olhar dentro de si mesma e escapar ao horror da convivência com os gritos, choros e expressões daquelas pessoas loucas ao seu redor.
“Um filme como esse esvazia o ator,” disse ela.
Porque exige uma entrega total, a ponto da própria Binoche pedir que fosse assistida durante toda a filmagem, com medo de enlouquecer como sua personagem.
Foi escolhido o ano de1915 para o filme porque foi quando o irmão de Camille, o escritor católico famoso, Paul Claudel, vai visitá-la no hospício.
A expectativa de liberdade se desmorona para Camille, ao encontrar no irmão um muro intransponível. Ela perde toda e qualquer esperança de sair dali e se entrega a uma aceitação de seu destino, magistralmente sugerida por Binoche na cena final.
Um filme difícil de assistir mas, também recompensador, porque raras vezes veremos outra interpretação da qualidade da Camille Claudel de Juliette Binoche.
Uma atriz excepcional.

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