terça-feira, 15 de maio de 2012

Mistérios de Lisboa




“Mistérios de Lisboa”- Idem, Portugal/França, 2010
Direção: Raul Ruiz (1941-2011)


Ver o filme “Mistérios de Lisboa” é como entrar numa máquina do tempo e voltar a Portugal no século XIX.
Em um redemoinho de imagens preciosas, ficamos conhecendo histórias rocambolescas de filhos ilegítimos, amantes secretos, casamentos de fachada, padres com passado enigmático, freis que se encerram em conventos para se mortificar de uma vida de libertino, cartas perdidas, amores incendiários e tudo que a natureza humana esconde quando é reprimida.
Dirigido pelo chileno Raul Ruiz, que morava em Paris e lá morreu em agosto do ano passado com 70 anos, “Mistérios de Lisboa” foi aclamado em festivais do mundo inteiro.
Passou na última Mostra de Cinema de SP para uma plateia estrelada, onde se viam desde atores globais a autores de renome, até quase toda a inteligência paulista. Todos em silêncio interessado durante as quase 5 horas do filme.
Inspirado no romance homônimo de 1854, de Camilo Castelo Branco, escritor português que nasceu em 1825 e suicidou-se em 1890, “Mistérios de Lisboa” é um painel, com tintas de novela, da história e da vida sentimental portuguesa. Dá conta de metade do século XIX e visita o XVIII, extrapolando o tempo e nacionalidades, para mostrar o coração humano que sempre vai chorar amores proibidos e contrariados ou a ausência dele na frivolidade e frieza da vida de certos seres humanos.
O filme começa mostrando ladrilhos portugueses que vão sugerindo a história, antes mesmo que ela seja contada. Assim, uma arara presencia uma conversa num salão, uma gôndola em Veneza leva um casal romântico, um fuzilamento envolve um pelotão de soldados e prisioneiros de guerra, uma casa arde em chamas.
E o narrador assim começa a história:
“Eu tinha 14 anos e não sabia quem eu era... Todos os meninos tinham sobrenomes, férias, passeios e presentes. Eu, não.”
No internato, “João” descobre que era, na verdade, filho de uma Condessa, infeliz no casamento, chama-se Pedro da Silva e Padre Dinis, seu protetor, que o menino sempre pensara que era seu pai, vivera várias identidades na vida e guardava enigmas que mudarão sua posição no mundo.
A fotografia deslumbrante de André Skankowski realça os belíssimos figurinos e cenários de Isabel Branco.
E a câmara dança em torno aos personagens, não se mantendo estática, como se pudesse ajudar a desvendar mistérios, através de seus ângulos originais.
De vez em quando percebe-se uma nota dissonante, um algo que não se encaixa. É a assinatura de Raul Ruiz.
No elenco de atores portugueses e franceses destacam-se Lea Seydoux, como a vingativa Blanche de Montfort e a bela Maria João Bastos que faz a mãe de Pedro, vivido na infância por um comovente João Luis Arrais e Adriano Luz que faz Padre Dinis.
O próprio Raul Ruiz, comentando seu filme, disse:
“- Busco criar emoção, por isso apostei num filme que tem espaço para respirar e pensar.”
Se você gosta disso, corra para ver “Mistérios de Lisboa”.


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